segunda-feira, 29 de agosto de 2011

É BELO!


Na minha adolescência,  ainda sem muita intimidade com o sexo oposto, encasquetei que me casaria com um homem da raça negra. Papai era extremamente racista e quando o apresentei àquele que seria meu marido por 20 anos, o dito cujo entrou pela porta da frente e meu genitor saiu pelos fundos, quase sem o cumprimentar. No decorrer dos anos, tornaram-se carne e unha e por ironia, ele foi o genro preferido até a morte de papai,  aos 75 anos. 

Os argumento do qual sempre me servi para justificar tal  preferência, é que lá pelos anos 80,   bronzeamento era quase obrigação e eu  acabava sofrendo queimaduras de segundo grau,  por exagerada exposição ao sol, na tentativa absurda de ter a cor da pele ditada pela moda, sem levar em conta minha brancura.   A partir daí,  profetizei que me casaria com um negro. Assim,  meus filhos teriam uma cor mais abrasileirada e não ouviriam os mesmos comentários que tanto incomodavam, do tipo: você está muito branca! (hoje, amadurecida, descobri que não "estou"; "sou" branca!). 

Apurei o gosto pela cor negra de tal forma, que na Copa do Mundo de Futebol em 2010, torci fervorosamente para a Seleção da Costa do Marfim, encantada com seus atletas negros de corpos esculturais,  querendo tê-los ao alcance da visão o maior tempo possível. Em se tratando dos relacionamentos amorosos, confesso, envergonhada, ser racista com os brancos. E não pense que eu tenha me esquivado de algumas fracassadas tentativas! Diante dos fatos, sinceramente,  começo a duvidar  do argumento  sempre utilizado para livrar minha cara, sem assumir essa preferência quase patológica. Não seria melhor admitir que o negro me encanta pelo seu físico, pelo cheiro, pelo "tempero" etc, etc,  e não por um trauma adquirido em tenra mocidade? 

Esta manhã, escancarei-me,  ao falar com um amigo pela rede social, quando ele me interpelou:
- Linda, navegando na rede em busca de um  deus grego?
Respondi imediatamente:
- Querido, não poderia ser um deus negro?