terça-feira, 22 de dezembro de 2009

NO JOGO DA VIDA





Se a bola vier de jeito, 
emplaque...
Se a carta não for seu naipe, 
descarte...
Se a jogada for decisiva, 
xeque-mate!

Se der para concluir o ataque, 
enterre...
Se a decisão for no bater de mão,
não erre...
Se acaso a peteca cair,
sossegue!

Se a tacada final não der caçapa, 
chore...
Se a corrida trouxer medalha, 
comemore...
Se tiver a musculatura cansada,
namore!

Afinal,
O que mantém o espírito vivo 
é a chama.
Numa competição,
autoridade pertence ao árbitro,
Porém, na vida, 
só exerce domínio no jogo, 
quem ama.

P.s. Poema escrito para meu amigo Márcio, esta figura maravilhosa no canto direito,  cujo niver é 22/12.  Ele é professor de Educação Física, maratonista,  árbitro de basquete, etc, etc.  Ah, é também solteiro convicto!

domingo, 20 de dezembro de 2009

MEU NATAL INESQUECÍVEL

Era 24 de Dezembro, por volta das 18:30h. Naquela momento eu estava acelerada a secar os cabelos, com os minutos contados para chegar à casa espírita onde faria uma apresentação com o coral,  no culto de Natal. Havia ganhado o direito de executar um solo, acompanhada de um colega violonista. Era meu primeiro solo; estava exultante além de muito tensa.

O telefone tocou. Um dos meus filhos atendeu e a voz do outro lado pediu para falar com a dona da casa. Quando atendi,  uma senhora falou:
- Desculpe incomodar a esta hora e neste dia. Estou num orelhão,  disquei aleatoriamente o número que me veio à cabeça e caiu em sua casa. O problema é que tenho uma família muito pobre e prometi à meus netos que faria um almoço especial amanhã e até o momento nada tenho para cumprir minha promessa. Para falar a verdade, não tenho nem para o almoço básico de qualquer dia. A senhora não me conhece, eu sei, mas  gostaria muito de poder contar com sua ajuda.

Confesso ter ficado sem palavras. Ao mesmo tempo, um sentimento diferente manifestou-se em  meu coração, tomando o lugar da melancolia que sempre o assola nas proximidades dos festejos de fim de ano. Perguntei àquela senhora em que bairro morada e ele me indicou um da região noroeste da Capital. De antemão, avisou que se eu não pudesse me deslocar até lá ela me encontraria no terminal da Praça A,  em Campinas. Assim combinamos um encontro para o dia seguinte, 25 de dezembro,  às 09:00h.

À partir daquele momento empreendi uma corrida contra o tempo. Fui verificar o que possuía no freezer, dispensa, para que pudesse montar uma cesta natalina digna. Além disso, havia perguntado à senhora quantos netos possuía, sexo e idades. Quis providenciar também  alguns brinquedos e para tanto, recorri aos armários dos meus filhos que auxiliavam-me na escolha daquilo que podia ser doado. Como não tinha todo o necessário, fiz ainda uma pequena lista para que meu marido corresse ao supermercado, adquirindo o complemento. Após essas providências, fui a apresentação do coral, juntamente com minha família assistí o culto natalino, participamos de uma modesta ceia  na residência de minha irmã e retornamos para casa, onde eu ainda embalaria as doações, cuidando, especialmente,  dos pacotes de brinquedos para as crianças.

No dia 25 de Dezembro, nos dirigimos à praça A no horário combinado. Paramos o carro nas mediações e fui em busca da senhora,  da qual desconhecia qualquer detalhe da fisionomia. Ao atravessar a rua que circundava à praça, vislumbrei a figura de uma idosa  humilde, próxima à catraca de entrada, segurando a mão de um menino. Meu coração disparou, identificando com seus olhos  aquela que havia ligado na noite anterior. Nos cumprimentamos e eu os guiei até onde o carro se encontrava estacionado. Apresentei meus filhos,  meu marido e abri o porta-malas do carro cheio de  sacolas com os donativos. Aquela senhora e seu neto caíram em pranto. Haviam imaginado que eu doaria somente gêneros alimentícios para o almoço daquele dia. Ficamos tomados pela emoção. Perguntei se não queria que a levássemos em casa, pois seria difícil conduzir  tantas sacolas através do transporte coletivo.  Ela agradeceu e disse que eu já tinha feito muito, explicando que morava próximo à parada do ônibus do bairro. Buscaria ajuda lá. Auxiliamos na condução  dos donativos até a entrada do terminal e nos despedimos. Ela não se cansava de agradecer a nós pela generosidade. Eu não me cansava de agradecer a Deus pela oportunidade de ser útil, de amenizar no  meu coração aquela sensação de vazio.

Naquele ano, tive um  Natal feliz,  embora  no  meu íntimo persistisse o desejo que,  momentos como aquele e tantos outras semelhantes, comuns em nosso cotidiano,   fossem banidos de uma sociedade constituída de irmãos, filhos do mesmo Pai. Por muito tempo, a imagem daquela senhora e seu neto, num misto de risos e lágrimas, provocavam um aperto em minha garganta. O mesmo que senti agora, passados tantos anos, relatando meu conto de Natal.

"Um jeito mais manso de ser e falar
Mais calma, mais tempo pra gente se dar.
Me diz porque só no Natal é assim?
Que bom se ele nunca tivesse mais fim...


Que o Natal comece no seu coração,
Que seja pra todos, sem ter distinção.
Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for,
O melhor presente é sempre o amor...

Se a gente é capaz de espalhar alegria,
Se a gente é capaz de toda essa magia,
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia."
(Trechos da música Natal Todo Dia - Roupa Nova)

domingo, 13 de dezembro de 2009

MULHER-TORA


Há um tipo de mulher muito em moda atualmente: A mulher-tora. Ela é encontrada facilmente nas academias de musculação, malhando pesado no intuito de esculpir e desenvolver músculos avantajados, chegando, as mais exageradas, a adquirir um porte físico masculinizado.

No entanto, no meu conceito, existe outro tipo de mulher-tora. Eu convivo com uma desta categoria há mais de 40 anos, embora ela tenha começado a delinear a musculatura de sua alma por volta de 22 anos atrás, quando tinha 19 anos. Naquele tempo, ainda com aspecto físico de menina pela adolescente que era, alimentava sonhos como qualquer mocinha da sua idade. O início do seu treinamento deu-se com uma gravidez inesperada, sendo que a partir de então ela abriu mão de muitos dos planos que fizera, para assumir sozinha a criação daquele filho. Recusou veementemente o rótulo de "mãe-solteira", declarando de peito aberto: Sou mãe! Assumiu essa maternidade com responsabilidade e maturidade de mulher feita. Lembro-me claramente do dia em que o Rafa nasceu: Tocaram a campainha naquele 30 de janeiro de 1987, quando abri a porta, lá estava ela, com o líquido amniótico escorrendo pernas abaixo, dizendo: - Chegou a hora, leve-me para a maternidade! Estive presente naquele momento de alegria e promessas de vida nova. Fui agraciada com o convite para ser madrinha do seu filhote, a quem muito amamos e de quem muito nos orgulhamos pela honradez e caráter que possui.

Por volta dos 35 anos, ela foi obrigada a suportar mais uma carga no seu treinamento emocional. Um câncer de mama - que ela jamais aceitou ser denominado de "aquela doença" - de um tipo muito agressivo manifestou-se para nosso medo e preocupação. Ela também teve essas sensações, contudo, naquele momento, segurou a barra e não se permitiu demonstrar fragilidade. Assim, com toda força e coragem eu a vi entrar para a sala de cirurgia; eu ouvi sua voz, logo após o resultado da biópsia, dizendo-me que o tumor era maligno; eu a vi enfrentar as sessões de quimioterapia e radioterapia sem reclamações ou lamúrias, recusando as licenças médicas a que tinha direito. Senti-me agraciada, desta vez, por servir de apoio naqueles momentos de sofrimento e luta, acompanhado todo o processo de recuperação, que, principalmente por sua fé, tornou a cura uma realidade.

Fazia pouco tempo de recuperação daquela cirurgia, quando outro problema de saúde veio nos preocupar novamente, Agora era o útero. Por causa do desejo de ser mãe mais uma vez, ela protelara a retirada de um mioma, que com o uso dos medicamentos para tratamento da doença anterior, aumentara consideravelmente, não restando outra opção que não fosse a histerectomia. Enquanto outras mulheres da sua faixa etária e nas mesmas condições se  desesperariam ante a possibilidade de uma cirurgia daquela natureza, esta mulher abusava da sua força, dizendo à médica responsável: - Tira tudo o que for necessário; não quero problemas futuros. Resumo: Como os ovários haviam sido afetados, entraram também no “pacote” cirúrgico. Mais uma vez eu estava ao seu lado, presenciando seu crescimento e aceitação das cargas que Deus colocava em seus ombros, as quais ela suportava com louvor.

