quarta-feira, 25 de março de 2009

DE MÃOS DADAS


O que encantou-me primeiro na vida, cantar ou escrever?
É uma pergunta sem resposta, como aquela da origem do ovo e da galinha.
Minha amada mãe (já no andar de cima) contava que eu me exibia aos parentes e vizinhos, cantando hinos religiosos, quando ainda não sabia pronunciar as palavras corretamente. Com certeza, naquele tempo não escrevia, pelo simples fato de não dominar a escrita (se é que hoje domino). Mas tinha iniciativa e coragem. Era o início de tudo.

Claro que tive meu caderninho de poesias na adolescência! Amava Cassimiro de Abreu, com sua poesia ingênua. Nele relatava também, em linguagem simples, as aventuras e desventuras de uma garota de classe baixa, quase sem cultura e muitos sonhos. E como sonhava! Com o príncipe encantado, com uma casa, filhos...com o amor.

Naquela época, eu não tinha noção da qualidade dos meus escritos. Quando me refiro à qualidade, elimine gramática, por favor. Era péssima! O que eu tinha era inspiração. Essa era reconhecida por qualquer pessoa que lia o que eu redigia. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro emprego em escritório. Quando dava uma folguinha, eu me sentava à máquina de escrever e esquecia do tempo. Por ser muito exigente e perfeccionista, arrancava as folhas de papel da máquima , embolava e atirava-os no lixo, classificando o que escrevia de porcaria. Uma colega de trabalho muito querida recolhia e os guardava com todo carinho (doce Tânia!).

Naquele tempo, a música dormitava em meu interior. De repente ela despertou, através do grupo de jovens de uma comunidade católica. Cantávamos nas " velhas tardes de guitarras, flores e emoções", no coral da igreja, pelas ruas, nos ônibus coletivos, encontros religiosos e nas serenatas. Ah, serenatas! Pobre de quem não viveu essa experiência maravilhosa!
Mas assim como acontecia na escrita, não havia conhecimento nem formação e muito menos possibilidade de estudo, já que a situação financeira precária privava de todo gasto surpérfluo. A arte ficava em segundo plano. O que existia era vontade de fazer.

Casei-me. Por vinte anos. Durante esse tempo, optei pela dedicação exclusiva ao lar e os filhos. Esqueci todos os meus talentos. Virei lesma dentro do caramujo, onde o que mais importava era minha casa, minha família. Até o dia em que minha concha de quebrou. Foi o momento da redescoberta. De ir à luta outra vez.

Quando meu parceiro na música e grande amigo reapareceu, usei a seguinte frase: "A música vai me salvar". Da tristeza, da solidão, da depressão. E não deu outra. Resgatou-me , devolvendo-me parte da adolescência, da juventude, do desejo de sobreviver. De mãos dadas com ela, veio a poesia, a inspiração, a coragem de revelar meus sentimentos. Enfim, ressuscitei. Ganhei novo fôlego. Reencontrei-me. Pra sempre! Se Deus quiser? Ele vai querer!

"Eu canto, porque o momento existe e a minha vida é completa
não sou alegre nem sou triste, sou poeta"
(Cecília Meireles, interpretada por Fagner).

2 comentários:

  1. Um poeta disse que se a virtude estivesse no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. Tudo que não ilumina serve de pretexto para o “nada”, para o “acabou e pronto”. Aos pobres de espírito àquela paciência inerte do deixa estar. A preferência pela derrota à duvida da vitória. Aos vencedores, a coragem inspirada nas “velhas tardes de guitarras, flores e emoções.” (Sem assinatura)

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  2. Maravilhoso anônimo! Com certeza és um poeta!
    Abraço grande e obrigada pelo carinho.

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