terça-feira, 22 de dezembro de 2009

NO JOGO DA VIDA





Se a bola vier de jeito, 
emplaque...
Se a carta não for seu naipe, 
descarte...
Se a jogada for decisiva, 
xeque-mate!

Se der para concluir o ataque, 
enterre...
Se a decisão for no bater de mão,
não erre...
Se acaso a peteca cair,
sossegue!

Se a tacada final não der caçapa, 
chore...
Se a corrida trouxer medalha, 
comemore...
Se tiver a musculatura cansada,
namore!

Afinal,
O que mantém o espírito vivo 
é a chama.
Numa competição,
autoridade pertence ao árbitro,
Porém, na vida, 
só exerce domínio no jogo, 
quem ama.

P.s. Poema escrito para meu amigo Márcio, esta figura maravilhosa no canto direito,  cujo niver é 22/12.  Ele é professor de Educação Física, maratonista,  árbitro de basquete, etc, etc.  Ah, é também solteiro convicto!

domingo, 20 de dezembro de 2009

MEU NATAL INESQUECÍVEL

Era 24 de Dezembro, por volta das 18:30h. Naquela momento eu estava acelerada a secar os cabelos, com os minutos contados para chegar à casa espírita onde faria uma apresentação com o coral,  no culto de Natal. Havia ganhado o direito de executar um solo, acompanhada de um colega violonista. Era meu primeiro solo; estava exultante além de muito tensa.

O telefone tocou. Um dos meus filhos atendeu e a voz do outro lado pediu para falar com a dona da casa. Quando atendi,  uma senhora falou:
- Desculpe incomodar a esta hora e neste dia. Estou num orelhão,  disquei aleatoriamente o número que me veio à cabeça e caiu em sua casa. O problema é que tenho uma família muito pobre e prometi à meus netos que faria um almoço especial amanhã e até o momento nada tenho para cumprir minha promessa. Para falar a verdade, não tenho nem para o almoço básico de qualquer dia. A senhora não me conhece, eu sei, mas  gostaria muito de poder contar com sua ajuda.

Confesso ter ficado sem palavras. Ao mesmo tempo, um sentimento diferente manifestou-se em  meu coração, tomando o lugar da melancolia que sempre o assola nas proximidades dos festejos de fim de ano. Perguntei àquela senhora em que bairro morada e ele me indicou um da região noroeste da Capital. De antemão, avisou que se eu não pudesse me deslocar até lá ela me encontraria no terminal da Praça A,  em Campinas. Assim combinamos um encontro para o dia seguinte, 25 de dezembro,  às 09:00h.

À partir daquele momento empreendi uma corrida contra o tempo. Fui verificar o que possuía no freezer, dispensa, para que pudesse montar uma cesta natalina digna. Além disso, havia perguntado à senhora quantos netos possuía, sexo e idades. Quis providenciar também  alguns brinquedos e para tanto, recorri aos armários dos meus filhos que auxiliavam-me na escolha daquilo que podia ser doado. Como não tinha todo o necessário, fiz ainda uma pequena lista para que meu marido corresse ao supermercado, adquirindo o complemento. Após essas providências, fui a apresentação do coral, juntamente com minha família assistí o culto natalino, participamos de uma modesta ceia  na residência de minha irmã e retornamos para casa, onde eu ainda embalaria as doações, cuidando, especialmente,  dos pacotes de brinquedos para as crianças.

No dia 25 de Dezembro, nos dirigimos à praça A no horário combinado. Paramos o carro nas mediações e fui em busca da senhora,  da qual desconhecia qualquer detalhe da fisionomia. Ao atravessar a rua que circundava à praça, vislumbrei a figura de uma idosa  humilde, próxima à catraca de entrada, segurando a mão de um menino. Meu coração disparou, identificando com seus olhos  aquela que havia ligado na noite anterior. Nos cumprimentamos e eu os guiei até onde o carro se encontrava estacionado. Apresentei meus filhos,  meu marido e abri o porta-malas do carro cheio de  sacolas com os donativos. Aquela senhora e seu neto caíram em pranto. Haviam imaginado que eu doaria somente gêneros alimentícios para o almoço daquele dia. Ficamos tomados pela emoção. Perguntei se não queria que a levássemos em casa, pois seria difícil conduzir  tantas sacolas através do transporte coletivo.  Ela agradeceu e disse que eu já tinha feito muito, explicando que morava próximo à parada do ônibus do bairro. Buscaria ajuda lá. Auxiliamos na condução  dos donativos até a entrada do terminal e nos despedimos. Ela não se cansava de agradecer a nós pela generosidade. Eu não me cansava de agradecer a Deus pela oportunidade de ser útil, de amenizar no  meu coração aquela sensação de vazio.

Naquele ano, tive um  Natal feliz,  embora  no  meu íntimo persistisse o desejo que,  momentos como aquele e tantos outras semelhantes, comuns em nosso cotidiano,   fossem banidos de uma sociedade constituída de irmãos, filhos do mesmo Pai. Por muito tempo, a imagem daquela senhora e seu neto, num misto de risos e lágrimas, provocavam um aperto em minha garganta. O mesmo que senti agora, passados tantos anos, relatando meu conto de Natal.

"Um jeito mais manso de ser e falar
Mais calma, mais tempo pra gente se dar.
Me diz porque só no Natal é assim?
Que bom se ele nunca tivesse mais fim...


Que o Natal comece no seu coração,
Que seja pra todos, sem ter distinção.
Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for,
O melhor presente é sempre o amor...