Esta mulher cresceu muito em virtude e coragem, e eu a vi agigantar-se mais ainda quando precisou lutar por aquele que seria seu parceiro no amor e na vida. Junto com a conquista, veio a realização do sonho do matrimônio numa linda e emocionante cerimônia. Adivinha quem estava lá de madrinha? Euzinha, claro! Feliz da vida por estar fazendo parte daquele momento de felicidade e de mais uma de suas vitórias.
Todas essas circunstâncias vividas e vencidas, a credenciaram para que estivesse também à meu lado em momentos muito difíceis. Se quando ela nasceu eu a carreguei nos braços, em várias ocasiões ela carregou-me no colo, cedendo seu ombro amigo para que eu chorasse, consolando-me. O mais recente deles e que muito me marcou foi o triste dia em que, num corredor frio de hospital ouvimos, apreensivas, a notícia de que papai já não fazia mais parte deste mundo. Choramos juntas, nos amparamos e como boas filhas da "véia" Rita, nos erguemos e fomos tomar as providências necessárias àquela ocasião.

O que esperar mais em termos de crescimento e força desta mulher-tora? Isto só a vida poderá nos responder. Sei apenas que estarei sempre perto, como irmã, como amiga, sentindo minha admiração aumentar toda vez que a vejo superando limites, colecionado medalhas nas maratonas da vida e nas provas de atletismo. Sim, a criatura resolveu ser abusada ao extremo! Agora é mestra na arte de superar obstáculos que desafiam sua capacidade física, fazendo uso de um emocional ultrarresistente. Ah, e para não fugir do perfil da mulher-tora cultuado pela maioria, a dita cuja ainda exibe um belo par de pernas e glúteos invejáveis! Ta bom ou quer mais?

"Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho, sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida...." (Milton Nascimento em Maria Maria)

“Nós, mulheres, nascemos para tecer fios de seda, mas quando é preciso, tecemos fios de aço”. (Iris Araújo – Deputada Federal por Goiás)

domingo, 29 de novembro de 2009

DESENCONTROS

A vida não cansa de nos pregar peças. Em cada esquina, em cada encruzilhada há uma decisão a ser tomada em relação a que rumo seguir. Muitas vezes a caminhada segue tranquila e de repente lá está ela, a temida dúvida,  a nos encarar de frente,  colocando em cheque a capacidade de escolha do ser humano.

Nas questões de afetividade, as escolhas ocorrem cotidianamente e alguns acontecimentos que as precipitam são até curiosos. São comuns os encontros no momento errado com a pessoa certa. Muitas vezes traçamos planos para nossa vida afetiva, crentes  que a realidade permanecerá a mesma e de repente acontece a surpresa que nos obriga a mudar de planos ou abdicar de alguém que há muito desejávamos conhecer,  mas que só nos deu a chance de concretizar o encontro,  na hora exata em que não cabe nesses planos.

Já ouvi frases do tipo: "Onde você estava há 10 anos atrás"?, ou "se eu não fosse casado, você seria a pessoa ideal como parceira de vida",  ou ainda "Não posso lhe fazer promessas porque no próximo carnaval irei para Salvador com um grupo de amigos e isso será problema caso estejamos namorando" (!!!).  Por várias vezes cheguei atrasada à estação, quando não havia mais bilhetes e o trem partiu sob meu olhar melancólico, como de uma criança que vê sua pipa tão desejada,  confeccionada com esmero, ter sua linha "torada",  se perdendo no ar, sem que  nada pudesse fazer. E com aquele nó apertando o peito, na certeza que alguém observava  seu percurso e se apossaria dela, assim que tocasse qualquer superfície alcançável.

Sei que também fui motivos de desencantos na vida de muitos que desejaram-me por companheira em momentos inoportunos e impossíveis, mas nem por isso me consolo. Não senti suas dores, suas perdas. Talvez consigam digerir melhor esse bolo. Numa  conclusão preliminar, penso que a procura pelo amor esbarra-se num senhor implacável denominado destino,  que traça nossos rumos sem que tenhamos chance de  determinar o momento ideal de um encontro. Por outro lado, quando ele abre a guarda e permite escolhas, construímos uma barreira com base no  egoísmo -  que em tempos modernos se dirfarça sob a alcunha leve da "individualidade". Ao permitir que o "eu" assuma maior importância que o "nós", caminhamos para uma realidade onde os relacionamentos casuais assumem uma proporção assustadora em contraste com seres humanos cada dia mais carentes e solitários. Esses indivíduos que se procuram, na maioria das vezes, encontran-se  frente-a-frente, todavia não se enxergam.                                                                                                                                                                    Será que poderei concluir,  seguramente,  que o poder de escolha não passa de um engodo do destino que já tem escrito o enredo de nossas vidas e funciona  como um cruel manipulador, onde somos apenas  meros atores que seguem fielmente a sinopse pré-definida?

"Jogue suas mãos para o céu
E agradeça se acaso tiver
Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda
Ou numa casinha de sapê..." ( Kid Abelha em Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda)

domingo, 22 de novembro de 2009

INCOERÊNCIA

O sorriso existe,  eu sei.
Está guardado na imensidão de alegria, própria de mim...
Própria dos artistas, dos sensíveis que ousam sonhar.
Dele ainda vou distribuir por aí.
A voz está presente,  é certo.
Mesmo que camuflada na tristeza, própria de mim...
Própria dos poetas, dos loucos que ousam delirar.
Dela ainda se ouvirá por aí.
A amor será futuro, acredito.
Está germinando numa fenda de coragem, própria de mim...
Própria dos corações impulsivos, dos que se arriscam tentar.
Dele ainda serei íntima por aí.

O corpo pulsa por sentimentos rudes.
A alma trêmula reclama sentimentos nobres
Corpo e alma,
Coragem, coração...
Incoerência de sensações.

domingo, 15 de novembro de 2009

SEM FALA... MAS NEM TANTO!



Sinto muito mas não vou medir palavras
Não se assuste com  as verdades que eu disser..."

Estou puta da vida!
São tantas as palavras flutuantes no cérebro, que chegam a congestionar a verbalização. É um daqueles momentos em que sinto, de verdade, melhor manter a boca fechada porque corro o risco de dizer coisas que podem magoar... Sinto, mas não obedeço.

-Cacete, porque insisto em repetir erros na vida afetiva?
-Qual a finalidade de embarcar em relacionamentos em que o outro não tem a mesma sensibilidade, respeito e confiabilidade? (ou seja, "não quer nada com nada"!)
-Estarei "descerebrada"? (pouco provável, pois penso aceleradamente!), levando em conta que pareço esquecer as promessas feitas a cada vez que quebro a cara?
-E por que não atendi à minha intuição que dizia: "É barca furada"! "Não entra nessa"! "Filhinha, preste atenção no que quer da vida"!
-Maldita intuição! Meleca de intuição que sempre acerta!

Ufaaaa! Falar faz bem sabia? É como se eu vomitasse aquele bolo que insiste em causar náuseas provocando um profundo mal estar. À medida que vou "desfiando o rosário de mágoas" (vixe, esta é antiga!), meu interior vai se acalmando e vou encontrando meu eixo novamente.
Mas por outro lado, não quero falar muito. Não quero concluir, não quero finalizar. Sei que amanhã tudo pode mudar! Não quero mais fazer promessas que não venha cumprir, usando de filosofia barata extraída de algum artigo de revista feminina. A minha filosofia é que deve prevalecer. E  hoje só tenho uma definição para a realidade afetiva vivida: ME-LE-CA!!!



E como estou para pouca conversa, deixo que Erasmo Carlos fale por mim, através da letra genial que  escreveu e que Simone interpreta, como sempre, lindamente.

"...Quem não percebeu a dor do meu silêncio
Não conhece o coração de uma mulher..."

"Eu não quero mais ser da sua vida
Nem um pouco do muito de um prazer ao seu dispor
Quero ser feliz, não quero migalhas do seu amor..."
"Quem começa um caminho pelo fim
Perde a glória e do aplauso na chegada
Como pode alguém querer cuidar de mim
Se de afeto esse alguém não entende nada..."

"Não foi esse o mundo que você me prometeu
Que mundo mais sem graça, mais confuso do que o meu
Não adianta nem tentar maquiar antigas falhas
Se tudo que você tem pra me aferecer são migalhas..."

terça-feira, 10 de novembro de 2009

MODESTAMENTE

Provando pequena dose da minha alegria, aprenderás a sorrir sempre
Assimilando a leveza da minha alma, levitarás com os pés no chão
Mergulhando na essência do meu ser, respirarás o amor mais puro
Descobrindo a luz do meu interior, refletirás grande paz de espírito
Ocultando minha beleza exterior, verás formosura no coração
Conhecendo a magia dos meus sonhos, despertarás feliz para a vida
Caminhando um minuto à meu lado, desejarás uma estrada infinita.

A vida é arte
O amor é escolha
Viver é parte.

