sábado, 23 de janeiro de 2010

UM ANJO VEIO ME FALAR.

O Zodíaco preveniu que por volta de 15 de janeiro haveria uma eclipse solar em meu signo, assinalando situações emocionais tensas. Li e me esqueci. Só fui recordar o alerta por um perrengue sinistro que passei no último fim de semana. E como sou ansiosa, os problemas crescem assustadoramente, o amanhã demora, quero resoluções para ontem...etc, etc.

Por não ser supermulher e ainda não descobri onde adquirir uma varinha mágica (se alguém souber me conte por favor!), como qualquer mortal recorro  à Divindade, pedindo auxílio urgente.  Passei o dia inteiro de baixo astral, com alguns amigos ligando tentando ajudar-me, entretanto,  não tínhamos sucesso, apesar dos esforços concentrados. Digo não tínhamos,  uma vez que meu desejo é sempre estar bem, mas naquele momento, por mais que me esforçasse, não conseguia reagir. Aquela sensação horrorosa,  com certeza,  não era coisa de Deus!

Ao cair da noite, eis que um anjo entra pela porta da frente! De estatura frágil, humilde,  com um sorriso nos lábios, parecia envolvida por uma aura clara, reluzente. Seu nome: Solange. É uma comadre e prima muito querida, por quem tenho enorme adminiração, pela calma e equilíbrio que ostenta diante das dificuldades. Esperava que ela me colocasse no colo, afagasse, adulasse... Mero engano! Ouviu minhas queixas calmamente e depois, com aquela voz mansa e pausada que lhe é peculiar, emitiu suas opiniões, ou melhor,  deu-me de cara alguns puxões de orelha básicos, que serviram para que eu analisasse claramente a situação que vivia e parasse de procurar pelo em ovo.

Por coincidência, no dia seguinte ao ocorrido, decidi assistir a  um filme  que há tempos tinha em mãos e não encontrava tempo para fazê-lo. Tem o título de "Divã", estrelado por Lília Cabral. Fantástico! Valeu por várias sessões de psicoterapia, contribuindo para que eu enxergasse os movimentos da vida com mais leveza, principalmente no final, quando a protagonista faz a seguinte conclusão diante do seu analista: "Vida é falta de definição. É transitória mesmo! Não tem a portinha certa, não tem o mapa da mina. O mapa muda toda hora e a mina pode explodir a cada momento, em qualquer lugar." Para mim foi uma bela lição e creio piamente que o anjo,  mais uma vez,  se fez presente de forma subjetiva, como faz na maioria das vezes nos assoprando conselhos em forma de intuições, às quais não damos a mínima importância
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Aprendi muito nesses últimos dias! Sabe qual é a mola que tem me impulsionado? A dor. Sem ela eu seria como a semente protegida numa redoma, sem passar pelas intempéries, consequentemente, sem produzir, sem renascer. Então, percebo que tenho renascido a cada amanhecer. Pago altos preços? Sim. Contudo,  tenho vivido e isso é o que importa! Lembro-me que certa vez ouvi o comentário de uma adolescente sobre sua infância que deixou-me extasiada. Ela disse assim: "- Se brinquei muito? E como! Minhas bonecas não ficavam com um fio de cabelo, eu inventava de tudo! Nada tenho guardado daquele tempo. Mas como brinquei e fui feliz!
 
Pois bem, está decidido!  À partir de agora, meu primeiro passo rumo a ser mais feliz é assimilar a mensagem do anjo:  Viver é uma arte que demanda aprendizado contínuo; as feridas a gente trata, os cacos a gente cola.  Porém, com leveza e atitudes maduras, posso tornar esse aprendizado uma  gostosa  brincadeira.

"Você verá que a emoção começa agora
Agora é brincar de viver
E não esquecer, ninguém é o centro do universo
Que assim é maior o prazer."
(Guilherme Arantes em Brincar de Viver).

"Digo que poderíamos ser muito mais felizes do que geralmente nos permitimos ser, mas temos medo dos preços a pagar. Somos covardes." (Lia Luft em Perdas & Ganhos)

domingo, 10 de janeiro de 2010

REINCIDIR OU NÃO: EIS A QUESTÃO.

