terça-feira, 21 de dezembro de 2010

LIMIAR











 
 

A porta ainda está aberta. Encolhida num canto, esguia o olhar e nota indefinição. Se ameaça avançar, percebe uma simulação de fuga. Se recua, uma silhueta é projetada na claridade vinda do corredor. Escura é aquela sombra. Confuso é o coração...
Se ignora a presença, a esperança acena distante. Se alimenta a esperança, a presença se mostra incerta. Se desejo e expectativa não namoram, corações não se entrelaçam...
E mesmo tudo sofrendo, tudo crendo, tudo esperando, tudo suportando, por força do Divino, haverá de crer também na força incessante do sentimento?
Exausto coração... Esperanças quase finitas. 
Diferentemente da sombra,  que pode extinguir-se num fechar de porta, o desfecho do amor pode estar contido no simples ato de deixar a vida entrar.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

SURREAL


A saudade vem na tarde quente de primavera com aspecto de verão
  Impulsionada pelo desejo, abro o baú de emoções contidas
Vasculho as lembranças e o trago de volta num véu de esperança
Agarro-me às sensações do ontem, e, sem pudor, busco suas mãos
No limiar entre alegria e dor, te toco, te sinto, te beijo
Num contato irreal, sua respiração aquece meu rosto
De olhos abertos, permito que seu corpo possua o meu...
Debato-me entre um despertar necessário e a delícia do sonho
Arrisco-me  permanecer na ilusão do mágico reencontro 
E após navegar nas emoções do amor naufragado no tempo
 Como um barco, atraco-me, serenamente, no cais.

AMOR... ONDE ESTÁS?


Procurei o amor em belas imagens
Tentei encontrá-lo em  lindas paisagens
Não o vi...
Busquei o amor em belas cenas
Tentei enxergá-lo em lindos poemas
Não o vi...

A essência do amor revela-se  em gestos que não saltam aos olhos...
Na entrega, a beleza
Na renúncia, a nobreza
No perdão, a certeza.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

DESPERTAR


Novembro é um mês para alargar horizontes e respirar aliviada... Assim disseram os astros para os nascidos sob o signo de Touro. Estou realmente leve... De  corpo, alma e coração. Meu íntimo pedia tempo,  minha alma reclamava descanso e o coração exigia razão. Resolvi atender os três. Isso gerou uma tranquilidade!
Poderia até dizer que "estou feliz como mulher de vassoura nova na mão!" 

Talvez as experiências emocionais malsucedidas tenham ocorrido em virtude da adolescência ter se prolongado em mim além do normal. Acredito que depois dos 18 não houve maturidade necessária para que eu enfrentasse os desafios da vida com atitudes adultas.  Pois bem, agora peguei no tranco! E estou sentindo meus passos mais seguros,  ao abdicar da personalidade sonhadora,   encarando o desabrochar inevitável da mulher madura.  Preciso demolir o castelo no reino encantado e   com o que sobrar, construir minha casinha no mundo real. É momento de aprender a beijar os sapos e no abrir de olhos, percebendo que não se transformaram  em príncipes, ainda assim,  considerá-los dignos de serem parceiros de caminhada.

É o momento de assumir posições corajosas diante de mim mesma, nas questões íntimas.  Colocar os óculos de 3 graus para observar a imagem refletida no espelho é uma delas. Não adianta mais querer camuflar as marcas do tempo com uma visão turva. Elas estão lá, apesar de querer ignorá-las! Sei  também, que cada uma delas representa  emoções vividas, dor superada. Porém, permita, por gentileza, que por algum tempo  eu adote uma conclusão ilusória a esse respeito: Tais "acessórios" de pele não combinam com a personalidade jovial que insisto em ostentar! Talvez nunca as considere importantes, como alguns artistas costumam definir as suas. Se  as marcas mais profundas são provocadas por expressões de dor,  haverá poesia  em observar um sulco na face? Ah, nem vem!

Na minha cabecinha ainda em reboliço,  cultivo uma idéia que é um verdadeiro paradoxo: Gostaria de morrer jovem, mas não com pouca idade. Insanidade total.  Sei que irá pensar assim!    Contudo, para uma criatura que na rede social se define como "a louca equilibrada", o pensamento é coerente. Minha esperança é que  aquela estória da fonte da juventude ainda se torne realidade? Eba!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

RECÍPROCO



Quando do meu lábio uma sílaba saiu
Teu olhar me viu
Quando seus dedos uma nota tocou
Meu olhar te fitou
Quando em meu rosto um sorriso existiu
Tua fisionomia se abriu
Quando de você  o convite brotou
Minha alegria aflorou

E assim o encontro se fez
Era nossa primeira vez
Revelou-se grande afinidade
Criou-se tamanha intimidade
Bastou uma voz e um violão
Para a vida se fazer canção
Bastou um violão e uma voz
Para a  vida fluir de nós.

domingo, 17 de outubro de 2010

LÁGRIMA DE CHUVA


A chuva cai
O calor se vai
A lembrança trai

Saudade da pele tua
Das tuas mãos no corpo meu
De tua boca a me beijar

Saudade, doce saudade
Por que com a chuva vieste
Para me fazer chorar?

A lágrima rolou
A chuva passou
O olho então brilhou.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CONTRADITÓRIA


Hoje acordei com não sei o quê...
Senti desejo de berrar
Emudeci
Senti desejo de esmurrar
Acarinhei
Senti desejo de sorrir
Chorei
Senti desejo de abraçar
Encolhi
Senti desejo de odiar
Amei.

Pensei compor uma canção bela
Um verso rabisquei
Quis cantar e pular na chuva
Presente o sol se fez.

Hoje acordei com não sei o quê...
Por fora  me vesti de negro
Por dentro não sei.

sábado, 25 de setembro de 2010

RENOVAÇÃO



No último dia 23 a primavera chegou ao hemisfério sul. Com ela, o colorido e o perfume das flores,  a esperança de que os primeiros pingos de chuva venham refrescar o calor e amenizar o clima seco que castiga a região centro-oeste.

Assim como ocorre no planeta, o ser humano também vivencia as mudanças de estações em si mesmo, através das experiências naturais, que mesmo se repetindo, são sempre diferentes no conteúdo.

Em se tratando de relacionamentos amorosos, porém,  é comum encontrarmos indivíduos que se recusam a aceitar tais mudanças. Apresentam feridas permanentes -  decorrentes das podas necessárias -  nas quais não permitem que nascam brotos. Declaram-se incapazes de experimentar novas emoções com plenitude. Assumem  a postura do "mais ou menos" em suas ligações afetivas e ao constituirem nova parceria, agem levianamente com o outro,  ignorando responsabilidades no ato de cativar. Enfim, por medo  de sofrimento, fecham os olhos às  belezas e alegrias que uma nova estação traria.

A essas pessoas fica a certeza que, mesmo que o tempo não seja  propício,  as estações trocam de lugar. Sim!  Ainda que os processos naturais se atrasem, a chuva não caia no momento previsto, os jardins florescerão e serão povoados por lindas borboletas! As Mudanças poderão  ser retardadas mas não definitivamente ignoradas.  Há uma frase que reforça bem essa idéia, com a qual  Cecília Meireles inicia lindamente um texto sobre a estação das flores:  "A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

MELANCOLIA

Saudade de quem me tocou por dentro
Sem que por fora me sentisse
Saudade de quem me despiu a alma
Sem que minha ingenuidade explorasse
Saudade de quem percebeu minha assência
Sem que uma palavra eu dissesse
Saudade de quem fantasiou minha imagem
Sem que da minha existência soubesse
Saudade de quem me amou por inteiro
Sem que de mim,  ínfima parte conhecesse
Saudade de quem me viu como luz
Mesmo que fagulha, apenas, eu fosse.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DEMOCRACIA: QUANDO SERÁ?