"Eu quero ser onde você sossega a alma
Que chora e ri e encontra a calma pra sonhar,  sem dormir
Vem acender as luzes que iluminam o meu coração
Vem ter comigo sua parte da amplidão
De minha parte eu estou aqui.
(Elba Ramalho em Amplidão)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ACIDENTAL

Se a vida nos conduz por caminhos contrários
Se ela nos afasta por motivos vários
Quem sabe um dia causemos uma colisão
Na contramão, num ato de teimosia, obedecendo ao coração?

domingo, 1 de novembro de 2009

FICÇÃO

Quando dei por mim, já tinhas ido.
Como água que segue seu curso
Como flor murcha que deixa o caule
Como a primavera que dá lugar ao verão.

Quando dei por mim, já eras passado.
Como a lembraça do toque de mãos
Como o beijo do minuto vivido
Como a sensação do encontro não repetido.

Quando dei por mim, percebi que não foste real
Naceste da minha imaginação, dos delírios, das loucuras.
Tiraste somente o pior de mim
Ignoraste minhas virtudes, as belezas da alma.
E do meu amor, que sabes?
Nada.
Desconheces tua capacidade de amar
De se entregar
De dar amor
De receber amor.
Soubeste onde e como me encontrar
Foste íntimo da minha boca, do meu corpo
Mas ignororaste o caminho que levaria-te ao meu coração.

Por tudo isso, quando dei por mim
Já tinhas ido
Já eras passado
Percebi que não foste real.

"Apenas na poesia
Convivem linearmente
O beijo, a entrega e a agonia." (Evelyne Furtado)

domingo, 25 de outubro de 2009

É TRANSA E TANTO FAZ?


"Quando se quer mais, a gente diz bye, bye..."

A frase acima é parte da canção "Transas", uma balada romântica dos anos oitenta, interpretada pelo inglês radicado no Brasil, Ritchie. A letra fala das relações modernas, onde o que se busca são relacionamentos casuais e quando há envolvimento emocional, fatalmente uma das partes provoca o rompimento em vista de assumir compromissos. Esse comportamento foi detectado há mais de trinta anos e até hoje persiste. Corrijo, hoje, na maioria dos casos, nenhuma das partes arrisca um envolvimento mais complexo, principalmente em se tratando de pessoas maduras.

Quem já viveu uma relação duradoura e está à procura de novo amor, muitas vezes se apresenta como uma sinopse de obra fechada: Já tem estória definida; não abre espaço para novos personagens, novos enredos. Seu dia-a-dia baseia-se na dedicação ao trabalho, filhos e amarga certa solidão que permeia sua vida meio insonsa. Porém, se envolve. E quase sempre rompe, não sem antes ter mantido um contato íntimo. É comum recorrer à tratamentos psquiátricos e psicoterápicos, como se ambos fossem capazes de preencher a lacuna aberta na alma. Na contramão, vem aquele que por motivos vários ainda não conseguiu manter união estável e sempre que essa possiblilidade surge, por medo do desconhecido, de perder sua individualidade, acaba pondo fim à todo relacionamento que poderia ser muito prazeiroso. Nos dois casos, fica a frustração de que tudo não passou de uma transa. Apenas.

Pergunte a um solteiro maduro próximo à você, qual sua opinião a respeito do sexo oposto quanto à seriedade das relações amorosas. Ele responderá com certeza: "Não querem nada com nada; só ficar!" É isso mesmo! Homens e mulheres nessa idade conjugam largamente o verbo "ficar", acreditando ser uma conquista da vida moderna. Querem recuperar a adolescência que acena ao longe, diante das indisfarçáveis rugas e fios brancos nos cabelos. E estão cada dia mais sós. Relacionam-se pelo internet, via torpedos; perdem o contato físico-afetivo tão necessário a uma boa saúde emocional. Lotam consultórios médicos; fomentam a indústria farmacêutica! Em muitos casos , buscam refúgio nas bebidas e drogas. Por medo de perder espaço em seus confortáveis mundinhos egoístas, renunciam à possibilidade de viver uma estória de amor. Assim seguem numa busca contínua de afetos pelos quais não aceitam correr riscos.

Confusão não? A quem atribuir culpa? Como reencontrar caminhos que levam a uma relação duradoura e feliz, sem querer escapar na primeira encruzilhada?

Bom seria seguir à risca a receita de Paulo de Tarso em Coríntios I, cap. 13: 4 , 5 e 7: "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbesse; não se porta inconvenientemente, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."
Acha que precisa acrescentar mais algum ingrediente? A dose exata de qualquer deles, cada um de nós decide como e quando usar, na medida em que sentir-se capaz. Não vale alegar imaturidade por toda uma vida! Além de todos os ingredientes citados por Paulo de Tarso, eu sugeriria uma dose grande de coragem. Assim, com certeza, agiremos com sabedoria e trocaremos a inconstância do verbo "ficar" pela estabilidade do verbo "amar".

"Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho." (Tom Jobim em Wave)

sábado, 24 de outubro de 2009

AMOR DE CORPO E ALMA

"É preciso amar direito" diz a frase da música "Amor Maior" de J Quest. Ouço essa música pensando em como gostaria de tê-la escrito! Nela o autor da letra revela seu desejo de amar intensamente, descrevendo um sentimento que desconhece, embora saiba definí-lo com exatidão.

Ocorre algo análogo comigo. É comum, no meu dia-a-dia, desejar comer algo, mas ao contrário do autor da letra, não sei exatamente o que procuro. Chego sentir na língua o sabor desse alimento. Ando pela casa, procuro nos armários, geladeira, acabo beliscando um petisco, mas o desejo continua latente, sem que seja satisfeito. Na vida afetiva vem acontecendo o mesmo. Tenho provado tantos sabores em busca de realizar sonhos e saciar desejos, contudo, o vazio persiste. A cada nova investida imagino ter encontrado o par ideal, porém, à medida que vou degustando, começa o sentimento de insatisfação. E a procura incessante continua.

Um amigo evangélico aconselhou-me a procurar refúgio no amor Divino. Alega que satisfação completa somente aconchegando-se no amor imensurável do Altíssimo. Por enquanto discordo dessa teoria. Se Deus não quisesse que necessitássemos de outro ser para termos uma sensação de completude, não permitiria essa dependência de afeto humano para nos sentirmos mais felizes.

O sexo é necessidade do corpo e o amor é alimento da alma. É preciso que ambos estejam contidos num relacionamento. Talvez por isso tanta busca. Tenho satisfeito somente o corpo, enquanto a alma persegue um sentimento maior. Quando o encontrar, certamente saciarei essa fome de afeto que vai muito além dos instintos. E esta esperança é o amor Divino que me traz.

"Eu quero ficar só
Mas comigo só eu não consigo
Eu quero ficar junto
Mas sozinho assim não é possível
É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço..." (Amor Maior com J Quest )

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

EXERCITANDO A PACIÊNCIA

Estou fazendo fisioterapia. Havia alguns meses, capengava da perna esquerda e a Reumatologista tratava o caso como inflamação do nervo ciático. Usei medicamentos anti-inflamatórios, sem obter resultados. Após alguns exames, ela resolveu arriscar outro diagnóstico: Encurtamento de músculo do membro inferior esquerdo, ou seja, exagerei nos exercícios ou não fiz o alongamento adequado, antes e após a prática de atividade física. Resultado: O músculo encolheu e decidiu que não iria mais atender às necessidades básicas que a perna exigia. Academia, então, fora de cogitação! Subir um simples degrau causavam-me dores muito desagradáveis. Diante do quadro, ela encaminhou-me a um um fisioterapeuta para iniciarmos o tratamento de reabilitação.

Consegui um profissional credenciado pelo meu plano de saúde numa academia próxima à minha casa. Dei sorte logo de cara, pois o dito cujo é um gato! E gente boa pra caramba! A primeria sessão foi bem ligth. Aliás, ligth demais para meu gosto! Quem já utilizava caneleiras de até sete quilos para exercitar pernas na academia, teve que se contentar com um mísero quilo. Voltei ao bê-á-bá! Estou na pré-escola! Haja paciência!

Mas o tal fisioterapeuta-gato, na segunda sessão, se transformou num leão e mostrou suas garras. A metamorfose ocorreu no momento final: A criatura transformada se agarrou às minhas pernas para alongá-las. Confesso, há muito não sentia dores tão horríveis! Apesar das reclamações, o belo continuava impassível, naquela contagem muda que parecia infinita. Ameacei esmurrá-lo e ele nem se importou. Naquele momento, cogitei a possibilidade de abadonar o tratamento, mas no dia seguinte, notei que ao subir um meio-fio, a dor diminuíra de intensidade. A partir de então, voltei a enxergar o felino como um dócil bichano, percebendo que ele estava certo na sua conduta. Dei o braço à torcer e hoje estou na nona sessão, feliz da vida, porque, acredite, ele usou caneleiras de dois quilos nos exercícios de fortalecimento do músculo lesionado. Estou progredindo!

