sexta-feira, 24 de abril de 2009

TARJAS E RÓTULOS

Sempre fui afeita à novidades. Por ter essa característica é que continuamente passo na farmácia da esquina para conferir os lançamentos. Claro que você já deve estar fazendo uma ideia precipitada, taxando-me de hipocondríaca. Calma! Farmácia não vende só medicamentos. As prateleiras dos cosméticos é que me fascinam.

Por outro lado, você não deixa de ter razão. Sou também catedrática no assunto, quando se trata de remédios. Experimentei todas as cores de tarjas, nos momentos necessários e sempre bem assistida pelos especialistas competentes, claro! Mas já estou livre das muletas. Hoje caminho com as próprias pernas. A “carreirinha” matinal que levo alguns minutos para engolir, constitui-se, na maioria, daquelas cápsulas milagrosas que nos mantém mais ativos e jovens. Medicina preventiva pura!

Falando em especialistas, houve um tempo em que me tornei manual de consulta para quem procurava um. Tanto na área médica, quanto de outras terapias. Comecei utilizando a ortomolecular e mais recentemente adotei a acupuntura. Diga-se, foi um achado! Em se tratando de atividade física então, sou doutora no assunto. Fiz jazz, aeróbica, hidroginástica, musculação, caminhada, corrida e ando à procura de uma academia para a prática do pilates. E acredite, não é vaidade em excesso. Meu intuito é poder caminhar à passos largos e rápidos quando atingir a melhor idade.

Quando era adolescente, me sentia linda ao acordar. À cerca de vinte anos, percebi que o inchaço das pálpebras e algumas marcas que se formavam no rosto e corpo enquanto eu dormia levavam horas para serem “exorcizadas” deste corpinho que não devia lhes pertencer. Não devia! Fui vencida pelo fator tempo. Confesso que entrei em pânico e a palavra “rugas” instalou-se no meu cotidiano, assim como, a panaceia da indústria cosmecêutica, mais basicamente representada pelos cremes anti-idade. Com o passar dos anos, notei que eles ajudavam a manter uma pele mais jovem, mas o tempo é impiedosamente inexorável. Como ainda não inventaram o elixir da juventude e a ginástica não infla os peitos nem anula os efeitos da gravidade, sou forçada a apelar ao bisturi. Sim caro leitor, serei drástica! Cansei dos paliativos, tipo “cremezinhos com dmae” e sutiãs com “bojos-bolha”.

Como a receita para se ter um corpo jovem depende muito do espírito e cérebro na mesma condição, procuro exercitá-los o máximo que puder. Uma das formas que utilizo, é buscar a harmonia interior, procurando desenvolver na mesma proporção meu lado material e espiritual, o que me dá condições de empreender um voo seguro e equilibrado em direção ao infinito. Outra forma é este mecanismo, que uso diariamente. Quando escrevo, além de proporcionar uma ginástica cerebral, contribuo para a economia do meu orçamento mensal, pois fujo das sessões de psicoterapia que faria caso não colocasse pra fora, neste espaço, “os bichos” que assustam, causam medo e preocupação. E creio que você já sabe: Preocupação envelhece!

É um manual para quem busca beleza e juventude a qualquer custo? Bem, cada um edita o seu. Eu cultivo aquilo que venha me satisfazer, realizar e conduzir a uma vida mais feliz. E você tem direito de colocar o rótulo que desejar.

"Tudo é uma questão de manter
A mente quieta
A espinha ereta
E o coração tranquilo".
(Coração Tranquilo de Walter Franco)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

SERIA AMOR?

Que sentimento há no querer estar junto
No estar sempre disposta ao ato
Em conseguir dar tão fino trato?

Que sentimento há no abraçar com tanto gosto
Em sentir sempre tanto desejo
No estremecer com o longo beijo?