Um amigo enviou-me no último domingo o vídeo de campanha do candidado Tiririca, já visto pela maioria dos brasileiros. Enquanto alguns o consideram uma afronta ao processo eleitoral, outros se divertem a até concordam que a nossa democracia faz jus a comportamentos dessa natureza. Ele pediu que eu escrevesse algo sobre o atual momento da política brasileira. Não é fácil esta empreitada, amigo Eduardo! Na verdade, chega  ser um martírio falar deste tema!

Vou confessar sem medo de ser execrada: Estou fora do processo eleitoral de 2010! Sei que  amigos queridos irão criticar esta atitude e até eu, admito, fico com aquela sensação de covardia... Por outro lado, não tente convencer-me do contrário! Os argumentos que você iria apresentar, com certeza eu já ouvi repetidas vezes e em vários pleitos.  Quando me dá aquele frio na espinha, do tipo  "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"eu "salto de banda"  buscando um galho bem alto para subir, esperando que a fera passe e eu sobreviva. Com licença, quero me abster! Se escolho votar num "mascarado assumido" como o palhaço Tiririca, sei a m... que estarei fazendo. Se contribuo para eleger um "cara limpa", com certeza o tempo revelará sua verdadeira máscara, e então, cara de palhaço terá esta que vos escreve.

Creia, minha atitude não é inconsciente. O que falta é consistência dos candidatos que convençam-me da sua seriedade para minimizar o problema social deste país, problema esse que é a raiz de tantos outros, objetos das promessas de campanhas eleitoreiras. E se nenhum deles passa credibilidade, furto-me ao dever cívico; renuncio ao direito de cidadã. Irei à urna e pressionarei a tecla "branco", garantindo assim que nenhuma parcela do meu parco salário seja recolhida aos cofres da União, à título de penalidade.

Desculpe, amigo, se não consegui usar de recursos poéticos  e belas figuras de linguagem para enfeitar este texto. Em se tratando do assunto em questão, a inspiração  vem, melancolicamente, apenas quando me recordo que , ainda criança,  no início dos anos 70,  eu desfilava em cima das carrocerias de caminhões, acompanhada de pai, mãe e irmãos,  com planfletos cobrindo toda a  roupa, coladas por "grude" caseiro,  lutando por um ideal que eu  pensava valer a pena . E essa luta durou até a conquista das Diretas, nos anos 80,  para eu ter,  hoje,  o privilégio de  assistir pelos telejornais  as "lições de democracia",  representadas por imagens que,  embora sem cheiro,  quando entram no ar o que se sente é um odor fétido tomando conta do ambiente.

 "Cara de palhaço
Pinta de palhaço
Roupa de palhaço
Foi esse o meu amargo fim..." ( Palhaçada de Aroldo Barbosa/Luiz Reis) 

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

LIÇÃO DE SABEDORIA

Margareth me viu em lágrimas.
Não questionou os motivos,  não  quis saber  as razões. Sem que eu nada relatasse,  fez uma colocação interessante:  -Você estava com um pequeno problema de locomoção, lançou mão de um par de muletas e agora, sã, não quer abandonar esses "apetrechos" de que não precisa para concluir sua volta no parque.  Ouvi, entre uma lágrima e aquele nó na garganta.  Comecei a pensar: De onde viria o conhecimento psicológico de Margareth, quando num exemplo simples, traduziu o medo que eu sentia?

Como eu ainda demonstrava incerteza acerca das minhas capacidades , ela continuou,  interrogando: - Você acha que sou "tora"? Respondi prontamente: Demais! Ela retrucou: -  Pois você é muito mais forte que eu. Como eu a olhava de forma interrogativa, sem que  pedisse,  exemplificou: - Quando vou à guerra, venço a batalha e estraçalho meu inimigo. Nada sobra dele!  Você, quando enfrenta uma batalha, além de vencê-la,  conquista seu adversário, fazendo dele um aliado. Isso, porque,  diferente de mim, que possuo uma força bruta, você suaviza a sua com porções generosas de doçura, característica muito especial da sua personalidade. Só é preciso não confundir esta qualidade com fraqueza, como vem sempre fazendo . Este é o  grande desafio a ser vencido em primeiro plano  para atingir suas metas,  sem derramar tantas lágrimas.

Percebi então que Margareth traz o conhecimento das muitas voltas dadas no parque. Sempre com um sorriso no rosto, a experiência de seis casamentos e uma sabedoria de fazer inveja a qualquer "letrado" nas ciências do emocional, ela me deu um tapa na cara que despertou-me da letargia, sem a necessidade de levantar a mão. Exaltou as qualidades que eu possuia, minha força e capacidade de ação. Aliás, mesmo em lágrimas, Margareth disse que eu estava linda; ela via muita luz irradiando a partir de mim.

E o melhor é que ela existe. Não faz parte do meu imaginário! É reconfortante saber que no momento necessário, ela terá a palavra certa. Ela dará um tapa, que ao invés de traumatizar, despertará aquele que chora.  Fará com que  ele abra os olhos para um mundo que, até então, ocultava-se sob o nefasto  véu do medo.

"Eu sou aquela mulher que  fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores." (Cora Coralina)

sábado, 4 de setembro de 2010

NUDEZ

Hoje li  Evelyne Furtado,  que numa crônica falava da sua angústia ao escrever e citava  nomes  famosos, como Luis Fernando Veríssimo, Zuenir Ventura, Raquel de Queiroz, os quais a gente lê,  crendo piamente que seus trabalhos literários saem do cérebro com facilidade,  e que contudo,  também confessam sofrer ao produzí-los.

Eu, que nem de longe ouso incluir-me em lista tão célebre, tampouco qualifico-me como escritora, acredite, padeço quando deixo escapar  pensamentos através da escrita. Chega  ser penoso desnudar minha alma e permitir que tantos me julguem, aplaudam e também condenem. Ironicamente, escrever é também  um ato terapêutico: cura-me as dores; expande minha alegria.

Outro motivo de aflição é a responsabilidade com uma escrita correta, dentro das normas que a Língua Portuguesa exige, responsabilidade que procuro minimizar, já que não tenho nenhum  compromisso editorial com o que escrevo.  Quando exponho meus sentimentos, só desejo que o leitor me entenda com os olhos do coração. Isso me basta.

Até o momento,  só consegui traduzir em palavras,  sensações que vivenciei  e tenho certeza que, muito mais que o leitor,  eu me emociono -  entre  risos e lágrimas -  toda vez que tiro o véu que cobre minha intimidade. Surpreendo-me com situações que só revelo através da escrita;  sem pudores, sem reservas.  Nesse estado de nudez, as palavras que saem de mim  buscam eco em outros corações  para dores e alegrias,  comuns a todo ser que acredita,  também,  possuir uma alma.

"A minha alma tem
Um corpo moreno
Nem sempre sereno
Nem sempre explosão
Feliz esta alma
Que vive comigo
Que vai onde eu sigo
Com meu coração." (Simone em "Alma")

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

TUDO POSSO...


Semana passada meu físico entrou em colapso: Uma crise de enxaqueca que estendeu-se por tempo muito longo, culminando numa crise hipertensiva,  acabou por levar-me ao hospital, onde passei um dia recebendo medicamentos, tentando reencontrar o equilíbrio.

Deitada numa maca na emergência do hospital, ligada ao soro, comecei a ouvir música no celular para diminuir a ansiedade. Selecionei um hino evangélico e me concentrei no teor da letra. Ele transportou-me a uma dimensão de grande entendimento,  onde passei  a fazer um retrospecto da minha vida,  chegando  à conclusão do quanto Deus tem feito o impossível por mim.

Durante parte dessa caminhada terrestre, tive  anjos de guarda que  acompanharam-me  de perto em momentos difíceis:  O primeiro anjo, minha mãe, que já não vive neste plano; o segundo, meu ex-marido, que assumiu esse posto logo que nos casamos. Ambos, cada um à sua maneira,  se foram.  E eu estou descobrindo até onde sou capaz de ir, contando com emissários Divinos que estão fora do meu alcance visual. E naquela dia, desde a saída de casa, eram os únicos com os quais eu contava.