Não posso deixar de correlacionar essa fase de tratamento à certos momenos de vida que já enfrentei. Lembrei-me da alma machucada, contundida, dolorida! E tal qual ocorreu com o músculo da perna, a responsável pelas lesões emocionais foi somente eu. Tinha completa noção de que agia de forma irresponsável, acusada pela minha consciência, e mesmo assim, "peguei pesado". Como consequência, dores e mais dores. E o "Fisioterapeuta-Maior" também não me poupou. Não pense você que naqueles momentos sofridos, fui sábia o suficiente para aceitar o tratamento aplicado com resignação. Como me rebelei! Agindo assim, constatei que as dores aumentavam e, consequentemente, o período de recuperação se tornava mais longo.

Em todos os aspectos da vida, a Lei de Causa e Efeito é inexorável. Sem as correções que ela nos impõe, o espírito seguiria como um cavalo sem rédeas e não haveria possibilidade de evolução em qualquer nível. A recompensa, após cada acerto de contas, é sentir a alma recondicionada e mais forte, assim como acontece também com o corpo físico. Hoje aguardo com ansiedade o dia em que receberei liberação médica para praticar atividades físicas sem restrições, porém com responsabilidade, consciente das limitações que o corpo exige. Quanto a alma, está leve! Já recebeu alta do "Médico" dos médicos e segue vida afora lépida e fagueira.

"Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nessa roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu na vida..." (Gonzaguinha em Eu Apenas Queria que Você Soubesse)

domingo, 11 de outubro de 2009

LOVE IS IN THE AIR

Existe algo de novo no ar. Com ele, as cores da primavera, o aroma das flores, cheiro de terra molhada. Há no coração, o desejo de colorir a vida com várias matizes e colocar quadros novos nas paredes recém-pintadas. As janelas da vida estão se abrindo e a claridade invade a alma que habitava um quarto fechado a espera de luz.

É tempo de limpar gavetas, espanar poeira, deixar que espaços vazios sejam ocupados pelo novo. É momento de substituir fotos dos portarretratos, varrendo da memória imagens gastas pelos anos. Não há tempo para lamentar o que passou; sobra tempo para celebrar o que se apresenta pedindo licença para tomar posse.

O jardim da vida começa a desabrochar tal qual minirrosas de variadas cores. Os caminhos antes estreitas agora são estradas de mão-dupla que permitem transitar sem pressa e atropelos. É ocasião para desfrutar plenamente da companhia de caminhada, apurando os ouvidos, sentindo a música que ecoa alegremente no ar.

Os sentidos aguçados percebem que a felicidade acena insistente, querendo se instalar. É preciso agarrá-la e tentar retê-la o máximo de tempo possível, tendo consciência da sua finitude, extraindo dela toda alegria que puder. A felicidade vivida num segundo, irá ocasionar lembranças inesquecíveis para a eternidade.

sábado, 3 de outubro de 2009

EM BUSCA DE MIM

 Tendo andado atenta. Me procuro no menor ato, nas menores atitudes... Não que esteja totalmente perdida, talvez ande em círculos, pois reconheço algumas pegadas. Em certas encruzilhadas tenho dúvidas e uso da razão para decidir o certo. "Mamãe mandou escolher..." soa infantilizado e mesmo à contragosto é necessário crescer.

Analiso itinerários. Não quero desencanto na chegada, no desfazer das bagagens... Aceito curtas temporadas, mas plenas em alegria e prazer. Se for uma cabana, que seja aconchegante, com cama limpinha e cheirosa, com sol radiante pela manhã e brisa serena no entardecer. "Chorar sobre o leite derramado" é ditado eliminado e mesmo errando é imprescindível sorrir.

Meus olhos estão em alerta. Ao menor movimento fotografo, examino, escolho, posto... Só coleciono imagens que acrescentem cores ao que já sou, que destaquem minha luz. Corto qualquer "bicão" que ouse invadir meu espaço, querendo roubar minha cena ou se passar por íntimo. "Antes mal acompanhado do que só" é uma inversão inaceitável e mesmo sozinha é mister sair bem na foto.

Minha alma anda inquieta. O novo acena como ameaça à quem se acostumou ao marasmo... É preciso me arriscar na colheita de um fruto doce, ainda que abelhas rondem. Vou em busca do maior, mais apetitoso, sem importar quantos galhos terei que escalar. "Eu quero, eu posso, eu sou" é frase gravada no subconsciente e mesmo que desconheça minha coragem é imperativo vencer o medo.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

VAI DAR O QUE CANTAR!

Roberto Pompeu de Toledo, colunista da revista Veja, escreveu esta semana sobre o vexame dado pela cantora Vanusa na interpretação fatídica __ para muitos hilária __ do Hino Nacional Brasileiro. A artista alegou ter se automedicado devido a uma crise de labirintite e isso teria motivado o descontrole gerado durante a apresentação. O colunista resolveu sair em defesa da cantora, alegando complexidade das palavras e termos que compoem o nosso Hino. Para justificar essa atitude, ele comparou o Hino Brasileiro a um tipo de poema escrito pelo já falecido inglês Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e tantos outros. Ele criou um poema com palavras inventadas, mescladas com outras inexistentes, "cuja bonita sonoridade contrasta com o enigma de um significado impossível de ser alcançado", define o autor no texto.

Particularmente, tive acesso de risos (da mesma forma quando ouvi a versão do Hino Brasileiro na cômica interpretação), ao tentar ler o versinho transcrito no referido texto__ propositalmente de forma romântica __ o que tornou a leitura realmente impossível. Vou transcrever abaixo o primeiro verso do poema que se chama Jabberwocky, traduzido para o português pelo poeta Augusto de Campos. Tente fazer essa experiência, caro amigo e paciente leitor:

"Era briluz
As lesmolisas touvas
Roldovam e relviam nos gramilvos
Estavam mimsicais as pintalouvas
E os momirratos davam grilvos."

E aí, continua achando que nosso Hino tem palavras de difícil entendimento ou pronúncia?

O que o colunista argumenta é que ele traz uma combinação de palavras familiares entre outras estranhas, o que provoca um efeito Jabberwocky para uma grande quantidade de brasileiros cujos ouvidos são destreinados para os preciosismos da linguagem apresentada.

Mas voltando à Vanusa e sua labirintite, não dá para atirar pedras porque meu telhado é de vidro; não padeço da mesma patologia mas tenho crises de enxaqueca e me atrevo a cantar de vez em quando... E a propósito, pegando carona na "marolinha" de civismo provocada pelo fiasco, entrou em vigor dia 22 deste, a Lei Federal sancionada pelo Presidente em exercício, José de Alencar, que obriga a execução do Hino Nacional Brasileiro nas escolas públicas e particulares do ensino fundamental pelo menos uma vez por semana. São os valores cívicos novamente incentivados (?) através do poder público, como nos tempos da sexagenária Vanusa e por que não confessar dos meus também. Sem errar a letra, eu poderia cantar em perfeito contraste com a Lei que acaba de entrar em vigor, imaginando nossas crianças e adolescentes enfileirados frente à Bandeira Nacional, o final da música "Como Nossos Pais", lindamente interpretada por Elis: "Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais".

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

QUANDO ME SENTIRES AUSENTE

Não é um epitáfio. Se depender de mim, pretendo que a estrada seja ainda longa. Mas às vezes as molésticas me assustam e percebo o quanto sou vulnerável. Aliás, somos todos. Por outro lado, partir é tão normal quanto chegar. Morrer faz parte da vida, tanto quanto nascer. Lia Luft, colunista da revista Veja, dedicou-se também a este assunto semana passada. Talvez por eu ter estado "perrengue" no decorrer da mesma semana, faltando energia para viver a vida com a alegria que me é peculiar, tenha feito com que eu que aceitasse essas verdades com relativa normalidade. Todo dia morrem células. Algumas se renovam; outras não mais. Alguns dos meus neurônios, se não morreram, tiraram férias ou quem sabe, até mesmo licença-prêmio, pois tentei acioná-nos para o exercício da escrita e não me atenderam. Por isso, neste humilde texto poderá haver erros simplórios, que peço, caro amigo leitor, seja condescendente: Sinto-me incapaz de percebê-los.

Por lidar diariamente com a morte (diariamente não é bem o termo; dia sim, dois não), estou criando certa casca de indiferença em relação ao assuno; não dá para assimilar o sofrimento alheio, mas em casos mais dramáticos ainda levo sustos. Tenho me surpreendido, ultimamente, em constatar como a violência impera na periferia e região metropolitana da Capital. Quando prestava serviço num cemitério que é patrimônio histórico da cidade, os cortejos fúnebros tinham até certa pompa. Hoje trabalho no limite do município, área de extrema pobreza, onde, além de bens materiais, o que mais falta à população, com certeza é amor. Como o povo carece de amor! Como as vidas perecem por falta de amor! E como muita gente ainda mata em nome do amor! Não é irônico? Homens, principalmente, usam do sentimento maior, como agente motivador da prática da violência contra suas parceiras, mães de seus filhos.