Se a gente é capaz de espalhar alegria,
Se a gente é capaz de toda essa magia,
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia."
(Trechos da música Natal Todo Dia - Roupa Nova)

domingo, 13 de dezembro de 2009

MULHER-TORA


Há um tipo de mulher muito em moda atualmente: A mulher-tora. Ela é encontrada facilmente nas academias de musculação, malhando pesado no intuito de esculpir e desenvolver músculos avantajados, chegando, as mais exageradas, a adquirir um porte físico masculinizado.

No entanto, no meu conceito, existe outro tipo de mulher-tora. Eu convivo com uma desta categoria há mais de 40 anos, embora ela tenha começado a delinear a musculatura de sua alma por volta de 22 anos atrás, quando tinha 19 anos. Naquele tempo, ainda com aspecto físico de menina pela adolescente que era, alimentava sonhos como qualquer mocinha da sua idade. O início do seu treinamento deu-se com uma gravidez inesperada, sendo que a partir de então ela abriu mão de muitos dos planos que fizera, para assumir sozinha a criação daquele filho. Recusou veementemente o rótulo de "mãe-solteira", declarando de peito aberto: Sou mãe! Assumiu essa maternidade com responsabilidade e maturidade de mulher feita. Lembro-me claramente do dia em que o Rafa nasceu: Tocaram a campainha naquele 30 de janeiro de 1987, quando abri a porta, lá estava ela, com o líquido amniótico escorrendo pernas abaixo, dizendo: - Chegou a hora, leve-me para a maternidade! Estive presente naquele momento de alegria e promessas de vida nova. Fui agraciada com o convite para ser madrinha do seu filhote, a quem muito amamos e de quem muito nos orgulhamos pela honradez e caráter que possui.

Por volta dos 35 anos, ela foi obrigada a suportar mais uma carga no seu treinamento emocional. Um câncer de mama - que ela jamais aceitou ser denominado de "aquela doença" - de um tipo muito agressivo manifestou-se para nosso medo e preocupação. Ela também teve essas sensações, contudo, naquele momento, segurou a barra e não se permitiu demonstrar fragilidade. Assim, com toda força e coragem eu a vi entrar para a sala de cirurgia; eu ouvi sua voz, logo após o resultado da biópsia, dizendo-me que o tumor era maligno; eu a vi enfrentar as sessões de quimioterapia e radioterapia sem reclamações ou lamúrias, recusando as licenças médicas a que tinha direito. Senti-me agraciada, desta vez, por servir de apoio naqueles momentos de sofrimento e luta, acompanhado todo o processo de recuperação, que, principalmente por sua fé, tornou a cura uma realidade.

Fazia pouco tempo de recuperação daquela cirurgia, quando outro problema de saúde veio nos preocupar novamente, Agora era o útero. Por causa do desejo de ser mãe mais uma vez, ela protelara a retirada de um mioma, que com o uso dos medicamentos para tratamento da doença anterior, aumentara consideravelmente, não restando outra opção que não fosse a histerectomia. Enquanto outras mulheres da sua faixa etária e nas mesmas condições se  desesperariam ante a possibilidade de uma cirurgia daquela natureza, esta mulher abusava da sua força, dizendo à médica responsável: - Tira tudo o que for necessário; não quero problemas futuros. Resumo: Como os ovários haviam sido afetados, entraram também no “pacote” cirúrgico. Mais uma vez eu estava ao seu lado, presenciando seu crescimento e aceitação das cargas que Deus colocava em seus ombros, as quais ela suportava com louvor.

Esta mulher cresceu muito em virtude e coragem, e eu a vi agigantar-se mais ainda quando precisou lutar por aquele que seria seu parceiro no amor e na vida. Junto com a conquista, veio a realização do sonho do matrimônio numa linda e emocionante cerimônia. Adivinha quem estava lá de madrinha? Euzinha, claro! Feliz da vida por estar fazendo parte daquele momento de felicidade e de mais uma de suas vitórias.
Todas essas circunstâncias vividas e vencidas, a credenciaram para que estivesse também à meu lado em momentos muito difíceis. Se quando ela nasceu eu a carreguei nos braços, em várias ocasiões ela carregou-me no colo, cedendo seu ombro amigo para que eu chorasse, consolando-me. O mais recente deles e que muito me marcou foi o triste dia em que, num corredor frio de hospital ouvimos, apreensivas, a notícia de que papai já não fazia mais parte deste mundo. Choramos juntas, nos amparamos e como boas filhas da "véia" Rita, nos erguemos e fomos tomar as providências necessárias àquela ocasião.

O que esperar mais em termos de crescimento e força desta mulher-tora? Isto só a vida poderá nos responder. Sei apenas que estarei sempre perto, como irmã, como amiga, sentindo minha admiração aumentar toda vez que a vejo superando limites, colecionado medalhas nas maratonas da vida e nas provas de atletismo. Sim, a criatura resolveu ser abusada ao extremo! Agora é mestra na arte de superar obstáculos que desafiam sua capacidade física, fazendo uso de um emocional ultrarresistente. Ah, e para não fugir do perfil da mulher-tora cultuado pela maioria, a dita cuja ainda exibe um belo par de pernas e glúteos invejáveis! Ta bom ou quer mais?

"Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho, sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida...." (Milton Nascimento em Maria Maria)

“Nós, mulheres, nascemos para tecer fios de seda, mas quando é preciso, tecemos fios de aço”. (Iris Araújo – Deputada Federal por Goiás)