domingo, 29 de novembro de 2009

DESENCONTROS

A vida não cansa de nos pregar peças. Em cada esquina, em cada encruzilhada há uma decisão a ser tomada em relação a que rumo seguir. Muitas vezes a caminhada segue tranquila e de repente lá está ela, a temida dúvida,  a nos encarar de frente,  colocando em cheque a capacidade de escolha do ser humano.

Nas questões de afetividade, as escolhas ocorrem cotidianamente e alguns acontecimentos que as precipitam são até curiosos. São comuns os encontros no momento errado com a pessoa certa. Muitas vezes traçamos planos para nossa vida afetiva, crentes  que a realidade permanecerá a mesma e de repente acontece a surpresa que nos obriga a mudar de planos ou abdicar de alguém que há muito desejávamos conhecer,  mas que só nos deu a chance de concretizar o encontro,  na hora exata em que não cabe nesses planos.

Já ouvi frases do tipo: "Onde você estava há 10 anos atrás"?, ou "se eu não fosse casado, você seria a pessoa ideal como parceira de vida",  ou ainda "Não posso lhe fazer promessas porque no próximo carnaval irei para Salvador com um grupo de amigos e isso será problema caso estejamos namorando" (!!!).  Por várias vezes cheguei atrasada à estação, quando não havia mais bilhetes e o trem partiu sob meu olhar melancólico, como de uma criança que vê sua pipa tão desejada,  confeccionada com esmero, ter sua linha "torada",  se perdendo no ar, sem que  nada pudesse fazer. E com aquele nó apertando o peito, na certeza que alguém observava  seu percurso e se apossaria dela, assim que tocasse qualquer superfície alcançável.

Sei que também fui motivos de desencantos na vida de muitos que desejaram-me por companheira em momentos inoportunos e impossíveis, mas nem por isso me consolo. Não senti suas dores, suas perdas. Talvez consigam digerir melhor esse bolo. Numa  conclusão preliminar, penso que a procura pelo amor esbarra-se num senhor implacável denominado destino,  que traça nossos rumos sem que tenhamos chance de  determinar o momento ideal de um encontro. Por outro lado, quando ele abre a guarda e permite escolhas, construímos uma barreira com base no  egoísmo -  que em tempos modernos se dirfarça sob a alcunha leve da "individualidade". Ao permitir que o "eu" assuma maior importância que o "nós", caminhamos para uma realidade onde os relacionamentos casuais assumem uma proporção assustadora em contraste com seres humanos cada dia mais carentes e solitários. Esses indivíduos que se procuram, na maioria das vezes, encontran-se  frente-a-frente, todavia não se enxergam.                                                                                                                                                                    Será que poderei concluir,  seguramente,  que o poder de escolha não passa de um engodo do destino que já tem escrito o enredo de nossas vidas e funciona  como um cruel manipulador, onde somos apenas  meros atores que seguem fielmente a sinopse pré-definida?

"Jogue suas mãos para o céu
E agradeça se acaso tiver
Alguém que você gostaria que
Estivesse sempre com você
Na rua, na chuva, na fazenda
Ou numa casinha de sapê..." ( Kid Abelha em Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda)

domingo, 22 de novembro de 2009

INCOERÊNCIA

O sorriso existe,  eu sei.
Está guardado na imensidão de alegria, própria de mim...
Própria dos artistas, dos sensíveis que ousam sonhar.
Dele ainda vou distribuir por aí.
A voz está presente,  é certo.
Mesmo que camuflada na tristeza, própria de mim...
Própria dos poetas, dos loucos que ousam delirar.
Dela ainda se ouvirá por aí.
A amor será futuro, acredito.
Está germinando numa fenda de coragem, própria de mim...
Própria dos corações impulsivos, dos que se arriscam tentar.
Dele ainda serei íntima por aí.

O corpo pulsa por sentimentos rudes.
A alma trêmula reclama sentimentos nobres
Corpo e alma,
Coragem, coração...
Incoerência de sensações.

domingo, 15 de novembro de 2009

SEM FALA... MAS NEM TANTO!



Sinto muito mas não vou medir palavras
Não se assuste com  as verdades que eu disser..."

Estou puta da vida!
São tantas as palavras flutuantes no cérebro, que chegam a congestionar a verbalização. É um daqueles momentos em que sinto, de verdade, melhor manter a boca fechada porque corro o risco de dizer coisas que podem magoar... Sinto, mas não obedeço.