Dias desses, fazia uma bela tarde, eu observava as fileiras de covas rasas sob um pé de Sucupira com suas flores cor-de-rosa, a balançarem por suave brisa. Tentei buscar palavras doces para uma narrativa que disfarçasse a realidade dura que anotamos diariamente no livro de obituário. Não consegui. A cada dia que passa, a palavra "homicídio" se agiganta no fatídico livro. Hoje, trago na lembrança, a fisionomia de um garotinho, com cerca de dois anos, que na semana passada corria alegremente pelo pátio e entre as fileiras de covas, alheio ao drama vivido pelos familiares, tendo sua mãe, de apenas dezessete anos, estendida numa urna mortuária na sala de velórios, vítima do "amor" ansandecido do pai, sendo que este ainda se encontrava numa gaveta fria de necrotério, após ter dado cabo da própria vida.

Quando me faltam palavras, geralmente é porque estou pobre de sentimentos... ou talvez não esteja conseguindo lidar com as emoções. Por isso me ausento. Há momentos que pedem reflexão e eu, por sentir que tenho certa intimidade com o Criador, tenho me dirigido muito a Ele, tentando obter respostas a respeito das misérias humanas.  Quando falta amor, morre um pouco a poesia, a vida perde a cor, a flor perde o perfume, o escritor perde o vocabulário, fica afônico o cantor.

domingo, 6 de setembro de 2009

CUMPRINDO METAS

A cada ano que se inicia, estabeleço uma meta para melhoria de meus defeitos (que não são poucos!) e tento cumprí-la à medida que ele transcorre. À cerca de dois meses recebi por email uma questionário a ser respondido e quando interrogada sobre o desejo que gostaria de realizar este ano, não tive dúvidas ao responder: "Quero estar mais perto de Deus". Foi só então que minha percepção se abriu e notei que minha agenda, no quesito "pontos de melhoria", estava em branco. A partir daquele momento, a resposta dada transformou-se num desafio. Só não sabia que rumo tomar e que ponto atacar para atingir meu objetivo.

A maioria das mulheres que, como eu, trafegam solitárias pelos caminhos da vida, não raramente sentem-se magoadas, ressentidas e usadas na questão da banalização dos relacionamentos amorosos. Acredito que isso aconteça porque pisoteiam valores adquiridos através da educação que receberam para a vida e em muitos casos, preferem considerá-los ultrapassados, ao invés de aglutinar experiências. Sentem-se "crescidinhas" o suficiente para criarem seus manuais de conduta e passam a bater cabeça, como donas absolutas de seus destinos. Eu, particularmente, tenho levado algumas rasteiras do sexo oposto e em meio ao sofrimento, procuro no outro razões para alguns episódios dos quais não entendo o desfecho, entre eles, alguns desligamentos, digamos, "repentinos e inexplicados". Confesso que dificilmente as encontro. O homem não precisa de razões para executar suas manobras: Ele é puro instinto e, como um animal, faz seus experimentos por simples curiosidade ou para saciar o desejo incapaz de conter. A mulher, ao contrário, perde o senso analítico: Sua razão bate em retirada quando a emoção entra em campo. Ela se apaixona, fantasia, se casa, tem filhos... E tudo numa fração de segundos! Quando acorda desses devaneios, a criatura já "bateu asinhas". Acredita que eu, por algumas vezes, quando me dei conta percebi que o "dito cujo" tinha saído da minha vida, assim como quem foi à feira comer um pastel e nunca mais deu notícias? E quando situações dessa natureza ocorrem, qual é o posicionamento correto para não permitir que mágoas tomem conta do nosso coração?

Padre Zezinho tem uma música que se encerra com a seguinte frase: "A vida é uma questão; o amor é a resposta". Realmente, a vida nos questiona todos os dias e utilizando do sentimento maior, todas as respostas virão. É amando, seja amor carnal ou fraternal, que tenho aprendido a necessidade do perdão. Houve um tempo em que eu ousava não me sentir magoada, como a querer ser perfeita o bastante para não alimentar sentimentos negativos . Raiva, hoje me permito sentir. Ódio, jamais. E guardar ressentimento? Nem pensar! Por isso, procuro perdoar o mais rápido que posso. Procuro digerir, em tempo recorde, o desconforto que uma desilusão produz, para que não se transforme em ressentimentos e fique enveneando minha alma. A frase bíblica dita por Paulo de Tarso "todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm" (I Cor, 20, 23) remete a estas situações que vivo hoje. Se não aprender usar a razão antes da emoção se contrapor, acabo permitindo que pessoas me machuquem e erroneamente me sentirei injustiçada. Nesse caso terei que usar doses imensas de perdão, o que em pequenas porções muito me custa. Por outro lado, se trilhado com sabedoria, esse parece ser o caminho para atingir o objetivo que tracei para 2009.

Dos sentimentos que um ser humano pode cultivar, com certeza o amor é o maior e mais nobre. É mais uma verdade dita por Paulo de Tarso em I Coríntios, cap. 13. Através da prática do amor por mim mesma, tenho aprendido a valorizar meu corpo, templo sagrado onde habita meu espírito, que traz nele a marca do Criador. Com isso, atribuo também a mim, as culpas pelo que de ruim venha acontecer através dele. E vejo em várias circunstâncias, pontos onde posso crescer e evoluir, acionando o mecanismo o autoperdão. Em relação ao outro, Jesus me exorta ao perdão infinito. Aceitando e praticando esses essinamentos, percebi que já estou me sentindo bem mais perto de Deus.

E assim foi que aprendi
Na hora de sofrer
Que nada faz sentido sem perdão
Que se eu não perdoar eu me enveneno.
E, se eu viver querendo eterna compreensão
Jamais aprenderei do amor esta lição:
O amor é bom demais
Porém às vezes dói! (Pe. Zezinho em "O Amor é a Resposta")

domingo, 30 de agosto de 2009

DISSABORES

O mocinho à mocinha:
_Me dá o número do seu celular!
Ela meio reticente:
_Não. Passa o seu número que te ligo.
Ele insiste:
Ah, vai, me dá seu número!
Ela, que tem andado muito carente, resolve dar uma chance a ele e a si mesma. Acaba cedendo e passa-lhe o número.

Na primeira semana vários torpedos filosóficos e românticos da parte dele. Ela responde com certa frieza. Ou seria com cautela?
No primeiro sábado, ele liga dizendo que quer vê-la. Ela aceita recebê-lo em casa. Se prepara, como toda mocinha faz, tomando um gostoso banho e se perfumando. Para sua surpresa, ele chega relativamente embriagado. Passara a tarde com amigos, comemorando um aniversário e de lá, sem ao menos um banho, foi direto para a casa dela. Falou do desejo de conhecê-la melhor, de ter um relacionamento. A mocinha que se decepcionara a princípio, se cala. Por estar ainda muito carente, resolve dar mais uma chance a ele e a si mesma. Deixa-o ir, sem nenhuma reclamação. Resolve esperar o decorrer dos acontecimentos.

Na segunda semana outros tantos torpedos românticos da parte dele. Ela responde com delicadeza. Ou seria com algum sentimento?
No sábado ele liga à noite. Aparentemente sóbrio. Quer vê-la. Novamente ela aceita recebê-lo em casa. E mais um vez se prepara, se perfuma. Ele se apresenta com outra postura, conversam, trocam carinhos, falam da vida e do que esperam dela. A mocinha esboça certa felicidade. Constata que foi bom ter dado uma segunda chance a ele e a si mesma. Na saída, uma promessa dele, sem que ela nada tenha pedido:
_Amanhã te ligo.

Na terceira semana, nenhum contato. A mocinha espera. Confere no celular várias vezes ao dia e nada de mensagens novas. Lê as antigas, na esperança de tê-lo mais próximo de si. Até a sexta-feira, nenhum contato. A mocinha dorme com um gosto amargo na boca. O sábado amanhece radiante, com um sol maravilhoso e mil perguntas assolam sua cabecinha. Que terá acontecido ao mocinho para que ele desaparecesse daquela maneira? Por estar ainda muito carente, resolve dar mais uma chance a ele e a si mesma. Passa uma mensagem com uma frase da música "Sozinho", interpretada por Caetano Veloso: "Quando a gente gosta é claro que a gente cuida...". Mal a torpedo é entregue, o celular toca. É o mocinho do outro lado:
_Olá moça, como vai?
Ela responde:
_Bem e você? Sumiu esta semana!
E ele:
_Correria.
Depois de alguma conversa banal ele promete que ligará logo mais e desliga.

No sábado à noite a mocinha espera. Se prepara, se perfuma. As horas passam, o telefone não toca. Ela assiste TV para passar o tempo, mas nem consegue perceber o desenrolar do folhetim das oito. O enredo da sua própria história tira-lhe a concentração e a deixa novamente com um gosto amargo na boca. E é assim que ela vai para a cama. É assim, amarga, que ela acorda para um domingo que parece querer agredí-la com um sol explendoroso.