Vivendo esse acontecimento,  percebi como estou fortalecida!  Percebi que existe uma pessoa com a qual posso contar em qualquer situação: Eu mesma! E é muito confortante sentir os progressos dessa criaturinha frágil, que ainda chora ao sentir o escalpe do soro penetrando na veia e necessita de afago  para acalmar-se.  E afirmo com certeza que, naqueles momentos, a presença Divina foi determinante. E é a duras penas que estou sendo levada a crescer,  quando me aproximo dos 50 anos. Deus está  me dotando de  valiosos recursos para que eu assuma as rédeas do meu destino e decida  os rumos da minha caminhada, capacitando-me para enfrentar dificuldades que, até pouco tempo, dependia da intervenção de outros tantos para vencê-las.

A saúde?  Vai bem, obrigada! Ainda não era minha hora de bater asas.

"O meu Deus é o Deus do impossível
É o mesmo hoje e sempre há de ser
O meu Deus é o Deus do impossível
E fará  impossível pra você
E fará o impossível por você!" (Aline Barros )

domingo, 22 de agosto de 2010

VERBALIZANDO


Invento rimas, imagino cenas
Escrevo poemas
Beijo retratos, acaricio imagens
Monto paisagens
Invoco deuses, clamo aos anjos
Proponho arranjos
Represento dramas, exacerbo emoções
Plagio canções
Verto lágrimas, lamento dores
Finjo amores
Oferto rosas, proporciono espinhos
Derramo carinhos
Reparto alegria, transbordo calma
Dedico alma
Ofereço colo, faço carícia
Desperto malícia
Vivo ilusões, jogo bem-me-quer
Sou mulher.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

ILUSÃO


Encaro a porta dos fundos
Sinto o ar que vem da varanda
Deparo-me com a rede a balançar...
Não, saudade, não me roube o ar que respiro!
Dê-me o direito de ainda sonhar!
Cala o gemido deste coração insano
Traga-me a visão da porta da frente
E a alegria do amor
Por ela a entrar.

"quién me va a entregar sus emociones?
¿quién me va a pedir que nunca le abandone?
¿quién me tapará esta noche si hace frío?
¿quién me va a curar el corazón partío?" (Alejandro Sanz)

sábado, 14 de agosto de 2010

ABRINDO PORTAS

Senhor...
Faça com que eu aprenda o que é amar!
E que amando, eu me torne mais gente
E sendo gente, eu aprenda a ser mais humana
E sendo humana, eu me  permita errar
E praticando erros, eu aprenda a perdoar
E perdoando, eu esteja  mais próxima de Ti.

"Qual é a chave
Qual é o segredo
Que abre as portas do teu coração?"
(Adriana em  A Chave do Coração)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

AQUI E AGORA

Quem é espiritualista, certamente já leu ou  ouviu falar do livro "Violetas na Janela"¹, que narra o outro lado da vida da jovem Patrícia. Num trecho do livro, relatando seu despertar, a protagonista e também autora observa que uma mecha dos seus cabelos, que na vida terrestre sempre comportou-se de forma rebelde, naquele ocasião estava exatamente como  sempre sonhou. E vários outros desejos,  ela notou que se materializavam conforme seu pensamento pedia.

Como a protagonista da história, percebo que muitas pessoas do meu convívio também se incomodam com algo que não está bem em sua aparência física, nos relacionamentos, no trabalho, no emocional... Alguns até esperam que na hora "h" tudo passará, tudo será perdoado e tudo ficará exatamente da forma desejada. Ou então,  se não for merecedor, queimará para sempre no "fogo do inferno"! Ledo engano! Há poucos dias, lendo outro livro da mesma linha, cujo título é "Escutando Sentimentos"²,  a autora espiritual fez uma colocação diferente do primeiro caso citado:  Em narrativa de um caso pós-morte, o falecido deseja "morrer" quando percebe que a tristeza e melancolia que o acompararam durante a vida, também faziam-se presente após o desenlace  e persistiriam,  até que  trabalhasse com intuito de promover sua própria felicidade, tendo em vista que,  em favor do semelhante,  ele trabalhara  toda sua existência.  Eu cheguei à seguinte conclusão:  Quer céu ou inferno? Construa o que desejar e leve consigo onde for.

Crenças, filosofias e doutrinas à parte, tal qual a protagonista Patrícia, eu vivia atormentada por mechas de cabelo que consumiam  horas preciosas da minha vida, tendo como par constante um secador que as acalmavam temporariamente. A cerca de dois meses, decidi não mais protelar:  Por uma quantia insignificante,  fiz um tratamento capilar,  conquistei os fios desejados e hoje saio do chuveiro direto para os "holofotes", feliz, com a certeza de estar economizando energia, tempo e paciência, exibindo as madeixas louras e sedosas que sempre desejei, buscando companhias que proporcionem mais contentamento e menos estresse que o tal secador.

O exemplo do cabelo, fútil,  admito,  eu o utilizei apenas para ilustrar meu posicionamento, hoje,  na busca pela  realização dos meus desejos. A conquista da beleza interior, sem dúvida,  é a  mais importante! E posso afirmar com certeza:  A   felicidade é deste mundo! Não é para amanhã nem depois... é agora! E nem sempre vou  precisar de recursos monetários para conquistá-la. Sair do comodismo e conformismo é ato valiosíssimo para quem deseja dar o primeiro passo.  Ser feliz é a colheita resultante das sementes plantandas através de ações e pensamentos construtivos,  e do estabelecimento de metas positivas que irão determinar a realização dos  nossos sonhos.

"Afinal, o que faz você feliz?
Chocolate, paixão
Dormir cedo, acordar tarde
Arroz com feijão, matar a saudade
O aumento, a casa, o carro que você sempre quis
Ou são os sonhos que te fazem feliz?" (Arnaldo Antunes)

1. Autora: Patrícia, psicografado por Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho
2. Autora: Ermance Dufaux, psicografado por Wanderley S. de Oliveira.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

DOCE PROCURA

Os astros anunciam, desde o mês de julho, o final do período de 3 anos  de encontros malsucedidos no amor para os nativos de touro, que se encerra com a chegada de agosto. Apesar da aridez o do tempo seco, respirei alividada. Ufa... Até que enfim terei um refresco! Além disso, eles preveem também novos amores, novas conquistas... resumindo: "Saia da frente que eu tô com tudo e estou prosa!"

Porém,  há uma recomendação crucial nessas previsões: É preciso esvaziar as gavetas, espanar a poeira, desfazer do que não serve mais. Nada de supérfluos abarrotando os amários! Nada de chorar pitangas pelo vestido tão cobiçado, que não veio moldar meu corpinho esculpido em  academia, só porque outra consumidora foi mais esperta! Nada de lamentar a perda daquilo que considerei ideal para mim, sem ter conseguido provar da sua essência, sem ter conseguido enxergar a beleza da sua alma!

Vasculhei a internet à procura de algo mais inteligente e consistente, talvez poético (na sua concepção, quem sabe) que as palavras acima e encontrei  num Blog da autora chamada Juli Lima, um poema que diz assim:  "Amar nem sempre rima com conviver. A abelha, o beija-flor, a borboleta amam as flores, não vivem sem elas... porém, não morrem por elas!" Amei! Reforçou a minha compreensão  que o jardim da vida está repleto de flores das mais variadas cores e matizes! Cada qual tem seu encanto e esperam por beija-flores, que, como eu, jamais desistem da busca pelo alimento, mesmo quando a flor preferida não oferece mais seu néctar.

