domingo, 25 de outubro de 2009

É TRANSA E TANTO FAZ?


"Quando se quer mais, a gente diz bye, bye..."

A frase acima é parte da canção "Transas", uma balada romântica dos anos oitenta, interpretada pelo inglês radicado no Brasil, Ritchie. A letra fala das relações modernas, onde o que se busca são relacionamentos casuais e quando há envolvimento emocional, fatalmente uma das partes provoca o rompimento em vista de assumir compromissos. Esse comportamento foi detectado há mais de trinta anos e até hoje persiste. Corrijo, hoje, na maioria dos casos, nenhuma das partes arrisca um envolvimento mais complexo, principalmente em se tratando de pessoas maduras.

Quem já viveu uma relação duradoura e está à procura de novo amor, muitas vezes se apresenta como uma sinopse de obra fechada: Já tem estória definida; não abre espaço para novos personagens, novos enredos. Seu dia-a-dia baseia-se na dedicação ao trabalho, filhos e amarga certa solidão que permeia sua vida meio insonsa. Porém, se envolve. E quase sempre rompe, não sem antes ter mantido um contato íntimo. É comum recorrer à tratamentos psquiátricos e psicoterápicos, como se ambos fossem capazes de preencher a lacuna aberta na alma. Na contramão, vem aquele que por motivos vários ainda não conseguiu manter união estável e sempre que essa possiblilidade surge, por medo do desconhecido, de perder sua individualidade, acaba pondo fim à todo relacionamento que poderia ser muito prazeiroso. Nos dois casos, fica a frustração de que tudo não passou de uma transa. Apenas.

Pergunte a um solteiro maduro próximo à você, qual sua opinião a respeito do sexo oposto quanto à seriedade das relações amorosas. Ele responderá com certeza: "Não querem nada com nada; só ficar!" É isso mesmo! Homens e mulheres nessa idade conjugam largamente o verbo "ficar", acreditando ser uma conquista da vida moderna. Querem recuperar a adolescência que acena ao longe, diante das indisfarçáveis rugas e fios brancos nos cabelos. E estão cada dia mais sós. Relacionam-se pelo internet, via torpedos; perdem o contato físico-afetivo tão necessário a uma boa saúde emocional. Lotam consultórios médicos; fomentam a indústria farmacêutica! Em muitos casos , buscam refúgio nas bebidas e drogas. Por medo de perder espaço em seus confortáveis mundinhos egoístas, renunciam à possibilidade de viver uma estória de amor. Assim seguem numa busca contínua de afetos pelos quais não aceitam correr riscos.

Confusão não? A quem atribuir culpa? Como reencontrar caminhos que levam a uma relação duradoura e feliz, sem querer escapar na primeira encruzilhada?

Bom seria seguir à risca a receita de Paulo de Tarso em Coríntios I, cap. 13: 4 , 5 e 7: "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbesse; não se porta inconvenientemente, não busca seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta."
Acha que precisa acrescentar mais algum ingrediente? A dose exata de qualquer deles, cada um de nós decide como e quando usar, na medida em que sentir-se capaz. Não vale alegar imaturidade por toda uma vida! Além de todos os ingredientes citados por Paulo de Tarso, eu sugeriria uma dose grande de coragem. Assim, com certeza, agiremos com sabedoria e trocaremos a inconstância do verbo "ficar" pela estabilidade do verbo "amar".

"Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho." (Tom Jobim em Wave)

sábado, 24 de outubro de 2009

AMOR DE CORPO E ALMA

"É preciso amar direito" diz a frase da música "Amor Maior" de J Quest. Ouço essa música pensando em como gostaria de tê-la escrito! Nela o autor da letra revela seu desejo de amar intensamente, descrevendo um sentimento que desconhece, embora saiba definí-lo com exatidão.