"Na história do poeta
A menina acreditou
E dos olhos da menina
Uma lágrima rolou". ( Roberto Carlos em "A Menina e o Poeta")

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

REFORMA AMPLA, GERAL E IRRESTRITA.

Sinto-me calma. E estou só. Porém, esse estado de solidão se refere apenas ao fato de não ter uma paixão, um relacionamento amoroso. E vou repetir a primeira frase deste texto, acrescentando mais algumas palavrinhas mágicas: Sinto-me calma, tranquila, serena.

A cada dia que passa, a cada passo que dou diante da vida, percebo que estou mais segura. Aprendi a caminhar só, a decidir que caminho tomar, a escolher entre tantas opções a que mais me convém. Assim, se você perguntar hoje se estou feliz, eu reponderia com outra pergunta: O que significa felicidade? Quais sensações a felicidade pode desencadear num ser humano? Talvez você vá responder: Calma, tranquilidade, serenidade...

Essa paz de espírito é quase certo se dê, pelo fato de estar em reforma. Sim, reforma da minha casa, com toda desordem que uma obra pode provocar! Depois de mais de vinte anos em que nela resido, é a primeira vez que, sozinha, planejei, pesquisei, comprei, contratei mão-de-obra e arco, praticamente, com todo o numerário para e execução do projeto (que não é lá grande coisa, convenhamos, mas é o "meu" projeto). Quem convivia comigo há cerca de cinco anos atrás, a realidade atual pode parecer inverossímel. E com razão, afinal eu não dava um passo sem o cônjuge do lado, além da total dependência financeira que, apesar de confortável, incomodava-me sobremaneira.

Então, não acha que tenho motivos suficientes para estar feliz?

Mesmo afirmando que a solidão já não assusta, é preciso que fique claro: Não me tornei uma mulher seca, fria, assexuada. Acontece que aprendi a ser mais seletiva. Hoje tenho o privilégio de apostar em relacionamentos que acrescentem e me façam crescer como mulher e ser humano. Afinal, afeto é bom e eu gosto! Todavia, não necessito ter alguém para estar bem. Por outro lado, não me declaro só, apenas estou só. Assim, segura, sabendo o que quero e, principalmente, o que "não quero", tudo que se apresentar diante de mim será sempre alvo de análise. E acredite, se aprovado, ah neném, estará preso em minha rede! Certeza!

"Que venha de dentro de mim, ou de onde vier
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das corças e lute com todas as forças
Conquiste o direito de ser uma nova mulher" (Uma nova mulher, com Simone)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A ARTE DE CULTIVAR

Estou cultivando um pequeno jardim na calçada de minha casa. Plantei duas mudas de Quaresmeiras e outras que também produzem flores, cuja origem é africana, por isso não me atrevo a escrever aqui, o nome dito pela funcionária da floricultura onde as adquiri.

No dia do plantio, fui advertida por vizinhos de que não vingariam, dada a certeza que seriam roubadas pelos passantes, tendo em vista a beleza das flores. Na primeira noite de vida do meu pequeno jardim, confesso ter ficado preocupada, tanto que minha primeira atitude ao despertar foi correr à varanda logo pela manhã e certificar-me de que as mudas ainda estariam lá. E estavam, para minha alegria.

Conheço o colorido das flores somente das "africaninhas" (vou chamá-las assim). As Quaresmeiras são ainda muito jovens, então espero a primeira floração com um misto de curiosidade e ansiedade.

Alguns perguntaram-me porque arriscar no cultivo de um jardim na área externa da residência, quando disponho de grande espaço interno. Analisei a questão e cheguei às seguintes conclusões:
1) Acredito, ainda, no respeito que o ser humano possa ter pela propriedade de outrem;
2) Como não posso oferecer flores às pessoas que amo diariamente, ofereço a quem estiver mais próximo de mim, ou seja, aos passantes, sem ter a necessidade de colhê-las;
3) Gosto de dividir com o próximo aquilo que aprecio e acho belo.

Fazendo uma analogia em relação à minha personalidade, constato que ajo da mesma forma com as pessoas do meu convívio no cultivo dos meus afetos: Estou sempre acreditando, doando, dividindo. E sem medo de ser roubada. Quando alguma parte do meu jardim interior é arrancada (muitas vezes com raiz e tudo) , confesso que reclamo, lamento, choro. Nesses momentos, sinto a presença de um misterioso jardineiro que me levanta, ampara, e se necessário, prepara a terra e nela lança novas mudas ou sementes. A cada espécie que ele cultiva, percebo seu carinho, me alegro com as regas, sei que é necessário proceder as podas. E assim, meu jardim está sempre bem cuidado e florido, à espera que muitas borboletas venham visitá-lo.

"Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira". (Cecília Meirelles)

"Disse a flor para o pequeno príncipe: É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas" (Antoine de Saint-Exupéry)

sábado, 8 de agosto de 2009

FICA ASSIM...

Traga seu abraço doce e permita que eu o saboreie sem culpa
Transporte-me à dimensões inimagináveis onde eu possa viver sem limites
Ilumine os caminhos desconhecidos para que eu siga suas pegadas
Conduza-me por becos e ruelas como se trafegássemos por largas estradas
Leve-me pela mão, com suavidade, para que eu me sinta pisando em nuvens
prometa-me a eternidade e deixa que eu a viva num segundo.

"Vem, e traz contigo essa paz tão esperada
Faz dessa noite uma eterna madrugada
E só desperte quando a vida adormecer." (Joana em Segredos)


quarta-feira, 5 de agosto de 2009

SERÁ QUE PASSA?

Tudo passa! Como tenho ouvido esta frase neste período de vida. Parece que todos ensaiaram a mesma resposta. O pior é que ela não consola. Por experiência própria sei que a afirmação é extremamente verdadeira... Tanta coisa já passou! Contudo a cada perda, a cada vez que preciso abrir mão de amores, amizades, colegas de trabalho, o coração reclama.

Tenho uma personalidade que facilmente cria laços afetivos com as pessoas do meu convívio. Porém, acontece o inverso quando chega o momento do desligamento. O afastamento é sempre traumático e torna-se motivo de grande estresse, que me leva a uma tristeza profunda. É claro que a cada episódio, aprendo a digerir a situação com mais facilidade. Mas embora saiba que é preciso caminhar, aceitar os fatos como definitivos, sofro por antecedência e por dias a fio, até que o tempo venha consolidar os traumas causados pelas perdas.

Os episódios são mais dolorosos quando me sinto injustiçada, quando sei que dei o melhor de mim, quando fiz o melhor. Mas quem sou eu para auto-avaliar minhas ações? Quem sou eu para atestar a qualidade do trabalho que desenvolvo? Quem sou eu para auto-determinar minha honestidade, minha fidelidade, minha capacidade de dar afeto e querer receber, em contrapartida, a reciprocidade que sinto merecer em todos os quesitos?

Sofrimento é o preço que paga quem ousa colocar paixão em tudo que faz, por mais que pareça insignificante aos olhos dos outros. Descobri hoje que meu cofrinho ando vazio, tantas são as vezes que me recolheram todo numerário que acumulei a cada empreendimento, sejo no terreno amoroso ou profissional. Por outro lado, se minha passagem pela vida daqueles com quem tive o privilégio de conviver foi marcada, de forma positiva, por algum ato meu, valeu. Pago o preço com satisfação.

"Quem por esta vida passou em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu
Quem não sentiu o frio da desgraça
Quem passou pela vida e não sofreu
Foi aspectro de homem, não foi homem
Só passou pela vida, não viveu." ( Francisco Otaviano)

domingo, 19 de julho de 2009

PERENES AMORES

Quando percebi, o que era promessa de fruto pereceu.
A ilusão se foi como a brisa passageira de uma tarde quente de primavera.
Pereceu mesmo com rega farta, com adubação adequada, sem contar o carinho dedicado.
Existe no caule ainda ereto, que resiste bravamente, uma lembrança da breve floração.
Nada de sementes. Nenhuma continuidade a não ser através da esperança que suporta qualquer intempérie emocional.

"Mas não faz mal
Depois que a chuva cair
Outro jardim,  um dia
Há de reflorir.". (Roberto e Erasmo Carlos)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

O IMPORTANTE É SER

É muito bom ter mais de quarenta. Verdade! Não são palavras sem nexo usadas por uma "senhora" apenas para ludibriar pessoas ou disfarçar descontentamento de alguém em idade madura. Sinto a jovialidade no espírito, o que me traz a sensação de não ter a idade que aparento e que consta no meu RG. Este estado se faz presente nas minhas ações, na facilidade de diálogo e relacionamento com pessoas mais jovens e "antenadas". Encaro a vida com a esperança de um calouro que inicia sua jornada acadêmica, tendo a vantagem de conseguir resolver assuntos práticos com a experiência de um veterano com diploma amarelado pelo tempo.