Que sentimento há na emoção que não se finda
No vazio que sempre invade
Em padecer com a tal saudade?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"AMADURECÊNCIA"

Quando se deu conta, desejou que o chão se abrisse numa vala profunda, ali se atirar, e que de lá demorasse a sair. Toda certeza de que era passado esvaiu-se no momento em que ela narrou ter alcançado o pássaro do qual corria atrás há muito. E a ferida que pensara cicatrizada, sangrou, doeu, naquele coração de menino teimoso que insiste em querer ter a lua, quando somente seu brilho lhe é permitido.
- Por que sonhas tanto criança? Por que se arrisca na imensidão do céu se tens terra firme a teus pés? Por que atirar-se ao mar, se o porto onde ancoras foi tua segurança nos episódios de tormenta?
- Ah, quem é você para falar-me de realidade? Comete a loucura de ter vários sonhos ao mesmo tempo. Caso um não se realize, atira-se noutro, e assim foge das asperezas do cotidiano!
- Achas-me insana? Talvez. Contudo, na pureza do meu coração, penso estar correndo atrás da bolinha de gude que irá preencher o espaço daquela que perdi no jogo de ontem. Quanto a ti, acaso sua coleção não estará completa, jogador-mirim? Necessitas do brilho falso do vidro quando tens um verdadeiro diamante em seu cofre?
Ternura no olhar, mesmo querendo mostrar uma fisionomia carrancuda. Há uma confusão de sentimentos permeando as atitudes do menino que se descobre homem. Talvez por ter uma criança muito latente no interior, o perdão se instala rapidamente no lugar da mágua que tenta penetrar. Que bom que o menino existe! Melhor ainda quando consegue, diante dos questionamentos da vida, usar de tão pura emoção, contrapondo com tão sábia razão.
- Cresceu e não se deu conta, "pequeno-grande-homem"?

P.s. O título foi dado pelo meu filho de 16 anos. Como a palavra não faz parte do nosso dicionário, fui reticente e não aceitei a princípio. Mas ele argumentou que, na vida, é preciso ter uma pitada de loucura para criar coisas novas. Convenceu-me.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

SEM MEDO

Venha com leveza ao meu encontro
Nas mãos traga uma rosa, apenas.
Fale de coisas amenas, que alegrem-me
Como da calma chuva que caiu na tarde
E de como enxergou-me numa estrela, sem nuvens.

Tenha serenidade quando chegar
Nos olhos transmita saudades, apenas.
Conte os momentos vividos, que inspirem-me
Como do beijo dado pelo casal, na praça
E de como povoei seus sonhos, sem censura.

Esteja inteiro quando vier
Na vida tenha um cantinho livre, apenas.
Revele a dureza da ausência, que enterneça-me
Como da lágrima ao ver um filme de amor
E de como desejou transportar-se até mim, sem receios.

Seja só meu quando lhe abraçar
Na memória o que foi bom, apenas.
Seja sincero quando falar de nós dois
No coração ternura e carinho, apenas.
Seja criança aconchegando-se em meu colo
E para ser feliz, encha-se de coragem, apenas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

RESSURREIÇÃO

Surgiste por trás do véu de mistério
Chegaste com a brisa da clara manhã
Não falaste do tempo, da ausência, da morte
Apenas surgiste, como por encanto, sereno.

Sorriste buscando em meu rosto a alegria
Tocaste-me na alma e coração sofridos
Não perguntaste do pranto, da dor, da saudade
Apenas sorriste, como por milagre, supremo.

No teu olhar, nada além do amor maior
No corpo, um sopro de vida trazendo.

Eu que o julgava findo em minha existência
Encantada o vi, num sublime momento, renascendo.

"...Eu sei que Ele um dia vai voltar
E nos mesmos campos procurar o que plantou.
E colher o que de bom nasceu
Chorar pela semente que morreu sem florescer.
Mas ainda há tempo de plantar
Fazer dentro de si a flor do bem crescer
Pra Lhe entregar
Quando Ele aqui chegar..."
(O Homem de Roberto e Erasmo)

sábado, 4 de abril de 2009

TRANSGRESSÕES


Quando criança gostava de jogar bola. Soltar pipa então! Melhor que soltá-las era confeccioná-las, usando papel de jornal e "grude" fabricado com polvilho doce que pegava nas latas, escondido de mamãe. Bolas de gude eram meu sonho. Tinha aquela coleção de fazer inveja aos meninos, que disputavam comigo a posse delas no jogo de igual por igual.

