sexta-feira, 29 de maio de 2009

PRESENTE DIVINO

Mari fez aniversário no mês de maio. Para comemorar essa data juntamente com os colegas de trabalho, planejou um café-da-manhã caprichado. Para tanto, no dia anterior à data, se esmerou no preparo de um bolo de fubá, fez compras de leite, sucos e frios, além de encomendar pãezinhos especiais à padaria do bairro. Tudo com muito carinho. Pela manhã comemoraria no trabalho; à noite, em casa, com alguns familiares e amigos.

Após a comemoração matutina, que agradou à todos, por volta das 10:00h recebeu um comunicado da secretaria à qual é vinculada que haveria uma reunião na sede ao final do expediente, de suma importância, e sua presença seria relevante. Acatou a convocação meio a contragosto, visto que se atrasaria para a festinha em familia, além do que a referida secretaria localizava-se fora da rota da sua linha de ônibus. Seu chefe imediato também fora convocado e ofereceu-lhe uma carona até o local da reunião.

Quando se dirigiam à secretaria, Mari resolveu tentar uma estratégia: "Se eu reclamar que vou me atrasar na chegada em casa, pode ser que o chefe se ofereça para levar-me", pensava. Cogitava essa possibilidade, pensando que seu superior seria generoso, em virtude daquela data especial. A reunião se atrasou e Mari se exasperava à medida em que o tempo corria. E fazia questão que o chefe percebesse sua impaciência, tecendo comentários sobre o fato.

Quando saíram da renião já era noite e o chefe disse:
- Mari, deixo você no local mais acessível para que tome seu ônibus.
À muito custo, ela conseguiu controlar-se para não demonstrar decepção e resignada, indicou-lhe o local onde teria duas opções de transporte coletivo. Mal ele estacionou o carro, Mari viu passando um dos ônibus que fazia a linha. Então ela pensou: "Meu Deus, como estou sem sorte hoje!" . Na sua ansiedade, já visualizava o próximo coletivo abarrotado, vagaroso, calculando cerca de quarenta minutos para chegar a seu destino.

Antes mesmo de concluir seu pensamento, viu estacionar próximo à parada, completamente vazio, um ônibus que trazia no itinerário as palavras "fora de serviço". Mari percebeu o motorista manipuladdo o painel à sua frente, e de repente, como num "milagre de aniversário", no letreiro brilhava o nome da sua linha. Naquele momento Mari refletiu e constatou que Deus providenciara para que ela tivesse ali a compensação pelo tempo dispensado para alegrar a vida de alguns colegas naquele dia. Instalada confortavelmente numa poltrona ela elevou seu pensamento até Aquele que fizera-lhe um carinho especial, agradecendo por mais um dia de vida, chegando calma e tranquila à sua parada. Em vinte minutos estava em casa abraçando alegremente seus entes queridos.

"Tudo em nós funciona perfeitamente bem e em harmonia com a natureza. O que há de bonito no dia de hoje? Procure reparar, porque esta é a melhor imagem de você mesmo. Deus está em nosso cotidiano, espera que notemos Sua presença. Toda manhã, Deus nos mostra o Seu sorriso." (Paulo Coelho)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

RESIGNAÇÃO

No lampejo do seu olhar, nota-se a tempestade
A onda revolta ainda assusta o coração descuidado
Tentas sobrepujar seus desejos, suas vontades
Experiências vãs, promessas quebradas.
Em suas ações a ternura ainda é presente
No baú que emerge lindos momentos vêm à tona
Tentas disfarçar sentimentos, saudades recentes
Recriam-se expectativas, repetem-se as dores.

No embarque, a certeza que será eterno
Enquento navegas, a esperança de torná-lo possível
Em terra firme, a contragosto, aceitas o irrealizável.

"Navegar é preciso; viver não é preciso". (Fernando Pessoa)

domingo, 17 de maio de 2009

PERSISTÊNCIA

Insisto em amar. Por mais que me decepcionem, por mais que meus sonhos sejam frustrados, não desisto: Amo mesmo! E não falo só do amor carnal; muitas vezes o amor fraternal também da rasteiras. Daquelas de cair com a cara no chão! Normalmente é essa a sensação que tenho ao me defrontar com amores e amizades infrutíferas. E ela se manifesta em virtude das expectativas criadas em torno dos meus relacionamentos, dos meus afetos. Estou sempre esperando um retorno que nem sempre vem.

Por outro lado, ninguém é obrigado a devolver-me aquilo que devo doar sem interesse, embora afirmem que "amor é troca". Desde que seja natural, concordo plenamente. Desde que não haja cobrança, assino embaixo. Então porque professo essas idéias altruístas em relação a afetividade e tropeço no momento de racionalizá-las? Muito bem: Chegamos ao "x" da questão. Racionalidade! Como usar a razão se sou toda emoção? Como usar o cérebro, se em mim, no lugar restrito a esse, vive um coração?

