segunda-feira, 8 de junho de 2009

REMINISCÊNCIAS

Hoje, por breve momento, fechei os olhos ao presente e entrei num túnel de lindos momentos, gravados nas memórias de um passado situado num tempo distante. Recuperei alguns fragmentos de lembranças, com os quais fui montando um quebra-cabeças.

Verdes campos, riachos de águas limpas com peixinhos a nadar. Atiro pedras na água que saltitam, criando um efeito de luz e sons indescritíveis. Sinto um cheiro agradável de terra molhada aos primeiros pingos da chuva primaveril e minha visão se maravilha com as flores que anunciam a estação. Antecipo, na imaginação, a celebração pela brota das pastagens, comemorando a renovação da vida com a natureza em ação.

Tendo chuva abundante, haverá colheita farta. Caso contrário, iremos em procissão pela estrada pedregosa até o cruzeiro cravado na parte mais alta da propriedade, com garrafas d'água e flores do campo nas mãos, pedindo ao santo protetor que não nos deixe faltar o alimento de cada dia. Mamãe rezará o terço enquanto sua prole a seguirá, respondendo em coro a oração da Ave-Maria, entoando cânticos sacros, sem perceber a autoflagelação provocada pelo contato das pedras em nossos pés descalços. Afago o cão de estimação que nos segue abanando o rabo, perseguindo os pássaros que ousam atravessar nosso caminho. Meu semblante é alegre; nas faces estampo um rosado saudável e expressão de felicidade.

De repente o soar de uma sirene interrompe a viagem, obrigando-me a fechar os olhos ao passado. Subitamente me vi em meio à cor cinzenta das construções de concreto, com cheiro da poluição dos carros, dos sons que ferem meus ouvidos. Os olhos ardem, a visão fica turva, não sei se pela fumaça poluidora ou pelas lágrimas que insistem em brotar, motivadas pela saudade de um tempo e de pessoas que vivem apenas nas lembranças.


"Eu queria ter na vida, simplesmente
Um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca, de varanda,
Um quintal e uma janela,
Para ver o sol nascer".
(Gilson em Casinha Branca)

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