"Não se admire se um dia
Um beija-flôr invadir
A porta da tua casa
Te der um beijo e partir...
Fui eu que mandei o beijo
Que é prá matar meu desejo
Faz tempo que não lhe vejo
Ah! que saudade d'ocê..." ( Ai que Saudade D'ocê, de Vital Farias)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

ROMEU E JULIETA: A VERSÃO DELA


Julieta não era jovem, nem velha
Não era feia, tampouco bela
Como toda mulher tinha anseios
    Por isso, não escapava aos devaneios
Não pense que Julieta  era triste
Imagine o mais lindo sorriso que existe
 Mas como viver sozinha não bastasse
Precisava de alguém que a amasse
     Em noites,  solitária,  na cama deitada
Sonhava que ainda seria amada
Mal sabia Julieta, enquanto esperava
Que há tempos Romeu a espreitava
Conhecerem-se numa reunião familiar
Onde, por olhares, começaram a se falar
E nesse romance não haveriam intrigas
As familias eram até amigas
Mas romeu não tomava a iniciativa
Julieta resolveu não ser mulher passiva
Atendendo aos desejos do coração
Iniciou,  pelo msn,  a comunicação
Romeu queria falhar-lhe de perto
Julieta, reticente, sabia o tempo certo
Até que um dia, vencida pela insistência
Ela aceitou minimizar sua carência
Encontrou-se com Romeu,  em noite de calor
Contudo, ele não lhe declarou amor
Julieta não imaginava que,  naquele momento
Começava a delinear seu sofrimento
Romeu, homem de bem, porém imaturo
Traria a ela um romance inseguro
Com o passar dos dias,  afirmava sentimento
    Mas em ações, nada se revelou, a contento
Agindo assim, em momento impreciso
Apagou aos poucos, de Julieta, o sorriso
Ao invés de revelar ao mundo sua força e energia
O amado abafou,  aos poucos,  sua alegria
De todos,  escondeu a poetisa que cantava
Enquanto,  de outra moça,  se enamorava...

No final dessa estória não há drama, nem veneno
Restará, com certeza,  um gostar mais ameno
Quem não ama como Julieta, mesmo tendo perdido
Jamais  entenderá, do viver, o sentido
E Romeu, relembrando  momentos, quem sabe um dia
Perceberá, tardiamente, que lhe completaria
Não a farra,  não os amigos, não a bebida
   A nobre Julieta é que lhe daria mais vida
                                                             
"Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontrre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz."
(Sonhos de Peninha)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

CRESCENDO COM AS PERDAS


"Não queremos perder,  nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização." (Lya Luft)

No último dia 21 enfrentei um desafio por amor a meu filho: Ir a um jogo no Estádio Serradourada e para complicar a questão, assistí-lo "plantada" no meio da "Fiel Corinthiana", com uniforme e tudo a que tinha direito. Alguns perguntarão:  por que desafio? Falarei  a seguir sobre alguns aspectos que certamente responderão esta pergunta.

Em primeiro lugar, devia  contar mais ou menos 10 anos que não punha meus pés num estádio de futebol. Depois, vem outro detalhe crucial:  não torço para o Corinthias!  E mais:  ficar infiltrada no meio da torcida organizada significou os dois tempos da partida em pé, pulando e berrando os gritos de guerra! Haja disposição e coragem! Principalmente quando a gente retém na memória cenas de violência que ocorrem nesses eventos... e já não se é adolescente...Paremos por aqui!

Porém, foi um desafio onde descobri ser essencial assimilarmos a seguinte lição: Precisamos muito aprender a perder. O time em questão, com um retrospecto de vitórias, era o líder do campeonato e disputou o jogo com o "lanterninha", Atlético Clube Goianiense. E perdeu! 3x1 foi o placar, para tristeza do meu filhote, que saiu de cabeça baixa do estádio e eu, de coração partido. O que uma mãe poderia dizer numa hora daquelas, que serviria de consolo a quem só acreditava na vitória?

Nesses momentos, a gente descobre que mãe é mãe em qualquer situação mesmo!  A gente se alegra junto, a gente torce junto,  a gente sofre junto.... e se cala também!  Hoje, quando a decepção da perda já está digerida, creio que o desejo de lutar já se reacendeu no coração do meu filho. Ele aprenderá, em cada episódio dessa natureza, que a vida é feita de perdas e ganhos. Vencer sempre torna a criatura orgulhosa, acomodada, porquanto não experimenta o gosto salgado das lágrimas que rolam pela face, mas que, depois de secas, permitem uma visão mais clara, e nos faz compreender que perder é parte primordial no jogo da vida. Com as perdas,  aprendemos a  desenvolver força emocional  para enfrentarmos outros desafios que virão.  Tenho a convicção que nos ouvidos do meu filho, ao invés dos rumores de comemoração da torcida adversária -convenhamos, era ínfima!-,  agora soam nítidos os gritos da "Gaviões da Fiel":

"Aqui tem um bando de loucos…
Loucos por ti Corinthians!
Aqueles que acham que é pouco,
Eu vivo por ti Corinthians!

Eu canto até ficar rouco,
Eu canto pra te empurrar!
Vamos meu Timão, vamos meu Timão,
Não para de lutar!"

domingo, 18 de julho de 2010

ELOS DE UMA CORRENTE

Semana passada estava eu na sede do meu plano de saúde, aguardando a chamada numa perícia odontológica. O televisor da sala de espera estava ligada e o assunto em questão, num daqueles programas sensacionalistas matinais, era o caso fatídido do goleiro Bruno. As reportagens tentavam acrescentar informações àquilo que já sabíamos de cor, esmiuçando ao máximo o fato, mas como os principais acusados decidiram falar somente em Juízo, por enquanto, muito do que circulava na impressa eram apenas suposições.

A certa altura, sentou-se a meu lado uma jovem senhora que fixou-se no aparelho, muito interessada no que via e ouvia. De repente, resolveu puxar conversa e falou com veemência:
_ Nesse caso, sou a favor da tortura para que se obrigue os acusados a falarem!
Fui pega de surpresa, pensei alguns segundas e respondi a ela com outra pergunta:
_Assim sendo, você assumiria a função de torturadora?
Ela franziu a sobrancelha num gesto de estranheza à pergunta, retrucando:
_De forma alguma!
Eu já esperava por esta reação, então acrescentei:
_Você tem noção que,  mesmo não sendo um ato ativo seu, se a tortura fosse utilizada,  nesse caso, além de ferir princípios Legais, você seria co-participante na ação? Você se dá conta que no ato do torturador, seu desejo estaria sendo alí representado, assim como nossos pensamentos e desejos já foram decisivos em outras passagens da história da humanidade e que até hoje nos causam repugnância? O que você sente no coração ao pensar que, por um simples pensamento seu, de rejeição da humildade, da mansidão,  do amor e do perdão, teve participação na crucificação de Jesus?
Ela calou-se por alguns instantes e depois falou, de certa forma,  saindo pela tangente:
_Ah, também esse povo só sintoniza os canais que ficam exibindo noticiários dessa natureza o dia todo! Deviam mudar, colocar outros assuntos mais interessantes! Disso aí, a gente já tá cansado!
Não pude deixar de rir... E como eu tinha em mãos uma revista que trazia uma matéria importante sobre genética, passamos a falar sobre esse assunto, esquecendo o televisor ligado.

Você que lê essa pequena narrativa, consegue avaliar a qualidade dos seus pensamentos diariamente? Tem também amaldiçoado o goleiro Bruno e seus comparsas, além de qualificar a vítima Eliza, como "alguém  que fez por merecer" o trágico fim, mesmo não concordando com o método utilizado?

Vou contar um segredo a você e tomara que ele se espalhe! Tenho dormido e acordado em companhia de Emmet Fox, um escritor filosófico que tem contribuído em muito para meu crescimento espiritual. No Livro Mude Sua Vida, no capítulo intitulado "Como Conservar a Paz", num parágrafo ele diz: "Não é possível um ato de violência ocorrer no mundo exterior da experiência a não ser que exista, primeiro, uma ideia de violência no mundo interior do pensamento. E é igualmente verdadeiro que não é possível que as ideias de violência façam pouso na alma dos homens sem que, mais cedo ou mais tarde, sejam representadas no mundo exterior." Percebeu como seu pensamento é o autor dos  acontecimentos do cotidiano?