Diante de tantos questionamentos (para os quais ainda não tenho respostas), resta-me seguir amando. Tropeço aqui, levanto logo à frente, aprendo algumas lições que agrego a esta personalidade de eterna aprendiz do comportamento humano e do conhecimento de si mesma. Tenho a impressão que viver é isso aí: Sentar no banco da escola, aproveitar o máximo do conteúdo ministrado e tentar passar de ano. Mas para que o aprendizado seja proveitoso é necessário que haja um intervalo para o recreio. É preciso refrigerar a alma para que a caminhada se torne mais agradável. E cabe a cada um precisar quando e onde fazer seu "coffee break", procurando ser feliz "apesar de de".

" uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente." (Clarice Lispector)


segunda-feira, 11 de maio de 2009

TEMPO PROPÍCIO

Teimo em sentir a temperatura ardente. Algo me diz que estou na contramão das estações. Lá fora um vento suave traz a certeza de que o outono pronuncia-se. Minhas emoções recusam as sensações mornas e dias nublados. Meu corpo quer o calor do sol que faz o sangue ferver nas veias, circulando esse calor até o transbordar, como num vulcão em erupção. Minha alma é que determina essas atitudes, apesar de sentir que a mudança será inevitável. Mas a quer gradativa, com suavidade.

Apesar da estação contradizer-me, ainda é verão em tudo que vejo e sinto. Não é o momento de usar meia-manga, não é tempo de recolher-me, temendo o friozinho que chega ao cair da noite. Vivo a alegria das manhãs ensolaradas, de céu azul e algazarras de pássaros nas copas das árvores. Inspiro o cheiro bom que imana da terra molhada ao cair dos primeiros pingos da chuva passageira, contrastando no espaço com o sol brilhante. Sinto desejo de correr, dançar, cantar sob essa chuva e se houver enxurrada, colocar nela meu barquinho de papel, imaginando-o um grande transatlântico a deslizar sobre um mar azul.

Infantilidade e imaturidade? Não, não! O que não posso e não quero, ainda, é aceitar uma estação que não combina com meu estado de espírito. Quando chegar o momento propício do outono se instalar no meu viver, tenha a certeza, me aconchegarei, confortavelmente, em seus braços.

"Envelhecer, certamente com a mente sã
me renovando, dia a dia, a cada manhã.
Tendo prazer, me mantendo com o corpo são
eis o meu lema, meu emblema, eis o meu refrão."
(Lema, com Ney Matogrosso, de Carlos Rennó e Lokua Kanza).

P.s. Texto escrito para meu níver de 4.8 em 12/05/2009. Vixe!)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

TEMPO E VIDA

Recentemente numa conversa trivial com um amigo de longa data, ele saiu com as seguintes perguntas:
- Quando você fica sabendo da morte de alguém jovem, em plena atividade, que comentário faz?
- Normalmente lamento. Não teve oportunidade de viver a vida.
- E quando falece alguém em idade avançada, o que você diz?
- Nesse caso aceito o fato com mais naturalidade. É o inverso do primeiro.
Então meu amigo questionou-me:
- Diante disso você pode definir para mim, o que é a vida?
Confesso que fiquei confusa naquele instante. Diante do meu silêncio, ele concluiu:
- Vida, nada mais é do que um espaço de tempo.

Fiquei ruminando esse diálogo por alguns dias. Pensando em como utilizo meu tempo, consequentemente, como tenho vivido a vida. Se estou jogando tempo fora, se estou desperdiçando vida.

Hoje, lendo o livro "Todo Dia é Um Dia Especial" de Max Lucado, deparei-me com o seguinte aconselhamento: "Embora nenhum de nós tenha sido chamado para carregar o pecado do mundo (Jesus fez isso), todos nós podemos carregar um fardo pelo mundo. Visite pessoas no hospital. Dedique um sábado a ajudar os sem-teto. Você descobrirá esse mistério: enquanto você ajuda os outros a encarar seus dias, você põe vida em seu próprio dia. E vida é exatamente aquilo de que muitas pessoas precisam."

Imediatamente lembrei-me do meu amigo, da sua sabedoria ao me alertar e provocar um questionamento íntimo e das palavras que ele utilizou para finalizar o diálogo transcrito no alto:
- Quando Jesus nos recomenda "dar a vida pelo nosso irmão" ele não quer que paguemos um preço tão alto, como ele mesmo fez. Quer sim, que dediquemos um pouco do tempo que nos sobra, a quem de nós necessite.

Não está sobrando tempo?
A verdadeira caridade consiste em dar do nosso necessário. Você vai notar que aquilo que é dividido em favor do próximo, multiplica-se à seu favor.

De uma coisa eu tenho certeza: Quero ter vida longa! E você, o que me diz?