-Cacete, porque insisto em repetir erros na vida afetiva?
-Qual a finalidade de embarcar em relacionamentos em que o outro não tem a mesma sensibilidade, respeito e confiabilidade? (ou seja, "não quer nada com nada"!)
-Estarei "descerebrada"? (pouco provável, pois penso aceleradamente!), levando em conta que pareço esquecer as promessas feitas a cada vez que quebro a cara?
-E por que não atendi à minha intuição que dizia: "É barca furada"! "Não entra nessa"! "Filhinha, preste atenção no que quer da vida"!
-Maldita intuição! Meleca de intuição que sempre acerta!

Ufaaaa! Falar faz bem sabia? É como se eu vomitasse aquele bolo que insiste em causar náuseas provocando um profundo mal estar. À medida que vou "desfiando o rosário de mágoas" (vixe, esta é antiga!), meu interior vai se acalmando e vou encontrando meu eixo novamente.
Mas por outro lado, não quero falar muito. Não quero concluir, não quero finalizar. Sei que amanhã tudo pode mudar! Não quero mais fazer promessas que não venha cumprir, usando de filosofia barata extraída de algum artigo de revista feminina. A minha filosofia é que deve prevalecer. E  hoje só tenho uma definição para a realidade afetiva vivida: ME-LE-CA!!!



E como estou para pouca conversa, deixo que Erasmo Carlos fale por mim, através da letra genial que  escreveu e que Simone interpreta, como sempre, lindamente.

"...Quem não percebeu a dor do meu silêncio
Não conhece o coração de uma mulher..."

"Eu não quero mais ser da sua vida
Nem um pouco do muito de um prazer ao seu dispor
Quero ser feliz, não quero migalhas do seu amor..."
"Quem começa um caminho pelo fim
Perde a glória e do aplauso na chegada
Como pode alguém querer cuidar de mim
Se de afeto esse alguém não entende nada..."

"Não foi esse o mundo que você me prometeu
Que mundo mais sem graça, mais confuso do que o meu
Não adianta nem tentar maquiar antigas falhas
Se tudo que você tem pra me aferecer são migalhas..."

terça-feira, 10 de novembro de 2009

MODESTAMENTE

Provando pequena dose da minha alegria, aprenderás a sorrir sempre
Assimilando a leveza da minha alma, levitarás com os pés no chão
Mergulhando na essência do meu ser, respirarás o amor mais puro
Descobrindo a luz do meu interior, refletirás grande paz de espírito
Ocultando minha beleza exterior, verás formosura no coração
Conhecendo a magia dos meus sonhos, despertarás feliz para a vida
Caminhando um minuto à meu lado, desejarás uma estrada infinita.

A vida é arte
O amor é escolha
Viver é parte.

"Eu quero ser onde você sossega a alma
Que chora e ri e encontra a calma pra sonhar,  sem dormir
Vem acender as luzes que iluminam o meu coração
Vem ter comigo sua parte da amplidão
De minha parte eu estou aqui.
(Elba Ramalho em Amplidão)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

ACIDENTAL

Se a vida nos conduz por caminhos contrários
Se ela nos afasta por motivos vários
Quem sabe um dia causemos uma colisão
Na contramão, num ato de teimosia, obedecendo ao coração?

domingo, 1 de novembro de 2009

FICÇÃO

Quando dei por mim, já tinhas ido.
Como água que segue seu curso
Como flor murcha que deixa o caule
Como a primavera que dá lugar ao verão.

Quando dei por mim, já eras passado.
Como a lembraça do toque de mãos
Como o beijo do minuto vivido
Como a sensação do encontro não repetido.

Quando dei por mim, percebi que não foste real
Naceste da minha imaginação, dos delírios, das loucuras.
Tiraste somente o pior de mim
Ignoraste minhas virtudes, as belezas da alma.
E do meu amor, que sabes?
Nada.
Desconheces tua capacidade de amar
De se entregar
De dar amor
De receber amor.
Soubeste onde e como me encontrar
Foste íntimo da minha boca, do meu corpo
Mas ignororaste o caminho que levaria-te ao meu coração.

Por tudo isso, quando dei por mim
Já tinhas ido
Já eras passado
Percebi que não foste real.

"Apenas na poesia
Convivem linearmente
O beijo, a entrega e a agonia." (Evelyne Furtado)