Se você ainda não conseguiu interagir com a ideia, vou citar mais um exemplo que o fará despertar para a necessidade urgente de reavaliar o teor daquilo que pensa. Escute essa: No final do ano, em reunião com uma família maravilhosa, alto astral e do bem, fizemos um bolão porque haveria um sorteio especial da Mega Sena. Alguns participantes (principalmente os homens solteiros), cogitando ganhar a bolada, disseram  em alto e bom tom: _Eu gastaria tal valor em "cachaça" e com o restante iria para uma casa de striptease! Torraria a grana com belas mulheres! Não era isso que o goleiro Bruno fazia? Ele caiu em duas das mais perigosas armadilhas preparadas pelo pensamento da maioria: Dinheiro e Sexo! As orgias narradas domingo passado no Fantástico, nas quais jogadores de futebol  são participantes ativos, muitos de nós, pessoas comuns, já  projetamos através do pensamento.

Sinto que "peguei pesado"! Até mesmo comigo... Pensamentos  de amor, perdão e caridade foram dirigidos à minha pessoa, senão cairia na armadilha da culpa. E como tive essa atitude condescendente comigo, peço que a tenha com você também. Se sobrar um pouco dos três ingredientes citados na primeira frase do parágrafo -  poderosos antídotos contra a violência que nos assusta - sendo que a falta deles foi a causa da devastação do mundo das pessoas evolvidas no caso mencionado , direcione um pouco a eles, através do pensamento.  São os que mais  necessitam  neste momento! Sei  é capaz desse ato generoso para  com seu semelhante. Você é um elo importante na corrente de paz que pode transformar a humanidade.


"Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Pra mais tarde não sofrer
É preciso saber viver..." (Roberto e Erasmo Carlos)

sábado, 17 de julho de 2010

CÁRCERES MENTAIS

Somos acomodados dentro de uma rotina, em nosso aconchego, em razão  das verdadeiras maravilhas que a tecnologia avançada nos proporciona. São tantos os atrativos dentro das nossas casas, que, via de regra, não nos damos o luxo de desfrutar do jardim. Na linguagem da filosofia, "casa" significa o nosso interior, ou seja, o "habitat" da nossa alma ou espírito, como você preferir.

Se não observamos o jardim, tão íntimo e próximo ao nosso convívio, o que dizer do que existe além dos muros? O que vamos conseguir visualizar, caso espreitemos um olhar através das muralhas erguidas pelo egoísmo, pela falta de tempo ou por estarmos confortavelmente instalados em nosso  lugar seguro?

Muitos de nós, quando nos apossamos da nossa individualidade, passamos a construir muralhas que nos separam da realidade. Nos isolamos em grupos, em turmas, em guetos,  e passamos a viver como se os outros não existissem. Os outros não fazem parte; não podem comungar dos mesmos gostos, nas mesmas ideias. Enfim, eles não se encaixam!  O que  não prevemos,  comumente,  é que ao nos enebriarmos tanto na  convivência desses agradáveis redutos, esquecemos onde fica o portão de saída e muitos de nós perdem a chave que abriria a fechadura. Quando nos damos conta, vivemos em reclusão, ignorando as paisagens que existem além dos muros. Desconhecemos os sons que vêm de fora, pois a gostosa algazarra daquele grupo tão animado impedem que eles nos cheguem  aos  ouvidos. E depois de algum tempo em agradável clausura, o medo também poderá nos assaltar, fazendo com que nos tranquemos, inconscientemente, temendo o que poderá haver lá fora. Começamos a ter medo dos desafios, de encarar o novo, de aceitar mudanças.

Um belo dia, talvez numa manhã de primavera, num depertar repentino de consciência, num relance de curiosidade, abriremos a janela da casa. Uma suave brisa soprará nosso rosto, o que trará um desejo de sair, ver o sol. Ao realizá-lo, notaremos que a paisagem do jardim  é belíssima! Os olhos, acostumados à luz artificial,  estranharão tanta cor e claridade! Como o ar é puro e até pássaros cantam!  De repente perceberemos que mais além haverá uma árvore coberta de flores, cuja tonalidade nos encantará! Teremos o desejo de colher algumas para enfeitar  e alegrar a vida  dos nossos amores, mas ao nos aproximarmos, notaremos que ela estará do lado de fora. Onde estarão as chaves do portão para que  possamos realizar nosso intento? Não  as encontraremos!  Porém,  haverá uma  possibilidade... arriscada talvez...Poderemos pular o muro! Se coragem tivermos, claro,  porque depois de tanto tempo reclusos em nosso mundinho particular... teremos força suficiente para empreender a escalada?

As respostas para tais questionamentos surgirão, dependendo da intensidade dos nossos desejos e qualidade dos nossos pensamentos. Não haverá obstáculos quando tomarmos consciência da grandeza e  força oriundas daquela Fagulha Divina que é nosso princípio. Saltaremos muros, muralhas, subiremos montanhas, com fôlego de criança e sabedoria de ancião. À partir daí, um mundo novo se descortinará, contudo, a importância do particular não será diminuída , pelo contrário, ela se tornará mais ampla, pois lá fora encontraremos pessoas ávidas por nossa companhia. Faremos chaves do portão e as portas da casa também se abrirão para outros frequentadores, a diversidade se fará presente no  prazer e alegria de novas descobertas, da troca de experiências necessárias no processo contínuo de crescimento,  na construção da felicidade e na conquista de uma liberdade verdadeira. Então colheremos flores de várias espécies e cores, que, além dar alegria a outro, renovarão, sobremaneira, o desejo de nunca mais fecharmos  as passagens por onde entrará  a vida.

"Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro." ( Virginia Woolf )

quarta-feira, 14 de julho de 2010

SENSAÇÃO IMORTAL

Alguém disse que saudade morre...
Esse alguém jamais soube o que é amar!

Não sentiu o tremor num toque de dedo
Nem se entregou ao prazer, sem medo...
Não presenciou, a dois, uma lua cheia
Nem se prendeu, qual animal, numa teia...
Não assimilou o cheiro da pele amada
Nem suspirou, sozinho, na madrugada...
Não viajou, por sonhos, a um lugar distante
Nem beijou, em pensamento, o seu amante...
Não sentiu o sabor de um lábio molhado
Nem o contato e calor de um corpo suado...
Não sentiu a dor de um coração partido
Nem aquele desejo que ele nunca tivesse ido.

Alguém ainda diz que saudade morre?
Que,  primeiro,  esse alguém experimente amar!

"...Então compreenderás o que é saudade
Depois de ter vivido um grande amor
Saudade é solidão, melancolia
É nostalgia, é recordar, viver." (Almir Satter)

domingo, 11 de julho de 2010

ALMAS À ESPERA DOS ANZÓIS

A Astrologia, a Física Quântica e a Metafísica, em seus estudos através dos livros publicados, vêm nos falando de uma nova Era pela qual o planeta Terra irá passar ou já estaria passando: A Era de Aquarius. Segundo esses estudos, a Era durará cerca de 2149 anos e provocará mudanças profundas neste Planeta. Enquanto alguns profetizam que ela começará em 2012, outros afirmam que ela teria começado em 1962.

Um dos divulgadores dessa teoria é o pastor evangélico Emmet Fox¹, estudioso da Metafisica²,   escritor de livros de renome, como "O Sermão da Montanha", Os Dez Mandamentos" e "Mude Sua Vida". No último livro, ele desvenda vários mistérios das alegorias bíblicas, o que torna sua compreensão clara, através de uma interpretação despida de preconceitos e dogmas.

No capítulo em que explica a criação do universo descrita no livro de Gênesis, ele afirma que em alguns versículos da Bíblia, a palavra "Terra" tem o significado de "homem". Todas as etapas da criação (alegoricamente representada por sete dias),  ele as define como  estágios de aprimoramento do Ser. Diante de afirmativas dessa natureza, subentende-se que, se uma nova Era está em andamento para proceder modificações na Terra, isso significa que o homem será parte primordial nesse processo. Observe-se no dia-a-dia e perceba a inquietação que assola seu  subconsciente... Sabe aquele incômodo por notar que o tempo corre muito mais rápido que sua vida? Já sentiu a sensação que há algo para se fazer, mas não consegue identificar do que se trata? E aquelas perguntinhas básicas: De onde vim, para onde vou, qual minha função no mundo, além desse dia-a-dia cansativo que exaure minhas forças?

