sábado, 25 de setembro de 2010

RENOVAÇÃO



No último dia 23 a primavera chegou ao hemisfério sul. Com ela, o colorido e o perfume das flores,  a esperança de que os primeiros pingos de chuva venham refrescar o calor e amenizar o clima seco que castiga a região centro-oeste.

Assim como ocorre no planeta, o ser humano também vivencia as mudanças de estações em si mesmo, através das experiências naturais, que mesmo se repetindo, são sempre diferentes no conteúdo.

Em se tratando de relacionamentos amorosos, porém,  é comum encontrarmos indivíduos que se recusam a aceitar tais mudanças. Apresentam feridas permanentes -  decorrentes das podas necessárias -  nas quais não permitem que nascam brotos. Declaram-se incapazes de experimentar novas emoções com plenitude. Assumem  a postura do "mais ou menos" em suas ligações afetivas e ao constituirem nova parceria, agem levianamente com o outro,  ignorando responsabilidades no ato de cativar. Enfim, por medo  de sofrimento, fecham os olhos às  belezas e alegrias que uma nova estação traria.

A essas pessoas fica a certeza que, mesmo que o tempo não seja  propício,  as estações trocam de lugar. Sim!  Ainda que os processos naturais se atrasem, a chuva não caia no momento previsto, os jardins florescerão e serão povoados por lindas borboletas! As Mudanças poderão  ser retardadas mas não definitivamente ignoradas.  Há uma frase que reforça bem essa idéia, com a qual  Cecília Meireles inicia lindamente um texto sobre a estação das flores:  "A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la."

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

MELANCOLIA

Saudade de quem me tocou por dentro
Sem que por fora me sentisse
Saudade de quem me despiu a alma
Sem que minha ingenuidade explorasse
Saudade de quem percebeu minha assência
Sem que uma palavra eu dissesse
Saudade de quem fantasiou minha imagem
Sem que da minha existência soubesse
Saudade de quem me amou por inteiro
Sem que de mim,  ínfima parte conhecesse
Saudade de quem me viu como luz
Mesmo que fagulha, apenas, eu fosse.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DEMOCRACIA: QUANDO SERÁ?

Um amigo enviou-me no último domingo o vídeo de campanha do candidado Tiririca, já visto pela maioria dos brasileiros. Enquanto alguns o consideram uma afronta ao processo eleitoral, outros se divertem a até concordam que a nossa democracia faz jus a comportamentos dessa natureza. Ele pediu que eu escrevesse algo sobre o atual momento da política brasileira. Não é fácil esta empreitada, amigo Eduardo! Na verdade, chega  ser um martírio falar deste tema!

Vou confessar sem medo de ser execrada: Estou fora do processo eleitoral de 2010! Sei que  amigos queridos irão criticar esta atitude e até eu, admito, fico com aquela sensação de covardia... Por outro lado, não tente convencer-me do contrário! Os argumentos que você iria apresentar, com certeza eu já ouvi repetidas vezes e em vários pleitos.  Quando me dá aquele frio na espinha, do tipo  "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come"eu "salto de banda"  buscando um galho bem alto para subir, esperando que a fera passe e eu sobreviva. Com licença, quero me abster! Se escolho votar num "mascarado assumido" como o palhaço Tiririca, sei a m... que estarei fazendo. Se contribuo para eleger um "cara limpa", com certeza o tempo revelará sua verdadeira máscara, e então, cara de palhaço terá esta que vos escreve.

Creia, minha atitude não é inconsciente. O que falta é consistência dos candidatos que convençam-me da sua seriedade para minimizar o problema social deste país, problema esse que é a raiz de tantos outros, objetos das promessas de campanhas eleitoreiras. E se nenhum deles passa credibilidade, furto-me ao dever cívico; renuncio ao direito de cidadã. Irei à urna e pressionarei a tecla "branco", garantindo assim que nenhuma parcela do meu parco salário seja recolhida aos cofres da União, à título de penalidade.

Desculpe, amigo, se não consegui usar de recursos poéticos  e belas figuras de linguagem para enfeitar este texto. Em se tratando do assunto em questão, a inspiração  vem, melancolicamente, apenas quando me recordo que , ainda criança,  no início dos anos 70,  eu desfilava em cima das carrocerias de caminhões, acompanhada de pai, mãe e irmãos,  com planfletos cobrindo toda a  roupa, coladas por "grude" caseiro,  lutando por um ideal que eu  pensava valer a pena . E essa luta durou até a conquista das Diretas, nos anos 80,  para eu ter,  hoje,  o privilégio de  assistir pelos telejornais  as "lições de democracia",  representadas por imagens que,  embora sem cheiro,  quando entram no ar o que se sente é um odor fétido tomando conta do ambiente.

 "Cara de palhaço
Pinta de palhaço
Roupa de palhaço
Foi esse o meu amargo fim..." ( Palhaçada de Aroldo Barbosa/Luiz Reis) 

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

LIÇÃO DE SABEDORIA

Margareth me viu em lágrimas.
Não questionou os motivos,  não  quis saber  as razões. Sem que eu nada relatasse,  fez uma colocação interessante:  -Você estava com um pequeno problema de locomoção, lançou mão de um par de muletas e agora, sã, não quer abandonar esses "apetrechos" de que não precisa para concluir sua volta no parque.  Ouvi, entre uma lágrima e aquele nó na garganta.  Comecei a pensar: De onde viria o conhecimento psicológico de Margareth, quando num exemplo simples, traduziu o medo que eu sentia?