Ocorre algo análogo comigo. É comum, no meu dia-a-dia, desejar comer algo, mas ao contrário do autor da letra, não sei exatamente o que procuro. Chego sentir na língua o sabor desse alimento. Ando pela casa, procuro nos armários, geladeira, acabo beliscando um petisco, mas o desejo continua latente, sem que seja satisfeito. Na vida afetiva vem acontecendo o mesmo. Tenho provado tantos sabores em busca de realizar sonhos e saciar desejos, contudo, o vazio persiste. A cada nova investida imagino ter encontrado o par ideal, porém, à medida que vou degustando, começa o sentimento de insatisfação. E a procura incessante continua.

Um amigo evangélico aconselhou-me a procurar refúgio no amor Divino. Alega que satisfação completa somente aconchegando-se no amor imensurável do Altíssimo. Por enquanto discordo dessa teoria. Se Deus não quisesse que necessitássemos de outro ser para termos uma sensação de completude, não permitiria essa dependência de afeto humano para nos sentirmos mais felizes.

O sexo é necessidade do corpo e o amor é alimento da alma. É preciso que ambos estejam contidos num relacionamento. Talvez por isso tanta busca. Tenho satisfeito somente o corpo, enquanto a alma persegue um sentimento maior. Quando o encontrar, certamente saciarei essa fome de afeto que vai muito além dos instintos. E esta esperança é o amor Divino que me traz.

"Eu quero ficar só
Mas comigo só eu não consigo
Eu quero ficar junto
Mas sozinho assim não é possível
É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço..." (Amor Maior com J Quest )

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

EXERCITANDO A PACIÊNCIA

Estou fazendo fisioterapia. Havia alguns meses, capengava da perna esquerda e a Reumatologista tratava o caso como inflamação do nervo ciático. Usei medicamentos anti-inflamatórios, sem obter resultados. Após alguns exames, ela resolveu arriscar outro diagnóstico: Encurtamento de músculo do membro inferior esquerdo, ou seja, exagerei nos exercícios ou não fiz o alongamento adequado, antes e após a prática de atividade física. Resultado: O músculo encolheu e decidiu que não iria mais atender às necessidades básicas que a perna exigia. Academia, então, fora de cogitação! Subir um simples degrau causavam-me dores muito desagradáveis. Diante do quadro, ela encaminhou-me a um um fisioterapeuta para iniciarmos o tratamento de reabilitação.

Consegui um profissional credenciado pelo meu plano de saúde numa academia próxima à minha casa. Dei sorte logo de cara, pois o dito cujo é um gato! E gente boa pra caramba! A primeria sessão foi bem ligth. Aliás, ligth demais para meu gosto! Quem já utilizava caneleiras de até sete quilos para exercitar pernas na academia, teve que se contentar com um mísero quilo. Voltei ao bê-á-bá! Estou na pré-escola! Haja paciência!

Mas o tal fisioterapeuta-gato, na segunda sessão, se transformou num leão e mostrou suas garras. A metamorfose ocorreu no momento final: A criatura transformada se agarrou às minhas pernas para alongá-las. Confesso, há muito não sentia dores tão horríveis! Apesar das reclamações, o belo continuava impassível, naquela contagem muda que parecia infinita. Ameacei esmurrá-lo e ele nem se importou. Naquele momento, cogitei a possibilidade de abadonar o tratamento, mas no dia seguinte, notei que ao subir um meio-fio, a dor diminuíra de intensidade. A partir de então, voltei a enxergar o felino como um dócil bichano, percebendo que ele estava certo na sua conduta. Dei o braço à torcer e hoje estou na nona sessão, feliz da vida, porque, acredite, ele usou caneleiras de dois quilos nos exercícios de fortalecimento do músculo lesionado. Estou progredindo!

Não posso deixar de correlacionar essa fase de tratamento à certos momenos de vida que já enfrentei. Lembrei-me da alma machucada, contundida, dolorida! E tal qual ocorreu com o músculo da perna, a responsável pelas lesões emocionais foi somente eu. Tinha completa noção de que agia de forma irresponsável, acusada pela minha consciência, e mesmo assim, "peguei pesado". Como consequência, dores e mais dores. E o "Fisioterapeuta-Maior" também não me poupou. Não pense você que naqueles momentos sofridos, fui sábia o suficiente para aceitar o tratamento aplicado com resignação. Como me rebelei! Agindo assim, constatei que as dores aumentavam e, consequentemente, o período de recuperação se tornava mais longo.