Busquei na internet algumas informações sobre o significado da Era de Aquarius e o que ela traria de consequências e modificações. Para minha surpresa, há unanimidade em todas as opiniões: É uma era em que o velho terá que morrer, para o que novo surja remodelado. Emmet Fox também é claro quando diz: "Não faz mal que o "menos bom" seja destruído se isso significar que se está dado ao "melhor" uma oportunidade de tomar seu lugar. Aqueles que entendem a Verdade da existência estão bem cientes que aquilo a que chamamos de morte e destruição em geral não passa de um prelúdio para algo melhor e superior. O que é a morte da segunda-feira senão o nascimento da terça, a morte do ano velho senão o nascimento do novo, a derrubada de uma casa velha senão o prelúdio para a construção de uma outra nova e melhor?"

A tarefa mais difícil que se aparesenta nessa Era é a modificação interior do homem. O Planeta, em sua forma física,  já dá sinais de estar operando sua transformação através das catástrofes que vêm ocorrendo, em menor ou maior grau em várias partes do globo terrestre. Contudo, muitos de nós ainda não tomamos consciência de que o aperfeiçoamento do Planeta Terra começa por cada Ser que o habita. A Era de Aquarius traz a necessidade de desenvolver a individualidade, onde cada um deverá ser o gerenciador do seu crescimento, e, consequentemente,  construtor do seu destino. O homem será o "mestre de obras" da sua "desconstrução e construção", obedecendo ao projeto do "Arquiteto Maior", não se curvando às tiranias pregadas por séculos através das religiões e doutrinas. É o momento de romper  com os rótulos "certo/errado", adotando o que melhor lhe "convém". A partir desse despertar de consciência, suas ações passam a alavancar o processo de renovação do Planeta Terra.

Aí você poderá até perguntar: Como saber o que melhor me convém? Eu lhe respondo com certeza: Ouça seu coração! Desenvolva e aguce o ato de ouvir a si mesmo, de respeitar seus limites, seu tempo. Seja condescendente consigo, levando em conta que cada indivíduo tem uma velocidade própria de caminhar. Reconheça em  si  o poder de um deus, partindo do princípio  que é constituido de uma"Centelha Divina",  essa luz que muitas vezes se vê apagada no seu trajeto espiritual,  e você caminha  às cegas, caindo nas armadilhas construídas por força do seu pensamento negativo e conceitos assimilados por séculos. Faça de bons livros seus melhores educadores, jamais esquecendo que as Leis Divinas precisam estar preservadas e sendo respeitadas em qualquer desses escritos. Ame a si mesmo, não num gesto egoísta, mas entendendo que, para doar amor , você precisa estar cheio dele. E esteja  plenamente consciente que, cada um de nós é responsável pelas transformações pessoais e coletivas que irão se desenvolver nessa Era.  Há mais de dois mil anos,  um Pescador esteve entre nós para dirigir nossos frágeis barcos, e fez de alguns, pescadores de homens. Hoje Ele sabe que já temos condições de pilotar nossas embarcações, sejam de que tamanho forem! Ele nos entregou o leme! Ele tem a certeza que estamos prontos para sermos pescadores de nossas próprias almas.

¹Emmet Fox (Irlanda, 30 de julho de 1886 - França, 13 de agosto de 1951) foi um Ministro da Igreja da Ciência Divina e um dos maiores escritores sobre espiritualidade no começo do século 20. Os ensinamentos dele tiveram uma grande influência no início da organizacao "Alcoólicos Anônimos". (Wikipédia)

²Metafísica (do grego μετα [meta] = depois de/além de/ entre/ através de e Φυσις [physis] = natureza ou físico) é um ramo da filosofia que estuda a essência do mundo. O saber, é o estudo do ser ou da realidade. Se ocupa em procurar responder perguntas sobre o que existe além da realidade. (Wikipédia)

* Conceitos desenvolvidos também a partir do estudo do livro "Escutando Sentimentos" de Ermance Dufaux, psicografado por Wanderley S. de Oliveira.

domingo, 20 de junho de 2010

Ó PÁTRIA AMADA, IDOLATRADA, SALVE! SALVE!

Era 15 de junho de 2010. Dia do primeiro jogo  da seleção brasileira na Copa da África do Sul. Estava muito frio na cidade eu fazia algumas compras logo de manhã, na praça principal do meu bairro. Apreensiva, como qualquer brasileiro, com a expectativa da partida que se daria às 15:30h daquele dia. As pessoas desfilavam pelas ruas de verde e amarelo. As lojas exibiam produtos alusivos ao evento. Bandeiras tremulavam nas sacadas dos edifícios, nos veículos que rodavam num trânsito já agitado. O Brasil iria dar o primeiro passo rumo à desejada conquista do Hexacampeonato Mundial. O adversário era a Coréia do Norte. Barbada!

O sol brilhava naquela manhã e ao passar por uma marquise de loja deparei-me com uma cena comovente: Dormia na calçada, encolhido pelo frio intenso que fazia,  sem qualquer agasalho,  um menor de rua protegendo com o próprio corpo,  uma pipa, que trazia como estampa  a Bandeira Brasileira. Parei meu caminhar por alguns minutos e dentro de mim brotaram várias perguntas que subtraíram-me da frivolidade daquele dia alegre e ensolarado. Não consegui ignorar a ironia daquela cena. Numa atitude de misericórdia e dor no coração, orei por ele. Como mãe, o questionamento mais forte foi perguntar ao Pai: onde estaria a criatura que colocou aquele garoto no mundo? Será que ele tinha noção da importância daquele dia para a maioria dos brasileiros?

Assisti a partida da seleção ao lado dos meus filhos, amigos e  parentes. Como se esperava, O Brasil venceu a partida, num jogo morno, de pouco brilho,  durante o qual saboreamos pipoca, refrigerante, alguns tomaram cerveja.  Pelo país afora, as comemorações entraram noite adentro. Éramos os privilegiados, que pela emoção e vibração com a qual torcenos,  somos denominados  "a pátria de chuteiras",  a festejar  mais uma vitória. No fundo da minha alma, porém, doía a imagem daquele goroto de "pés descalços", guardando "sua pátria" apenas com seu  corpo frágil e desprotegido.

"Terra adorada
Entre outras mil
És tu Brasil ó Pátria amada
Dos filhos deste solo és "mãe gentil"
Pátria amada
Brasil!"

domingo, 30 de maio de 2010

DETERMINAÇÃO, AMOR E FÉ


"Seja você quem for, seja qual for a posição social que você tenha na vida, a mais alta ou a mais baixa, tenha sempre como meta muita força, muita determinação e sempre faça tudo com muito amor e com muita fé em Deus, que um dia você chega lá. De alguma maneira você chega lá." (Ayrton Senna)

Pouco tempo antes da morte de Ayrton Senna, sonhei que disputava uma corrida no Autódromo de Interlagos, somente nós dois, em carros oficiais da Fórmula 1. No sonho, eu tinha a noção de que ele era muito superior a mim como piloto (aliás, naquela época, eu não posuía CNH), porém venci a corrida. E percebi que a vitória ocorreu porque meu concorrente permitiu, num ato de cavalheirismo. Ele já era o the best, conforme definiu a roqueira americana Tina Turner, num show em que ele estivera presente na época. No meu delírio noturno, ele quis, com aquela ação, permitir que eu me sentisse uma vencedora, embora soubesse da minha inferioridade em pilotar. Eu já era fã incondicional de Ayrton Senna. A partir daquele sonho, comecei a admirá-lo ainda mais e não foi surpresa, após sua morte, a revelação das ações sociais que empreendia de forma oculta, tendo como fiel escudeira, a irmã Viviane Senna, que preside hoje a instituto que leva seu nome. A Alma de Ayrton Senna era nobre. Seu espírito, com certeza, é iluminado.