Por outro lado, a segurança resume-se apenas nessas questões. Quando se trata da afetividade, engatinho, como qualquer jovenzinha que se apaixona e escreve versinhos de amor. Como vivemos nesta era da comunicação informatizada, dispensei o caderninho de outrora e relato minhas aventuras e desventuras amorosas aqui, através de crônicas e poemas singelos , sem qualquer pretensão de ser escritora ou poeta. Apenas extravaso as alegrias e dores através das palavras, o que me traz certa leveza no dia-a-dia.

Na verdade, percebo que tenho uma bi-polaridade na personalidade: Ora adulta, ora adolescente. Este comportamento às vezes é criticado, mal interpretado pelas pessoas do meu convívio, principalmente aquelas que apresentam certa rigidez e não conseguem usar de flexibilidade. Nem por isso mudo meu direcionamento. Uma das frases que ouço muito de pessoas maduras é a seguinte: "Gostaria de ter a cabeça de hoje no jovem que fui ontem". Pois bem, consigo este equilíbrio, mesmo já tendo a "carcacinha" um pouco castigada pela passagem dos anos.

Em tudo que vivo e faço, prego sempre a importância de buscar a felicidade, mesmo que alguns pessimistas afirmem ela não ser possível. Se para você, ser feliz significa correr atrás do Trio Elétrico da Ivete Sangalo durante algumas horas, me chame que eu vou. Com certeza teremos momentos maravilhosos ao darmos aquelas fantásticas "voltas no Trio". Axé!

"Faça a diferença no seu modo,
De pensar
Veja a vida sempre com um toque,
De emoção
Diga que vai gostar de transmitir
Só o que é bom
Nada vai destruir o que há dentro
De você."
(Ivete Sangalo em Coisas Maravilhosas)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

VIAJANTES

Estou de passagem. Tenho em mãos um bilhete com dia e hora marcados, aguardando o momento do embarque. Esta é a única certeza que trago em relação à vida que parece mais efêmera a cada dia que passa.

Quando penso em matar o tempo, percebo que ele me leva junto, que os minutos escoam-se por entre os dedos, sem que eu consiga retê-los. Nesses momentos, constato minha impotência diante desse senhor de todas as vidas, de todas as horas. Noto a ação do tempo numa flor perene, à tez da minha pela que já não apresenta o mesmo viço.

Quando chega a hora do embarque de alguém que amo, tenho a prova que posição social, status, finanças, prestígio, fama, enfim, nenhum desses fatores influencia para que se consiga remarcar a passagem. O condutor aguarda na porta e estende a mão para recolher o bilhete. Implacável.

Como amante da música e arte de Michael Jackson, vivenciei essa realidade com sua partida esta semana. Grudei os olhos na TV durante a homenagem póstuma ocorrida em Los Angeles, como a querer prorrogar por mais algumas horas sua doce presença em minha vida, mesmo sabendo que ele voara dias antes.

Em não havendo recursos e sabendo que uma dia (espero que bem distante) eu também faça a passagem inevitável, resta fazer minhas as palavras de Michael em I'll Be There:

I'll reach out my hand to you
I'll have faith in all you do
Just call my name
And I'll be there.

ESTÍMULOS

Não é que eu teime em ser jovem
É que sua presença remoça-me sobremaneira.
Não é que eu queira viver muito
É que seu carinho prolonga-me deveras.
Não é que eu queira virar semente
É que seu amor me traz sensação de eternidade.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

COMPASSO DE ESPERA

Vivo um inverno emocional. E como sou "metida", pouca coisa não me serve; este inverno é no estilo europeu: Muita gelo cobrindo as pastagens, flocos de neve flutuando no ar e um frio de bater os dentes. Que estação rigorosa!

Como acontece no solo daquele continente, meu coração também apresenta uma crosta gelada, no que diz respeito aos afetos. Criou em torno de si uma capa fria que desencoraja quem deseja explorá-lo. Alguns corajosos tentam, mas não conseguem romper as barreiras criadas naturalmente por condições alheias aos seus desejos. Os medrosos desistem ante à menor perspectiva de dificuldade.

Mas nem por isso seu ambiente é inóspito. Este coração, após um longo outono, apenas condicionou-se a sobreviver na adversidade. Por ele passam sentimentos, ainda que sufocados pelo solidão desta reclusão necessária. Espera ainda pela alegria de um adulto que se faça criança na brincadeira com bolas de neve.

Cavando seu solo, ainda que bem profundo, pois a camada de gelo é espessa, será possível perceber que existem plantas com as raízes vivas esperando o degelo e os raios de sol que possibilitarão sua rebrota. Há também muitas sementes em estado de dormência, prontas a romper suas cascas na estação propícia.

E quando a primavera chegar, vicejarei, com esplendor e beleza, mesmo que a dureza do inverno passado seja lembrada, porém, sem ofuscar a luz do presente. Meu coração, um fiel depositário das emoções, aprendeu o sentido da palavra razão. Hoje ele entende e assimila que escuridão é simplesmente ausência de luz e que na obscuridade se aprende a ter coragem para uma entrega plena, com toda força e ternura que lhe são peculiares, quando o momento oportuno chegar.

"Já choramos muito
Muitos se perderam no caminho
Mesmo assim não custa tentar
Uma nova canção
Que venha nos trazer
Sol de primavera
Abre as janelas do meu peito
A lição sabemos de cor
Só nos resta aprender."
(Beto Guedes)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

QUANDO FALA O CORAÇÃO

Não me fizeste necessária.
Andei pela tua vida e não me notaste
Caminhei horas a fio ao teu lado e não me enxergaste
Tanto amor tive, tanto amor senti, tanto amor ofereci...
Não fui notada, não fui necessária.
Esperei um gesto, uma palavra, um toque de mão
Esperei um olhar, um sorriso, um aceno...
Não me fizeste necessária.
Não deixaste que eu participasse dos teus momentos, como atriz principal, nem coadjuvante. Negaste-me qualquer papel.
Negaste-me a oportunidade de dar amor
Negaste-me o direito de receber amor
Negaste-me a alegria de doar vida
Negaste-me a dádiva de receber vida...
E eu, que nada sei negar, ironicamente, nego-me a sentir rancor.

"Eu vou contar pra todo mundo
Eu vou pichar sua rua
Vou bater na sua porta de noite
Completamente nua
Quem sabe então assim
Você repara em mim."
(Ana Corolina em "Nua")

segunda-feira, 8 de junho de 2009

REMINISCÊNCIAS

Hoje, por breve momento, fechei os olhos ao presente e entrei num túnel de lindos momentos, gravados nas memórias de um passado situado num tempo distante. Recuperei alguns fragmentos de lembranças, com os quais fui montando um quebra-cabeças.

Verdes campos, riachos de águas limpas com peixinhos a nadar. Atiro pedras na água que saltitam, criando um efeito de luz e sons indescritíveis. Sinto um cheiro agradável de terra molhada aos primeiros pingos da chuva primaveril e minha visão se maravilha com as flores que anunciam a estação. Antecipo, na imaginação, a celebração pela brota das pastagens, comemorando a renovação da vida com a natureza em ação.

Tendo chuva abundante, haverá colheita farta. Caso contrário, iremos em procissão pela estrada pedregosa até o cruzeiro cravado na parte mais alta da propriedade, com garrafas d'água e flores do campo nas mãos, pedindo ao santo protetor que não nos deixe faltar o alimento de cada dia. Mamãe rezará o terço enquanto sua prole a seguirá, respondendo em coro a oração da Ave-Maria, entoando cânticos sacros, sem perceber a autoflagelação provocada pelo contato das pedras em nossos pés descalços. Afago o cão de estimação que nos segue abanando o rabo, perseguindo os pássaros que ousam atravessar nosso caminho. Meu semblante é alegre; nas faces estampo um rosado saudável e expressão de felicidade.

De repente o soar de uma sirene interrompe a viagem, obrigando-me a fechar os olhos ao passado. Subitamente me vi em meio à cor cinzenta das construções de concreto, com cheiro da poluição dos carros, dos sons que ferem meus ouvidos. Os olhos ardem, a visão fica turva, não sei se pela fumaça poluidora ou pelas lágrimas que insistem em brotar, motivadas pela saudade de um tempo e de pessoas que vivem apenas nas lembranças.


"Eu queria ter na vida, simplesmente
Um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca, de varanda,
Um quintal e uma janela,
Para ver o sol nascer".
(Gilson em Casinha Branca)

sábado, 6 de junho de 2009

EXISTE VIDA "ALÉM DE"

Nos caminhos em que passeias há marcas dos meus passos.
Vivi as emoções e encantos de um vestido branco e buquê de rosas nas mãos. Senti as alegrias e desventuras da convivência ao lado da cara-metade. Perdi espaços, sabiamente construí mundo novo. Engavetei amizades, enchi um baú de outras tantas. Enclausurei-me por vontade própria no universo que criei. Abdiquei de muitos sonhos em razão de motivos que considerei justificados. Sabotei meus desejos, crescimento, música, poesia em função de um relacionamento de juras eternas.