Tenho muita dificuldade em lidar com perdas. Falo das perdas emocionais. Se precisar de uma pessoa que aceite a morte com naturalidade (para muitas parece até frieza), recorra a mim. Mas não me peça para suportar com calma a separação em vida de alguém que amo. Sou uma lástima nesta questão.

Para se ter uma idéia,  a morte, propriamente dita, de minha mãe ocorreu quando ela se separou de meu pai e se mudou. Lembro-me da angústia vivida durante o dia de trabalho, imaginando que não mais a encontraria quando retornasse à noite para casa. Cinco anos mais tarde ela partiu deste mundo e eu reagi com relativa tranquilidade. Meu marido morreu (e eu quase literalmente) quando nos separamos. Curti uma pseudo viuvez que parecia infinita, até descobrir motivos para sorrir outra vez. Quando uma amiga muito querida se mudou para os Estados Unidos, chorei semanas a fio.

Pensei que o sofrimento pela separação me tornaria mais "casca grossa" quando fosse me relacionar novamente com outro homem. Mera ilusão! A cada novo caso onde ocorra ruptura, sinto uma tristeza que me rouba as energias. Sinto um desejo enorme de sair caminhando sem rumo até perder as forças e que alguém apareça milagrosamente, coloque-me no colo e cuide de mim.  Sempre que as pessoas presenciam meu sofrimento, saem com o seguinte conselho: "Não sofra por quem não te mereça!" Me diga quem consegue racionalizar num momento desses? Quando amamos, a pessoa escolhida é sempre perfeita!

E tem ainda um outro ponto interessante: Filhos, amigos, parentes de qualquer natureza não conseguem ocupar o vazio que a perda de um relacionamento provoca. É outra categoria de amor. Cobrar de alguém que amarga com a perda,  um comportamento equilibrado em relação aos entes queridos,  é empurrá-lo ainda mais para o fundo do poço, pois causa grande aflição  pensar que não conseguimos amar bem a quem deveríamos.

É claro que cada indivíduo reage à sua maneira. Mas conheço vários relatos de pessoas que se assemelham ao meu. Minha psicoterapeuta disse que esse comportamento, de certa forma doentio, pode ser comparado ao alcoolismo. Somos dependentes de todo afeto que cultivamos. Nas questões conjugais então é que a doença manifesta-se com toda força. Com relação ao álcool, quando nos tornamos dependentes,  sabemos ser necessário eliminá-lo definitivamente dos nossos hábitos. E em se tratando do amor, quem será capaz de evitar as recaídas?

"Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida." (Tom Jobim/Vinícius de Morais em Eu sei que vou te amar)

O AMOR É INSANO?

Na cama,  lençois cor-de-rosa; na alma branca grande inquietação. O sexto sentido adverte: Não virá. No entanto, o coração teimoso insiste em alimentar esperanças, vivendo a expectativa da espera angustiante. As horas passam e da rede na varanda ela observa o vizinho que fuma na sacada. Ironicamente é o mesmo que  em certo domingo espreitava cenas explícitas de carinho e amor. Parece indagar: Onde está teu homem? Onde estão os protagonistas das cenas que causaram-me inveja e arrepios?

Ah, se o pensamento tivesse força de materialização! Na sua insanidade emocional, imagina-o alí respirando  o mesmo ar, os corações batendo no mesmo ritmo... O que leva essa moça a querer algo que não deseja ser seu? O que leva essa moça  a gostar mais do outro do que de si mesma? Que força é essa que em certos momentos colore seu infinito cinza e em sua falta até a lua se apaga?

A moça se cala, se enrola na rede em posição fetal em busca das lembraças e do calor do ventre materno. Chora e pede aconchego.  Intimamente possui todas as respostas;  só não se atreve a verbalizá-las, ou prefere ludibriar a si mesma. Para a terra que tem sede, uma gota faz brotar o verde que da continuidade à vida. Para quem caminha só e ainda sonha, um aceno pode mudar toda uma trajetória. E para quem acredita que viver ainda é o grande desafio, enfrentar um novo amanhecer pode ser uma grande vitória.

"O sol já nasceu na estrada nova
E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar."
(Oswaldo Montenegro em Estrada Nova)