Ao recordar esse episódio, pensei em como nossa vida se assemelha, de certa forma, a uma corrida de Fórmula 1. Vivemos e trabalhamos em equipe. Em nosso familiar, num grupo empresarial,  cada um defende sua escuderia. Quando chega o momento da disputa, nos alinhamos no grid de largada e partimos disparados em retas e curvas. Porém, com um detalhe interessante: Se ocorre um acidente de proporções graves, onde haja necessidade da corrida ser interrompida, não temos o privilégio de contar com o safety car para proteger e nos realinhar na largada, para reinício da corrida nas posições em que nos encontrávamos. Nesse momento, a luta costuma ser individual: cada um verifica os estragos na carenagem, motor, e se der para continuar, vai em frente. Quem está avariado, é rebocado e volta para o box. Terá que aguardar uma nova chance, noutro circuito.

Causa-nos certa melancolia, quando percebemos que alguns adversários, quando seus carros estão em condições de continuar, seguem com intuito de vencer a disputa sem se importarem com as consequências dos incidentes ocorridos. Todavia, é necessário analisar racionalmente a situação de cada piloto, as exigências da equipe, e o que está em jogo na corrida. Vivemos num mundo de competitividade absoluta, onde vence quem consegue sobressair-se na adversidade. Ayrton Senna era assim; determinação era sua palavra-chave. Era quem melhor pilotava na chuva, era quem "levava o carro no braço", quando as condições mecânicas encontravam-se totalmente inadequadas. 

Quem é obrigado a interromper temporariamente sua corrida , sabe a dor que causa ver os adversários, e por que não dizer, companheiros, partindo, quando gostaria de também participar da disputa por um lugar no pódium. Sabe que em qualquer competição, leva o troféu aqueles que chegam às primeiras posições. Entretanto, sabe que com determinação, coragem e fé, irá saborear a extrema alegria, em ver tremular a bandeira quadriculada numa linha de chegada qualquer, nos intermináveis Grandes Prêmios que a vida proporciona.

"Podem ser encontrados aspectos positivos até nas situações negativas e é possível utilizar tudo isso como experiência para o futuro, seja como piloto, seja como homem." (Ayrton Senna)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

Sou uma estudiosa do comportamento humano. Além de ler muito e estudar a esse respeito, observo atentamente as atitudes daqueles que me cercam, procurando em cada episódio ocorrido, sinais da presença Divina em seus atos.

O planeta Terra, uma cópia grosseira dos mundos superiores ou de outras dimensões (isso é o que eu acredito), apresenta, em seu sistema de organização hierarquizada, a proposta ideal para que tudo funcione em perfeita ordem e harmonia, dentro de um complexo em que o homem tem dificuldades de adaptar-se.

Dias atrás tive a demonstração, na prática, do funcionamento desse sistema e pude compreender que existem, além dos espirituais, anjos de carne e osso que gravitam no mesmo patamar em que habito, comprovando a teoria que venho estudando há algum tempo e que concorda com o bordão português: "Cá é como lá". No meu caso específico, dois anjos (ou qualquer outra denominação, conforme sua crença permitir), entraram em ação e socorreram-me numa zona de sofrimentos a que fui destinada por causa de um desentendimento entre mim e um superior. Não pense você que eu tenha me acomodado na situação e não tentei mudar o rumo dos acontecimentos. Eu fui seguindo a linha da hierarquia e mesmo com a intervenção dos ocupantes das funções superiores a minha - que demonstraram enorme boa vontade em ajudar-me - por quase dez meses lutei sem obter êxito para reverter a situação que tanto me prejudicava, profissional e emocionalmente.

Porém, como acontece em nossa vida pessoal, quando cremos que há sempre uma Força Superior que ampara ao nos sentimos abandonados, solicitei audiência com o ocupante do mais alto cargo da Secretaria Municipal a que sou subordinada. Pensei: “Se os santos a quem apelei até agora nada puderam fazer, vou direto ao Todo-Poderoso.” Aí, naquele momento, os anjos entraram em ação. O milagre se fez. A Cidadania, o respeito, a alegria me foram restituídos, através do retorno ao local de trabalho onde sinto prazer em desempenhar minha função. Percebi a sincronia perfeita entre dois substantivos que acionaram a consciência daqueles que se prontificaram a resolver minha situação: SENSIBILIDADE e COMPETÊNCIA.

Por outro lado, creio piamente que tudo tem seu tempo (e é bíblico). A “zona de sofrimentos” a que fui submetida revelou-se um tempo de aprendizado que jamais será esquecido. A humildade foi a lição que mais assimilei, embora pensasse não merecer tamanha, por não perceber em minha conduta orgulho que a justificasse. Compreendi também que em determinadas situações que enfrento, é preciso muito mais que desejo e esperar pelos outros para que as coisas aconteçam. O mérito da ação cabe a mim. Se mereço ou não, Deus decide. Amém!

“A vida espera por você. A vida, para mostrar suas maravilhas, encantos e atrativos, espera o seu concurso, a sua ação. É você que dá a partida. De uma ação sua, a vida passa a se movimentar, a produzir efeitos.” ( Lourival Lopes em “Sabedoria Todo Dia”.)

terça-feira, 18 de maio de 2010

LIVRE PARA VOAR!


"Em 2009, o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai aprovou uma lei que obriga as mulheres xiitas a fazer sexo com seu marido todas as vezes que ele exigir. 57% dessas mulheres se casaram antes da idade mínima exigida por lei, de 16 anos. Entre 2008 e 2009, 80 afegãs tentaram suicídio ateando fogo a si mesmas." (Revista Veja, de 16/05/2010)

Quando lí a matéria da revista, cujo título é "AFEGANISTÃO - UM INFERNO PARA AS MULHERES", brotou da minha cabeça o seguinte questionamento: Será que existe gente assim vivendo no mesmo planeta que habito? Como é possível haver tanta atrocidade nas ações de seres humanos, cujo Pai, "supostamente" é o mesmo?

Os relatos daquelas que tentam suicídio, que muitas vezes foram dadas em casamento - ou melhor, vendidas pela família em troca de alguns trocados aos 10 anos de idade - são de fazer qualquer ser humano sentir-se triste por compartilhar da mesma raça. E existe ainda cerceamento de liberdade nos atos mais simples, como frequentar parques, escolas, fazer compras no mercado, etc. A revista informa que o país ocupa o 181º lugar, entre 182 paídes do ranking do índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU e afirma: VIVER NO AFEGANISTÃO É RUIM, MAS PARA AS MULHERES É AINDA PIOR! Para se ter uma idéia, o Brasil ocupa o 75º lugar nessa lista e ainda utiliza largamente a Lei Maria da Penha para combater a violência praticada contras as mulheres. O que esperar então de um país onde todo tipo carência é gritante?

Eu me envergonho publicamente, aqui e agora, se em algum momento da vida tive a insensatez (e vou me envergonhar toda vez que tiver) de me sentir infeliz e injustiçada por qualquer motivo. Olho pela janela da minha sala de trabalho e vejo que meu universo é infinito, minhas possibilidades são ilimitadas e a vida é maravilhosa! Dentro de mim existe a certeza que tenho , além da Constituição de meu país amparar, ampla liberdade de ir e vir, liberdade de professar minhas idéias, liberdade para construir meu espaço e, principalmente, decidir que parceiro escolher para caminharmos juntos. Não são motivos mais que suficientes para me sentir uma privilegiada?

Por isso, sempre que os pássaros da tristeza tentaram fazer ninhos sobre meus cabelos, vou parafrasear Chico Buarque dizendo a mim mesma: "MIRE-SE NO EXEMPLO DAQUELAS MULHERES DO AFEGANISTÃO, QUE CERCEADAS DO DIREITO TOTAL À LIBERDADE, RESTA-LHES, SOMENTE, EM MUITOS CASOS, DESISTIREM DE VIVER!"