Em todos os aspectos da vida, a Lei de Causa e Efeito é inexorável. Sem as correções que ela nos impõe, o espírito seguiria como um cavalo sem rédeas e não haveria possibilidade de evolução em qualquer nível. A recompensa, após cada acerto de contas, é sentir a alma recondicionada e mais forte, assim como acontece também com o corpo físico. Hoje aguardo com ansiedade o dia em que receberei liberação médica para praticar atividades físicas sem restrições, porém com responsabilidade, consciente das limitações que o corpo exige. Quanto a alma, está leve! Já recebeu alta do "Médico" dos médicos e segue vida afora lépida e fagueira.

"Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nessa roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu na vida..." (Gonzaguinha em Eu Apenas Queria que Você Soubesse)

domingo, 11 de outubro de 2009

LOVE IS IN THE AIR

Existe algo de novo no ar. Com ele, as cores da primavera, o aroma das flores, cheiro de terra molhada. Há no coração, o desejo de colorir a vida com várias matizes e colocar quadros novos nas paredes recém-pintadas. As janelas da vida estão se abrindo e a claridade invade a alma que habitava um quarto fechado a espera de luz.

É tempo de limpar gavetas, espanar poeira, deixar que espaços vazios sejam ocupados pelo novo. É momento de substituir fotos dos portarretratos, varrendo da memória imagens gastas pelos anos. Não há tempo para lamentar o que passou; sobra tempo para celebrar o que se apresenta pedindo licença para tomar posse.

O jardim da vida começa a desabrochar tal qual minirrosas de variadas cores. Os caminhos antes estreitas agora são estradas de mão-dupla que permitem transitar sem pressa e atropelos. É ocasião para desfrutar plenamente da companhia de caminhada, apurando os ouvidos, sentindo a música que ecoa alegremente no ar.

Os sentidos aguçados percebem que a felicidade acena insistente, querendo se instalar. É preciso agarrá-la e tentar retê-la o máximo de tempo possível, tendo consciência da sua finitude, extraindo dela toda alegria que puder. A felicidade vivida num segundo, irá ocasionar lembranças inesquecíveis para a eternidade.

sábado, 3 de outubro de 2009

EM BUSCA DE MIM

 Tendo andado atenta. Me procuro no menor ato, nas menores atitudes... Não que esteja totalmente perdida, talvez ande em círculos, pois reconheço algumas pegadas. Em certas encruzilhadas tenho dúvidas e uso da razão para decidir o certo. "Mamãe mandou escolher..." soa infantilizado e mesmo à contragosto é necessário crescer.

Analiso itinerários. Não quero desencanto na chegada, no desfazer das bagagens... Aceito curtas temporadas, mas plenas em alegria e prazer. Se for uma cabana, que seja aconchegante, com cama limpinha e cheirosa, com sol radiante pela manhã e brisa serena no entardecer. "Chorar sobre o leite derramado" é ditado eliminado e mesmo errando é imprescindível sorrir.

Meus olhos estão em alerta. Ao menor movimento fotografo, examino, escolho, posto... Só coleciono imagens que acrescentem cores ao que já sou, que destaquem minha luz. Corto qualquer "bicão" que ouse invadir meu espaço, querendo roubar minha cena ou se passar por íntimo. "Antes mal acompanhado do que só" é uma inversão inaceitável e mesmo sozinha é mister sair bem na foto.

Minha alma anda inquieta. O novo acena como ameaça à quem se acostumou ao marasmo... É preciso me arriscar na colheita de um fruto doce, ainda que abelhas rondem. Vou em busca do maior, mais apetitoso, sem importar quantos galhos terei que escalar. "Eu quero, eu posso, eu sou" é frase gravada no subconsciente e mesmo que desconheça minha coragem é imperativo vencer o medo.