terça-feira, 22 de março de 2011

CRÔNICO


Teu vulto surge no clarão
que a memória acende.
Nesse momento
sou apenas desejo.
Estendo-te as mãos,
ofereço-te meus lábios.
Com as pernas te abarco,
nas pontas dos dedos sinto
tua rija musculatura se contraindo.
Faço do meu corpo teu abrigo...
Contemplo-te qual mãe
no primeiro aconchego ao filho
depois do parto...
E ao interrogar de que forma entraste,
teu olhar carinhoso me faz lembrar:
Há muito vives em mim.

segunda-feira, 14 de março de 2011

MENINA E MULHER.


                          Foto de  Anne Elise, uma  linda menina-mulher.

Toda menina sonha ser mulher. Ela exige urgência, perde a paciência, esquece a prudência. Usa de artifícios, manhas e artimanhas. E quando menos percebe, mulher está. Assumindo essa condição, sente-se dona de si. Toma as rédeas das responsabilidades adultas que lhe são impostas, e do mesmo modo, pensa  ter  controle dos sentimentos. Dos seus e de qualquer outro que lhe dedique afeto.

Pobre e tola menina! Não sabe que para se tornar mulher, terá que sofrer... Somente usar aquele  vestido de  festa da mãe, não basta! Tampouco desfilar o corpo esbelto num salto quinze!  Há que se dar a cara a tapa! Há que se sentir amor e desamor! Há que se experimentar encantos e desencantos,  e mesmo assim, entrever beleza  nas esperiências que a  alma só  vivencia quando habita um corpo feminino.

Eu, na ilusão de estar apta a aconselhar sabiamente essas doces criaturas,  sofro a cada relato dos insucessos amorosos das minhas queridas. Eu rogo aos anjos, assim como elas, para que sejam poupadas, pelos menos em parte, das agruras pelas quais terão que passar no decorrer de suas vidas.

A solidariedade revelada pelo meu coração tem explicação óbvia: A minha menina é por demais presente! Pressinto  que ela jamais se ausentará de mim. A impetuosidade, a urgência de viver e a capacidade de fitar o mundo com olhos de esperança, são elementos valiosos que a menina empresta à mulher  e   quando   associados à sabedoria assimilada com as dores, dão energia e impulsionam essa mulher a seguir em frente, sempre  que uma lágrima teimosa desliza pela  sua face, apagando o sorriso da menina.


"...Depois do pranto infantil, a mulher toma seu posto. A dor continua, mas ela já sabe andar só. Sabe que tem que levantar e curar suas dores; tratar de sua vida. Então, levanta e vai trabalhar. É preciso. A mulher se renova. Volta à academia. E reza. Cuida do corpo e da alma...Essa menina mora em mim, mulher madura. E apesar da idade ainda não aprendeu que a vida não é tão bonita como nos filmes de amor, mas a cada dia ela se sente mais mulher e mais forte. E com vontade ser feliz." (Trecho da crônica A MENINA E A MULHER MORAM EM MIM de Evelyne Furtado, escritora, cronista e poetisa de Natal/RN.)

segunda-feira, 7 de março de 2011

ANTES QUE SE FAÇA OUTONO


Minha casa pede paz, mesmo que suas paredes não estejam pintadas de branco... Minha casa pede luz, visto que suas portas e janelas encontram-se fechadas, pela estupidez e teimosia que cerram meus olhos à claridade de um verão atrativo, a se oferecer, carinhosamente, para iluminar meu interior.

Com isso,  não estou afirmando que as demais estações não tenham seu charme,  seu encanto! Sei apenas que no verão, a alegria é contagiante e dá aquele desejo de sentir cheiro de mar, de ouvir  o canto dos pássaros, de acordar com os raios de sol atravessando a janela, de caminhar cedinho na praia, deixando os passos marcados na areia.

Por tantos motivos,  é imprescidível encontrar  a chave para destravar  a fechadura de minha alma. Assim,  eu poderei  espanar a poeira, renovar o ar, permitir que o fulgor me invada, uma vez que as chuvas de março anunciam: O outono não tarda chegar.

domingo, 6 de março de 2011

PARTO


Sua essência foi concebida entre dores e amores, de um encontro adiado, do beijo tão desejado, e por ironia, na solidão.  Em completa desordem de sentimentos,  começa a germinar em mim,  algo novo.

Sem folgar um segundo,  percebo o desenvolver ansioso do que anseia existir, entretanto, ainda precoce, pede aconchego e espaço para amadurecer perfeito. Experimento a alegria de gerar,  enquanto cresço em ansiedade. Reclamo descanso e, inquieta, rolo em lençois perfumados. Num breve cochilo, sinto o trabalho contínuo do cérebro, corpo, alma e coração.

De sobressalto, desperto. Ele clama pela luz! Peço calma a mim mesma; de pormenores ainda carece. Porém, o controle me foge, o coração dispara, a respiração acelera.  As contrações são frequentes  e involuntárias.  Há um desejo de gritar palavras sem nexo. Arfo...  É quando sinto minha impotência em retê-lo.  Neste momento,  num misto de choro e riso, ainda que temporão,  mais um poema nasce.

quarta-feira, 2 de março de 2011

PUERIL


O beijo sabor tuti-fruti
O toque aveludado
Deixa o rosto avermelhado
Faz da vida um balão...
Se revira até os olhos
O que fará no coração?

(Ana Júlia e seu amiguinho. Ela, filha da amiga querida, Valéria Paulino. Vi a fotografia no Facebook e não resisti...)