sábado, 17 de julho de 2010

CÁRCERES MENTAIS

Somos acomodados dentro de uma rotina, em nosso aconchego, em razão  das verdadeiras maravilhas que a tecnologia avançada nos proporciona. São tantos os atrativos dentro das nossas casas, que, via de regra, não nos damos o luxo de desfrutar do jardim. Na linguagem da filosofia, "casa" significa o nosso interior, ou seja, o "habitat" da nossa alma ou espírito, como você preferir.

Se não observamos o jardim, tão íntimo e próximo ao nosso convívio, o que dizer do que existe além dos muros? O que vamos conseguir visualizar, caso espreitemos um olhar através das muralhas erguidas pelo egoísmo, pela falta de tempo ou por estarmos confortavelmente instalados em nosso  lugar seguro?

Muitos de nós, quando nos apossamos da nossa individualidade, passamos a construir muralhas que nos separam da realidade. Nos isolamos em grupos, em turmas, em guetos,  e passamos a viver como se os outros não existissem. Os outros não fazem parte; não podem comungar dos mesmos gostos, nas mesmas ideias. Enfim, eles não se encaixam!  O que  não prevemos,  comumente,  é que ao nos enebriarmos tanto na  convivência desses agradáveis redutos, esquecemos onde fica o portão de saída e muitos de nós perdem a chave que abriria a fechadura. Quando nos damos conta, vivemos em reclusão, ignorando as paisagens que existem além dos muros. Desconhecemos os sons que vêm de fora, pois a gostosa algazarra daquele grupo tão animado impedem que eles nos cheguem  aos  ouvidos. E depois de algum tempo em agradável clausura, o medo também poderá nos assaltar, fazendo com que nos tranquemos, inconscientemente, temendo o que poderá haver lá fora. Começamos a ter medo dos desafios, de encarar o novo, de aceitar mudanças.

Um belo dia, talvez numa manhã de primavera, num depertar repentino de consciência, num relance de curiosidade, abriremos a janela da casa. Uma suave brisa soprará nosso rosto, o que trará um desejo de sair, ver o sol. Ao realizá-lo, notaremos que a paisagem do jardim  é belíssima! Os olhos, acostumados à luz artificial,  estranharão tanta cor e claridade! Como o ar é puro e até pássaros cantam!  De repente perceberemos que mais além haverá uma árvore coberta de flores, cuja tonalidade nos encantará! Teremos o desejo de colher algumas para enfeitar  e alegrar a vida  dos nossos amores, mas ao nos aproximarmos, notaremos que ela estará do lado de fora. Onde estarão as chaves do portão para que  possamos realizar nosso intento? Não  as encontraremos!  Porém,  haverá uma  possibilidade... arriscada talvez...Poderemos pular o muro! Se coragem tivermos, claro,  porque depois de tanto tempo reclusos em nosso mundinho particular... teremos força suficiente para empreender a escalada?

As respostas para tais questionamentos surgirão, dependendo da intensidade dos nossos desejos e qualidade dos nossos pensamentos. Não haverá obstáculos quando tomarmos consciência da grandeza e  força oriundas daquela Fagulha Divina que é nosso princípio. Saltaremos muros, muralhas, subiremos montanhas, com fôlego de criança e sabedoria de ancião. À partir daí, um mundo novo se descortinará, contudo, a importância do particular não será diminuída , pelo contrário, ela se tornará mais ampla, pois lá fora encontraremos pessoas ávidas por nossa companhia. Faremos chaves do portão e as portas da casa também se abrirão para outros frequentadores, a diversidade se fará presente no  prazer e alegria de novas descobertas, da troca de experiências necessárias no processo contínuo de crescimento,  na construção da felicidade e na conquista de uma liberdade verdadeira. Então colheremos flores de várias espécies e cores, que, além dar alegria a outro, renovarão, sobremaneira, o desejo de nunca mais fecharmos  as passagens por onde entrará  a vida.

"Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro." ( Virginia Woolf )

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