sábado, 4 de abril de 2009

TRANSGRESSÕES


Quando criança gostava de jogar bola. Soltar pipa então! Melhor que soltá-las era confeccioná-las, usando papel de jornal e "grude" fabricado com polvilho doce que pegava nas latas, escondido de mamãe. Bolas de gude eram meu sonho. Tinha aquela coleção de fazer inveja aos meninos, que disputavam comigo a posse delas no jogo de igual por igual.

Aos sete anos, vindo de família católica, deveria fazer primeira comunhão, como fizeram meus irmãos mais velhos. Deveria! Fui concretizar o sonho de minha mãe e meu padrinho de batismo aos dezessete. Isso porque ele sofria de doença cardíaca grave e eu ficaria de consciência pesada caso ele partisse para o andar de cima sem cumprir o ato que dizia ser "sua missão". Não me senti diferente depois da primeira, por isso não houve segunda. Optei pela Doutrina Espírita quase duas décadas mais tarde.

E foi também na fase da adolescência que decidi manter-me virgem até que um homem merecesse que eu me entregasse a ele, enquanto minhas duas irmãs mais velhas engravidaram solteiras. Meu príncipe encantado só materializou-se nos meus vinte anos e nos casamos quatro anos depois. Optamos por ficar sem filhos mais quatro, depois tivemos um casal com dois anos e nove meses de diferença.

Após quinze anos de casada, sentia-me frustrada por ter conhecido somente um príncipe. Aventurei-me por caminhos ilusórios e descobri que existiam tantos sapos no mundo! Quando tentei recuperar meu encantado, ele disse não e foi reinar noutras províncias.

Desencanto foi e prossegui meu caminho, fazendo experiências. Minha psicoterapeuta aconselhou que eu fosse mais flexível. Namorei meninos de dezoito, à senhores quarentões. Confesso que a juventude atrai, mas a maturidade dá segurança, então tive dificuldade em estabilizar e encontrar novamente meu lugar no mundo. Entrou a psicoterapeuta outra vez no "lance" e disse: "Nem tanta sobriedade, nem tanta embriaguês. Encontre um meio termo". Depois desse aconselhamento segui adiante, equilibrando-me na corda bamba da vida, correndo de um extremo ao outro, sem discriminar ou fazer acepção, tirando o melhor, com responsabilidade,  respeito por mim e pelos outros.

Aos quarenta e sete aninhos (quase quarenta e oito! Papai!), dois filhos adolescentes, ainda me atrevo a sentir paixão, tesão, e achar que posso! Negro, evangélico convicto, dezessete anos mais novo! Caso ou não caso?

De vez em quando, alguém se aproxima de mim falando sobre "quebra de paradigmas", sobre "quebrar a casca e ir à luta", ou "sair do comodismo". Mais?

"E por isso eu prossigo e quero
E grito no ouvido dessa tal de dona moral
Que uma mulher pode nunca é deixar
De ser, fazer e acontecer". (Gonzaguinha)

3 comentários:

  1. Boa noite amiga querida! Bom domingo!
    Compartilhei com vc parte dessa juventude, sua paixão pelo príncipe e tudo foi lindo. Até nossas brincadeiras com bolinhas de gude... eu adorava e também colecionava. Naquele tempo tudo era encanto e poesia. E vc soube colocar tão bem tudo isso... agora tudo mudou e sei que vc está novamente reconquistando seu espaço. Seja feliz minha amiga. É tudo que importa.
    Bjos e um forte abraço, sempre!
    Divina

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  2. Esqueceu-se de falar que hoje a irmã mais nova, que engravidou solteira, trocou de papéis com você. Encontrou seu príncipe depois de beijar muitos sapos. rsrsrsrs
    Bjos mana

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  3. Ah pois num é mana? Com certeza faltaram-me os sapos na vida. Quem sabe ter passado pelas experiências que você teve oportunidade de viver. Mas mesmo que tardiamente, tenha a certeza, tenho quebrado muito a cara! Só não dá pra ficar grávida porque a fábrica já fechou. Rsrsrsrs

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