Nos caminhos em que passeias há sinais de minhas lágrimas.
Vivi as agruras do desenlace. Em vida! Senti o rompimento dos laços afetivos, como um sanguessuga que não sobrevive sem o sangue da sua vítima. Atirei-me num mar de sofrimento, e só enxergava o bote salva-vidas que partia do barco que já navegava outros mares. Estive no limiar entre razão e loucura, só recuperando a lucidez quando me senti abandonada por todos.

Nos caminhos em que passeias, perceba, há sinais de perdão.
Amei, fui amada. Perdoei, fui perdoada. Por isso, nesse caminho não restou ressentimento pelo que foi, pelo ciclo de vida que encerrou-se. Se hoje estou na contramão da estrada, saiba que é uma preparação para refazer o itinerário; com novos objetivos, novos sonhos e sem cara-metade. Há que se ter aprendido a viver com sabedoria. Há que se ter aprendido a cair, levantar, curar as feridas e seguir. Quando entrelaçar as mãos para nova caminhada, quero que ambos estejamos inteiros. Não há mais lugar para cavalos brancos, carruagem, príncipe e princesa. Também não existem sapos. Tenho aprendido a não endeusar quem encontro pelo caminho e por outro lado, meus olhos estão mais condescendentes, exergando nos defeitos do outro pontos de melhoria em mim. É o amadurecimento se fazendo presente. São as experiências sofridas do ontem contribuindo para a construção de um hoje mais equilibrado e de um amanhã... Ah, o amanhã! Esse é um mistério que somente a Deus pertence!

"Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar"
(Milton Nascimento em Encontros e Despedidas)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

PRESENTE DIVINO

Mari fez aniversário no mês de maio. Para comemorar essa data juntamente com os colegas de trabalho, planejou um café-da-manhã caprichado. Para tanto, no dia anterior à data, se esmerou no preparo de um bolo de fubá, fez compras de leite, sucos e frios, além de encomendar pãezinhos especiais à padaria do bairro. Tudo com muito carinho. Pela manhã comemoraria no trabalho; à noite, em casa, com alguns familiares e amigos.

Após a comemoração matutina, que agradou à todos, por volta das 10:00h recebeu um comunicado da secretaria à qual é vinculada que haveria uma reunião na sede ao final do expediente, de suma importância, e sua presença seria relevante. Acatou a convocação meio a contragosto, visto que se atrasaria para a festinha em familia, além do que a referida secretaria localizava-se fora da rota da sua linha de ônibus. Seu chefe imediato também fora convocado e ofereceu-lhe uma carona até o local da reunião.

Quando se dirigiam à secretaria, Mari resolveu tentar uma estratégia: "Se eu reclamar que vou me atrasar na chegada em casa, pode ser que o chefe se ofereça para levar-me", pensava. Cogitava essa possibilidade, pensando que seu superior seria generoso, em virtude daquela data especial. A reunião se atrasou e Mari se exasperava à medida em que o tempo corria. E fazia questão que o chefe percebesse sua impaciência, tecendo comentários sobre o fato.

Quando saíram da renião já era noite e o chefe disse:
- Mari, deixo você no local mais acessível para que tome seu ônibus.
À muito custo, ela conseguiu controlar-se para não demonstrar decepção e resignada, indicou-lhe o local onde teria duas opções de transporte coletivo. Mal ele estacionou o carro, Mari viu passando um dos ônibus que fazia a linha. Então ela pensou: "Meu Deus, como estou sem sorte hoje!" . Na sua ansiedade, já visualizava o próximo coletivo abarrotado, vagaroso, calculando cerca de quarenta minutos para chegar a seu destino.

Antes mesmo de concluir seu pensamento, viu estacionar próximo à parada, completamente vazio, um ônibus que trazia no itinerário as palavras "fora de serviço". Mari percebeu o motorista manipuladdo o painel à sua frente, e de repente, como num "milagre de aniversário", no letreiro brilhava o nome da sua linha. Naquele momento Mari refletiu e constatou que Deus providenciara para que ela tivesse ali a compensação pelo tempo dispensado para alegrar a vida de alguns colegas naquele dia. Instalada confortavelmente numa poltrona ela elevou seu pensamento até Aquele que fizera-lhe um carinho especial, agradecendo por mais um dia de vida, chegando calma e tranquila à sua parada. Em vinte minutos estava em casa abraçando alegremente seus entes queridos.

"Tudo em nós funciona perfeitamente bem e em harmonia com a natureza. O que há de bonito no dia de hoje? Procure reparar, porque esta é a melhor imagem de você mesmo. Deus está em nosso cotidiano, espera que notemos Sua presença. Toda manhã, Deus nos mostra o Seu sorriso." (Paulo Coelho)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

RESIGNAÇÃO

No lampejo do seu olhar, nota-se a tempestade
A onda revolta ainda assusta o coração descuidado
Tentas sobrepujar seus desejos, suas vontades
Experiências vãs, promessas quebradas.
Em suas ações a ternura ainda é presente
No baú que emerge lindos momentos vêm à tona
Tentas disfarçar sentimentos, saudades recentes
Recriam-se expectativas, repetem-se as dores.

No embarque, a certeza que será eterno
Enquento navegas, a esperança de torná-lo possível
Em terra firme, a contragosto, aceitas o irrealizável.

"Navegar é preciso; viver não é preciso". (Fernando Pessoa)

domingo, 17 de maio de 2009

PERSISTÊNCIA

Insisto em amar. Por mais que me decepcionem, por mais que meus sonhos sejam frustrados, não desisto: Amo mesmo! E não falo só do amor carnal; muitas vezes o amor fraternal também da rasteiras. Daquelas de cair com a cara no chão! Normalmente é essa a sensação que tenho ao me defrontar com amores e amizades infrutíferas. E ela se manifesta em virtude das expectativas criadas em torno dos meus relacionamentos, dos meus afetos. Estou sempre esperando um retorno que nem sempre vem.

Por outro lado, ninguém é obrigado a devolver-me aquilo que devo doar sem interesse, embora afirmem que "amor é troca". Desde que seja natural, concordo plenamente. Desde que não haja cobrança, assino embaixo. Então porque professo essas idéias altruístas em relação a afetividade e tropeço no momento de racionalizá-las? Muito bem: Chegamos ao "x" da questão. Racionalidade! Como usar a razão se sou toda emoção? Como usar o cérebro, se em mim, no lugar restrito a esse, vive um coração?

Diante de tantos questionamentos (para os quais ainda não tenho respostas), resta-me seguir amando. Tropeço aqui, levanto logo à frente, aprendo algumas lições que agrego a esta personalidade de eterna aprendiz do comportamento humano e do conhecimento de si mesma. Tenho a impressão que viver é isso aí: Sentar no banco da escola, aproveitar o máximo do conteúdo ministrado e tentar passar de ano. Mas para que o aprendizado seja proveitoso é necessário que haja um intervalo para o recreio. É preciso refrigerar a alma para que a caminhada se torne mais agradável. E cabe a cada um precisar quando e onde fazer seu "coffee break", procurando ser feliz "apesar de de".

" uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente." (Clarice Lispector)


segunda-feira, 11 de maio de 2009

TEMPO PROPÍCIO

Teimo em sentir a temperatura ardente. Algo me diz que estou na contramão das estações. Lá fora um vento suave traz a certeza de que o outono pronuncia-se. Minhas emoções recusam as sensações mornas e dias nublados. Meu corpo quer o calor do sol que faz o sangue ferver nas veias, circulando esse calor até o transbordar, como num vulcão em erupção. Minha alma é que determina essas atitudes, apesar de sentir que a mudança será inevitável. Mas a quer gradativa, com suavidade.

Apesar da estação contradizer-me, ainda é verão em tudo que vejo e sinto. Não é o momento de usar meia-manga, não é tempo de recolher-me, temendo o friozinho que chega ao cair da noite. Vivo a alegria das manhãs ensolaradas, de céu azul e algazarras de pássaros nas copas das árvores. Inspiro o cheiro bom que imana da terra molhada ao cair dos primeiros pingos da chuva passageira, contrastando no espaço com o sol brilhante. Sinto desejo de correr, dançar, cantar sob essa chuva e se houver enxurrada, colocar nela meu barquinho de papel, imaginando-o um grande transatlântico a deslizar sobre um mar azul.

Infantilidade e imaturidade? Não, não! O que não posso e não quero, ainda, é aceitar uma estação que não combina com meu estado de espírito. Quando chegar o momento propício do outono se instalar no meu viver, tenha a certeza, me aconchegarei, confortavelmente, em seus braços.

"Envelhecer, certamente com a mente sã
me renovando, dia a dia, a cada manhã.
Tendo prazer, me mantendo com o corpo são
eis o meu lema, meu emblema, eis o meu refrão."
(Lema, com Ney Matogrosso, de Carlos Rennó e Lokua Kanza).

P.s. Texto escrito para meu níver de 4.8 em 12/05/2009. Vixe!)