Aos sete anos, vindo de família católica, deveria fazer primeira comunhão, como fizeram meus irmãos mais velhos. Deveria! Fui concretizar o sonho de minha mãe e meu padrinho de batismo aos dezessete. Isso porque ele sofria de doença cardíaca grave e eu ficaria de consciência pesada caso ele partisse para o andar de cima sem cumprir o ato que dizia ser "sua missão". Não me senti diferente depois da primeira, por isso não houve segunda. Optei pela Doutrina Espírita quase duas décadas mais tarde.

E foi também na fase da adolescência que decidi manter-me virgem até que um homem merecesse que eu me entregasse a ele, enquanto minhas duas irmãs mais velhas engravidaram solteiras. Meu príncipe encantado só materializou-se nos meus vinte anos e nos casamos quatro anos depois. Optamos por ficar sem filhos mais quatro, depois tivemos um casal com dois anos e nove meses de diferença.

Após quinze anos de casada, sentia-me frustrada por ter conhecido somente um príncipe. Aventurei-me por caminhos ilusórios e descobri que existiam tantos sapos no mundo! Quando tentei recuperar meu encantado, ele disse não e foi reinar noutras províncias.

Desencanto foi e prossegui meu caminho, fazendo experiências. Minha psicoterapeuta aconselhou que eu fosse mais flexível. Namorei meninos de dezoito, à senhores quarentões. Confesso que a juventude atrai, mas a maturidade dá segurança, então tive dificuldade em estabilizar e encontrar novamente meu lugar no mundo. Entrou a psicoterapeuta outra vez no "lance" e disse: "Nem tanta sobriedade, nem tanta embriaguês. Encontre um meio termo". Depois desse aconselhamento segui adiante, equilibrando-me na corda bamba da vida, correndo de um extremo ao outro, sem discriminar ou fazer acepção, tirando o melhor, com responsabilidade,  respeito por mim e pelos outros.

Aos quarenta e sete aninhos (quase quarenta e oito! Papai!), dois filhos adolescentes, ainda me atrevo a sentir paixão, tesão, e achar que posso! Negro, evangélico convicto, dezessete anos mais novo! Caso ou não caso?

De vez em quando, alguém se aproxima de mim falando sobre "quebra de paradigmas", sobre "quebrar a casca e ir à luta", ou "sair do comodismo". Mais?

"E por isso eu prossigo e quero
E grito no ouvido dessa tal de dona moral
Que uma mulher pode nunca é deixar
De ser, fazer e acontecer". (Gonzaguinha)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

IMAGINÁRIO

É um amor menino...
Brinca de conquistar, finge se esconder , luta para ganhar.
No faz de conta não sofre, não perde, apenas sonha.

É um amor poeta...
Revela-se em palavras, entrega-se nas rimas, sussurra nos devaneios.
Nesse universo não cria vínculos, não chora, apenas delira.

É um amor para sempre...
Por ser ilusório é menino
Por ser fantasioso é poético
O menino nunca morre
A poesia é eterna.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

ESTAÇÃO ESPERANÇA.


Hoje acordei com gerâneos floridos no meu jardim.
Fui paciente na rega, na poda, na espera pelo broto e quando me dei conta, as flores lá estavam , lindas, coloridas, a alegrarem meu dia.

De repente me dou conta de como minha vida assemelha-se às delas. Mas não sou tão compassiva. Ainda sofro muito com as cortes que a vida me faz diariamente. Às vezes quando menos espero, sou surpreendida por chuvas torenciais de verão que chegam a assustar-me. Noutras, me exaspero quando o novo demora a chegar.

Bom seria se minhas pequenas plantas não necessitassem sofrer cortes para crescer e produzir. Assim como eu também poderia atingir a evolução sem necessidade de ser podada tantas vezes. Porém, como as plantas, acabo crescendo de forma desordenada. Continuamente ignoro o direcionamento da luz, originando galhos mirrados e improdutivos. Nesse momento, a sabedoria Divina entra corrigindo meu curso, mostrando através do sofrimento, o caminho certo a seguir .

Mas o que importa hoje, é que os gerâneos floresceram. E foram cultivados por mim em parceria com a natureza. O Espetáculo é fruto da minha paciência e da sua sabedoria.
A mesma natureza que me acorda para mais um dia, com sensibilidade para enxergar e comemorar o milagre da vida.

Vê, estão voltando as flores
Vê, nessa manhã tão linda
Vê, como é bonita a vida
Vê, há esperança ainda
(Paulo Soledade, interpretada por Simone)