quarta-feira, 23 de setembro de 2009

VAI DAR O QUE CANTAR!

Roberto Pompeu de Toledo, colunista da revista Veja, escreveu esta semana sobre o vexame dado pela cantora Vanusa na interpretação fatídica __ para muitos hilária __ do Hino Nacional Brasileiro. A artista alegou ter se automedicado devido a uma crise de labirintite e isso teria motivado o descontrole gerado durante a apresentação. O colunista resolveu sair em defesa da cantora, alegando complexidade das palavras e termos que compoem o nosso Hino. Para justificar essa atitude, ele comparou o Hino Brasileiro a um tipo de poema escrito pelo já falecido inglês Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas e tantos outros. Ele criou um poema com palavras inventadas, mescladas com outras inexistentes, "cuja bonita sonoridade contrasta com o enigma de um significado impossível de ser alcançado", define o autor no texto.

Particularmente, tive acesso de risos (da mesma forma quando ouvi a versão do Hino Brasileiro na cômica interpretação), ao tentar ler o versinho transcrito no referido texto__ propositalmente de forma romântica __ o que tornou a leitura realmente impossível. Vou transcrever abaixo o primeiro verso do poema que se chama Jabberwocky, traduzido para o português pelo poeta Augusto de Campos. Tente fazer essa experiência, caro amigo e paciente leitor:

"Era briluz
As lesmolisas touvas
Roldovam e relviam nos gramilvos
Estavam mimsicais as pintalouvas
E os momirratos davam grilvos."

E aí, continua achando que nosso Hino tem palavras de difícil entendimento ou pronúncia?

O que o colunista argumenta é que ele traz uma combinação de palavras familiares entre outras estranhas, o que provoca um efeito Jabberwocky para uma grande quantidade de brasileiros cujos ouvidos são destreinados para os preciosismos da linguagem apresentada.

Mas voltando à Vanusa e sua labirintite, não dá para atirar pedras porque meu telhado é de vidro; não padeço da mesma patologia mas tenho crises de enxaqueca e me atrevo a cantar de vez em quando... E a propósito, pegando carona na "marolinha" de civismo provocada pelo fiasco, entrou em vigor dia 22 deste, a Lei Federal sancionada pelo Presidente em exercício, José de Alencar, que obriga a execução do Hino Nacional Brasileiro nas escolas públicas e particulares do ensino fundamental pelo menos uma vez por semana. São os valores cívicos novamente incentivados (?) através do poder público, como nos tempos da sexagenária Vanusa e por que não confessar dos meus também. Sem errar a letra, eu poderia cantar em perfeito contraste com a Lei que acaba de entrar em vigor, imaginando nossas crianças e adolescentes enfileirados frente à Bandeira Nacional, o final da música "Como Nossos Pais", lindamente interpretada por Elis: "Minha dor é perceber que, apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais".

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

QUANDO ME SENTIRES AUSENTE

Não é um epitáfio. Se depender de mim, pretendo que a estrada seja ainda longa. Mas às vezes as molésticas me assustam e percebo o quanto sou vulnerável. Aliás, somos todos. Por outro lado, partir é tão normal quanto chegar. Morrer faz parte da vida, tanto quanto nascer. Lia Luft, colunista da revista Veja, dedicou-se também a este assunto semana passada. Talvez por eu ter estado "perrengue" no decorrer da mesma semana, faltando energia para viver a vida com a alegria que me é peculiar, tenha feito com que eu que aceitasse essas verdades com relativa normalidade. Todo dia morrem células. Algumas se renovam; outras não mais. Alguns dos meus neurônios, se não morreram, tiraram férias ou quem sabe, até mesmo licença-prêmio, pois tentei acioná-nos para o exercício da escrita e não me atenderam. Por isso, neste humilde texto poderá haver erros simplórios, que peço, caro amigo leitor, seja condescendente: Sinto-me incapaz de percebê-los.

Por lidar diariamente com a morte (diariamente não é bem o termo; dia sim, dois não), estou criando certa casca de indiferença em relação ao assuno; não dá para assimilar o sofrimento alheio, mas em casos mais dramáticos ainda levo sustos. Tenho me surpreendido, ultimamente, em constatar como a violência impera na periferia e região metropolitana da Capital. Quando prestava serviço num cemitério que é patrimônio histórico da cidade, os cortejos fúnebros tinham até certa pompa. Hoje trabalho no limite do município, área de extrema pobreza, onde, além de bens materiais, o que mais falta à população, com certeza é amor. Como o povo carece de amor! Como as vidas perecem por falta de amor! E como muita gente ainda mata em nome do amor! Não é irônico? Homens, principalmente, usam do sentimento maior, como agente motivador da prática da violência contra suas parceiras, mães de seus filhos.

Dias desses, fazia uma bela tarde, eu observava as fileiras de covas rasas sob um pé de Sucupira com suas flores cor-de-rosa, a balançarem por suave brisa. Tentei buscar palavras doces para uma narrativa que disfarçasse a realidade dura que anotamos diariamente no livro de obituário. Não consegui. A cada dia que passa, a palavra "homicídio" se agiganta no fatídico livro. Hoje, trago na lembrança, a fisionomia de um garotinho, com cerca de dois anos, que na semana passada corria alegremente pelo pátio e entre as fileiras de covas, alheio ao drama vivido pelos familiares, tendo sua mãe, de apenas dezessete anos, estendida numa urna mortuária na sala de velórios, vítima do "amor" ansandecido do pai, sendo que este ainda se encontrava numa gaveta fria de necrotério, após ter dado cabo da própria vida.