"Eu não sei se sou forte ou frágil
Não sei se vivo ou sobrevivo
Não sei se sou alegre ou triste
Mas sou livre
E o ato da liberdade
É para ser comemorado em altos voos com alegria." (de minha autoria)

sábado, 8 de maio de 2010

DIÁLOGO INTERNO

Marleuza e Mari são amigas muito íntimas. Estão sempre dialogando sobre as mazelas do cotidiano e como se aproxima a data em que Marleuza ficará "mais experiente", a criatura anda muito pensativa, naqueles momentos de reflexão que os astrólogos denominam "inferno astral".

-Ô inferninho cruel! Diz Marleuza.
-Mari pergunta: por que tanto pessimismo Marleuza?
-Sei lá Mari! Acho que a vida não tem sido generosa comigo.
-Preste atenção no que fala Marleuza! Feche os olhos e tente rememorar os anos passados. Consegue perceber o crescimento, as conquistas e vitórias que teve até hoje?

Por alguns instantes, Marleuza distancia o olhar e volta no tempo...

42 anos atrás, numa fazenda onde morava com a família na condição de agregados, no Vale do São Patrício em Goiás. Ela tinha 7 anos. Duas horas de caminhada sob sol escaldante para chegar à escola rural onde cursava a segunda série do ensino, naquele tempo, chamado primário. No mês se setembro, os fazendeiros colocavam fogo nas pastagens à beira da estrada, tornando o clima ainda mais árido e seco, e as cigarras faziam um barulho ensurdecedor com seu canto. Pior foi o dia em que torceu o pé ao correr para chegar primeiro embaixo do pé de pequi e colher os frutos caídos antes da irmã e da colega de escola. Além de ter que continuar o caminho de ida, restava o percurso de retorno no final da tarde, quase pulando num pé só...por mais duas horas!

40 anos atrás, em Ceres - GO. A família se desentendera com o dono da fazenda e voltara à cidade de origem. Em condições paupérrimas! Marleuza, então com 9 anos, carregava trouxas enormes de roupas na cabeça para a mãe lavar, além de ajudar a cuidar dos irmãos mais novos e frequentar a escola, onde ganhava todo o material escolar que não podia comprar, graças ao seu desempenho e boas notas. Era "catarrenta", "piolhenta" e muitas vezes foi alvo das campanhas de saúde e higiene promovidas pela escola, tendo que ficar diante dos coleguinhas de sala, dizendo frases decoradas e tendo também os cabelos lavados na instituição de ensino, após a aplicação de "Neocid", inseticida usado como piretroide naquele tempo...

1972. 11 anos tinha Marleuza, que entra na Capital de Goiás em cima da carroceria de madeira de uma caminhonete "Toyota" de um fazendeiro das redondezas de Ceres, chamado "Tonico Toqueiro". Além de terem implorado à Polícia Rodoviária Estadual para prosseguirem viagem, pois a lei não permitia a condução de pessoas (mais os poucos móveis e um cachorro, claro!) sobre a carroceria, seguiram destino completamente inverso ao planejado, porque o ponto de referência da casa do tio para onde iam em Goiânia, era a torre de transmissão de televisão da Serrinha. O motorista que não conhecia a cidade enxergou primeiro a torre do Morro do Mendanha. Aí dá para imaginar...

1974. Sobrado de um Coronel reformado, esposo de uma famosa escritora goiana. Marleuza era empregada doméstica. 13 anos tinha então. Menina-moça, corpo em desenvolvimento; não passava despercebida. Começava a desabrochar a mulher. Ficava a semana no emprego e só ia para casa no domingo pela manhã, quando revia os familiares, pelos quais chorava de saudades. A mãe era a lavadeira da família, Passava por lá uma vez na semana. O Coronel era cego, mas parecia visualizar a formosura da menina, pela qual abria a carteira, dizendo que ela escolhesse o quanto quisesse para permitir que ele lhe fizesse uma carícia em suas partes íntimas. Um assédio vergonhoso, que a jovem adolescente, por falta do diálogo com a mãe, não tinha coragem de contar e sofria calada, descendo correndo as escadas do sobrado para dele fugir, e mesmo com todas as necessidades pelas quais passava, a menina jamais aceitou qualquer centavo ganho daquela forma condenável para ela. Mesmo que o único calçado que tivesse fosse uma "havaiana" com calcanhar comido pelo uso e com a tira arrebentada presa embaixo por um grampo de cabelos.

-Marleuza, acorda! Onde você está mulher?
-Mari, eu cresci e não percebi! Ainda vive dentro de mim a menina que teve uma infância muito pobre, que sofreu muito para adquirir um pouco de cultura! Ainda chora dentro de mim, a menina humilhada na escola pela carência material extrema! Ainda se amedronta dentro de mim a adolescente que sonhava com o príncipe encantado, onde "coronéis" entravam nos sonhos para obrigá-la despertar. Vive dentro de mim, essa menina-adolescente que ainda ousa sonhar com príncipes e vê seus sonhos destruídos não por “coronéis”, mas por falsas palavras doces e promessas que não se cumprem! Como estar feliz dentro de um mundo que parece não ter sido feito para esta menina-moça que se nega a encarar a vida com a dureza que lhe é própria?
-Marleuza, minha querida, faça de todas as cenas gravadas no seu subconsciente motivos para sorrir hoje! Você é uma vencedora! Pense no quanto é importante na vida de muitas pessoas. Observe à sua volta! Você mora num bairro nobre da Capital; é a casa que conquistou! Deus confiou a você um casal de filhos maravilhosos, inclusive, sua filha passou no vestibular em duas universidades públicas, sendo motivo de muito orgulho! O trabalho não é o que você almeja, mas sei que luta para conseguir progredir. Você caminhou tanto, contudo, olha seu hoje com os olhos da criança e da adolescente que teve os sonhos interrompidos! Você idealiza seus “príncipes” e quando percebe que eles não mais existem, seu castelo desaba! Acorde Marleuza, para que você volte a sonhar, porém, com os pés fincados na realidade! Construa o seu agora, com base nas experiências adquiridas. Você verá que é possível ser feliz. Construa um céu particular dentro de você e assim posso lhe garantir que no próximo ano, quando chegar seu aniversário, o tal "inferno astral" passará longe. Acredite, você pode! Permita que a menina-adolescente se vá e que no lugar dela, surja a mulher que realmente você é. E não precisa perder a pureza nem o olhar sincero com o qual enxerga seus semelhantes. É isso que faz de você uma pessoa especial. Ainda não entendeu?
-Obrigado Mari. Sei que você é minha "amiga gêmea".
-Feliz aniversário Marleuza. Eu estarei sempre "grudada" em você. O seu progresso será o meu. As suas vitórias serão as minhas. Sua felicidade é motivo para eu ser feliz. Já pensou na responsabilidade?


“Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido...” (Ivan Lins)

“As águas vão rolar, não vou chorar
Se por acaso eu morrer do coração
É sinal que amei demais
Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça (talvez não, certeza! com licença Rita Lee!)
Um monte de gente feliz.”

quinta-feira, 22 de abril de 2010

VEJA ALÉM

Quando seus olhos pousarem sobre mim
Procure ver a cor da minha alma
Salte sobre o exterior e busque a essência bem guardada.
Sentirá perfume de alfazema e lavanda
Verá que o tons são claros, simples, iluminados.

Quando seus olhos pousarem sobre mim
Seja condescendente com meus erros
Salte sobre a imperfeição e busque a leveza que se esconde.
Sentirá ambiente tranquilo e acolhedor
Verá que as músicas são belas, calmas, angelicais.

Quando seus olhos pousarem sobre mim
Procure ver além do que pareço ser
Salte sobre a capa material e busque a beleza no invisível.
Sentirá um coração pulsando forte e vibrante
Verá que o amor é forte, verdadeiro, imenso.

Quando seus olhos pousarem sobre mim
Veja-me com a mesma clareza com a qual o enxergo
Que o seu rosto perceba as verdades do meu
Que a sua sintonia seja igual a minha
Que a minha metade se encaixe na sua
Que o seu corpo se torne parte do meu
Que sua alma se identifique com a minha
Que saibamos fazer de duas vidas, apenas uma.