Como eu ainda demonstrava incerteza acerca das minhas capacidades , ela continuou,  interrogando: - Você acha que sou "tora"? Respondi prontamente: Demais! Ela retrucou: -  Pois você é muito mais forte que eu. Como eu a olhava de forma interrogativa, sem que  pedisse,  exemplificou: - Quando vou à guerra, venço a batalha e estraçalho meu inimigo. Nada sobra dele!  Você, quando enfrenta uma batalha, além de vencê-la,  conquista seu adversário, fazendo dele um aliado. Isso, porque,  diferente de mim, que possuo uma força bruta, você suaviza a sua com porções generosas de doçura, característica muito especial da sua personalidade. Só é preciso não confundir esta qualidade com fraqueza, como vem sempre fazendo . Este é o  grande desafio a ser vencido em primeiro plano  para atingir suas metas,  sem derramar tantas lágrimas.

Percebi então que Margareth traz o conhecimento das muitas voltas dadas no parque. Sempre com um sorriso no rosto, a experiência de seis casamentos e uma sabedoria de fazer inveja a qualquer "letrado" nas ciências do emocional, ela me deu um tapa na cara que despertou-me da letargia, sem a necessidade de levantar a mão. Exaltou as qualidades que eu possuia, minha força e capacidade de ação. Aliás, mesmo em lágrimas, Margareth disse que eu estava linda; ela via muita luz irradiando a partir de mim.

E o melhor é que ela existe. Não faz parte do meu imaginário! É reconfortante saber que no momento necessário, ela terá a palavra certa. Ela dará um tapa, que ao invés de traumatizar, despertará aquele que chora.  Fará com que  ele abra os olhos para um mundo que, até então, ocultava-se sob o nefasto  véu do medo.

"Eu sou aquela mulher que  fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores." (Cora Coralina)

sábado, 4 de setembro de 2010

NUDEZ

Hoje li  Evelyne Furtado,  que numa crônica falava da sua angústia ao escrever e citava  nomes  famosos, como Luis Fernando Veríssimo, Zuenir Ventura, Raquel de Queiroz, os quais a gente lê,  crendo piamente que seus trabalhos literários saem do cérebro com facilidade,  e que contudo,  também confessam sofrer ao produzí-los.

Eu, que nem de longe ouso incluir-me em lista tão célebre, tampouco qualifico-me como escritora, acredite, padeço quando deixo escapar  pensamentos através da escrita. Chega  ser penoso desnudar minha alma e permitir que tantos me julguem, aplaudam e também condenem. Ironicamente, escrever é também  um ato terapêutico: cura-me as dores; expande minha alegria.

Outro motivo de aflição é a responsabilidade com uma escrita correta, dentro das normas que a Língua Portuguesa exige, responsabilidade que procuro minimizar, já que não tenho nenhum  compromisso editorial com o que escrevo.  Quando exponho meus sentimentos, só desejo que o leitor me entenda com os olhos do coração. Isso me basta.

Até o momento,  só consegui traduzir em palavras,  sensações que vivenciei  e tenho certeza que, muito mais que o leitor,  eu me emociono -  entre  risos e lágrimas -  toda vez que tiro o véu que cobre minha intimidade. Surpreendo-me com situações que só revelo através da escrita;  sem pudores, sem reservas.  Nesse estado de nudez, as palavras que saem de mim  buscam eco em outros corações  para dores e alegrias,  comuns a todo ser que acredita,  também,  possuir uma alma.

"A minha alma tem
Um corpo moreno
Nem sempre sereno
Nem sempre explosão
Feliz esta alma
Que vive comigo
Que vai onde eu sigo
Com meu coração." (Simone em "Alma")

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

TUDO POSSO...


Semana passada meu físico entrou em colapso: Uma crise de enxaqueca que estendeu-se por tempo muito longo, culminando numa crise hipertensiva,  acabou por levar-me ao hospital, onde passei um dia recebendo medicamentos, tentando reencontrar o equilíbrio.

Deitada numa maca na emergência do hospital, ligada ao soro, comecei a ouvir música no celular para diminuir a ansiedade. Selecionei um hino evangélico e me concentrei no teor da letra. Ele transportou-me a uma dimensão de grande entendimento,  onde passei  a fazer um retrospecto da minha vida,  chegando  à conclusão do quanto Deus tem feito o impossível por mim.

Durante parte dessa caminhada terrestre, tive  anjos de guarda que  acompanharam-me  de perto em momentos difíceis:  O primeiro anjo, minha mãe, que já não vive neste plano; o segundo, meu ex-marido, que assumiu esse posto logo que nos casamos. Ambos, cada um à sua maneira,  se foram.  E eu estou descobrindo até onde sou capaz de ir, contando com emissários Divinos que estão fora do meu alcance visual. E naquela dia, desde a saída de casa, eram os únicos com os quais eu contava.

Vivendo esse acontecimento,  percebi como estou fortalecida!  Percebi que existe uma pessoa com a qual posso contar em qualquer situação: Eu mesma! E é muito confortante sentir os progressos dessa criaturinha frágil, que ainda chora ao sentir o escalpe do soro penetrando na veia e necessita de afago  para acalmar-se.  E afirmo com certeza que, naqueles momentos, a presença Divina foi determinante. E é a duras penas que estou sendo levada a crescer,  quando me aproximo dos 50 anos. Deus está  me dotando de  valiosos recursos para que eu assuma as rédeas do meu destino e decida  os rumos da minha caminhada, capacitando-me para enfrentar dificuldades que, até pouco tempo, dependia da intervenção de outros tantos para vencê-las.

A saúde?  Vai bem, obrigada! Ainda não era minha hora de bater asas.

"O meu Deus é o Deus do impossível
É o mesmo hoje e sempre há de ser
O meu Deus é o Deus do impossível
E fará  impossível pra você
E fará o impossível por você!" (Aline Barros )