Quando me faltam palavras, geralmente é porque estou pobre de sentimentos... ou talvez não esteja conseguindo lidar com as emoções. Por isso me ausento. Há momentos que pedem reflexão e eu, por sentir que tenho certa intimidade com o Criador, tenho me dirigido muito a Ele, tentando obter respostas a respeito das misérias humanas.  Quando falta amor, morre um pouco a poesia, a vida perde a cor, a flor perde o perfume, o escritor perde o vocabulário, fica afônico o cantor.

domingo, 6 de setembro de 2009

CUMPRINDO METAS

A cada ano que se inicia, estabeleço uma meta para melhoria de meus defeitos (que não são poucos!) e tento cumprí-la à medida que ele transcorre. À cerca de dois meses recebi por email uma questionário a ser respondido e quando interrogada sobre o desejo que gostaria de realizar este ano, não tive dúvidas ao responder: "Quero estar mais perto de Deus". Foi só então que minha percepção se abriu e notei que minha agenda, no quesito "pontos de melhoria", estava em branco. A partir daquele momento, a resposta dada transformou-se num desafio. Só não sabia que rumo tomar e que ponto atacar para atingir meu objetivo.

A maioria das mulheres que, como eu, trafegam solitárias pelos caminhos da vida, não raramente sentem-se magoadas, ressentidas e usadas na questão da banalização dos relacionamentos amorosos. Acredito que isso aconteça porque pisoteiam valores adquiridos através da educação que receberam para a vida e em muitos casos, preferem considerá-los ultrapassados, ao invés de aglutinar experiências. Sentem-se "crescidinhas" o suficiente para criarem seus manuais de conduta e passam a bater cabeça, como donas absolutas de seus destinos. Eu, particularmente, tenho levado algumas rasteiras do sexo oposto e em meio ao sofrimento, procuro no outro razões para alguns episódios dos quais não entendo o desfecho, entre eles, alguns desligamentos, digamos, "repentinos e inexplicados". Confesso que dificilmente as encontro. O homem não precisa de razões para executar suas manobras: Ele é puro instinto e, como um animal, faz seus experimentos por simples curiosidade ou para saciar o desejo incapaz de conter. A mulher, ao contrário, perde o senso analítico: Sua razão bate em retirada quando a emoção entra em campo. Ela se apaixona, fantasia, se casa, tem filhos... E tudo numa fração de segundos! Quando acorda desses devaneios, a criatura já "bateu asinhas". Acredita que eu, por algumas vezes, quando me dei conta percebi que o "dito cujo" tinha saído da minha vida, assim como quem foi à feira comer um pastel e nunca mais deu notícias? E quando situações dessa natureza ocorrem, qual é o posicionamento correto para não permitir que mágoas tomem conta do nosso coração?

Padre Zezinho tem uma música que se encerra com a seguinte frase: "A vida é uma questão; o amor é a resposta". Realmente, a vida nos questiona todos os dias e utilizando do sentimento maior, todas as respostas virão. É amando, seja amor carnal ou fraternal, que tenho aprendido a necessidade do perdão. Houve um tempo em que eu ousava não me sentir magoada, como a querer ser perfeita o bastante para não alimentar sentimentos negativos . Raiva, hoje me permito sentir. Ódio, jamais. E guardar ressentimento? Nem pensar! Por isso, procuro perdoar o mais rápido que posso. Procuro digerir, em tempo recorde, o desconforto que uma desilusão produz, para que não se transforme em ressentimentos e fique enveneando minha alma. A frase bíblica dita por Paulo de Tarso "todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm" (I Cor, 20, 23) remete a estas situações que vivo hoje. Se não aprender usar a razão antes da emoção se contrapor, acabo permitindo que pessoas me machuquem e erroneamente me sentirei injustiçada. Nesse caso terei que usar doses imensas de perdão, o que em pequenas porções muito me custa. Por outro lado, se trilhado com sabedoria, esse parece ser o caminho para atingir o objetivo que tracei para 2009.

Dos sentimentos que um ser humano pode cultivar, com certeza o amor é o maior e mais nobre. É mais uma verdade dita por Paulo de Tarso em I Coríntios, cap. 13. Através da prática do amor por mim mesma, tenho aprendido a valorizar meu corpo, templo sagrado onde habita meu espírito, que traz nele a marca do Criador. Com isso, atribuo também a mim, as culpas pelo que de ruim venha acontecer através dele. E vejo em várias circunstâncias, pontos onde posso crescer e evoluir, acionando o mecanismo o autoperdão. Em relação ao outro, Jesus me exorta ao perdão infinito. Aceitando e praticando esses essinamentos, percebi que já estou me sentindo bem mais perto de Deus.

E assim foi que aprendi
Na hora de sofrer
Que nada faz sentido sem perdão
Que se eu não perdoar eu me enveneno.
E, se eu viver querendo eterna compreensão
Jamais aprenderei do amor esta lição:
O amor é bom demais
Porém às vezes dói! (Pe. Zezinho em "O Amor é a Resposta")