domingo, 10 de janeiro de 2010

REINCIDIR OU NÃO: EIS A QUESTÃO.

Tenho muita dificuldade em lidar com perdas. Falo das perdas emocionais. Se precisar de uma pessoa que aceite a morte com naturalidade (para muitas parece até frieza), recorra a mim. Mas não me peça para suportar com calma a separação em vida de alguém que amo. Sou uma lástima nesta questão.

Para se ter uma idéia,  a morte, propriamente dita, de minha mãe ocorreu quando ela se separou de meu pai e se mudou. Lembro-me da angústia vivida durante o dia de trabalho, imaginando que não mais a encontraria quando retornasse à noite para casa. Cinco anos mais tarde ela partiu deste mundo e eu reagi com relativa tranquilidade. Meu marido morreu (e eu quase literalmente) quando nos separamos. Curti uma pseudo viuvez que parecia infinita, até descobrir motivos para sorrir outra vez. Quando uma amiga muito querida se mudou para os Estados Unidos, chorei semanas a fio.

Pensei que o sofrimento pela separação me tornaria mais "casca grossa" quando fosse me relacionar novamente com outro homem. Mera ilusão! A cada novo caso onde ocorra ruptura, sinto uma tristeza que me rouba as energias. Sinto um desejo enorme de sair caminhando sem rumo até perder as forças e que alguém apareça milagrosamente, coloque-me no colo e cuide de mim.  Sempre que as pessoas presenciam meu sofrimento, saem com o seguinte conselho: "Não sofra por quem não te mereça!" Me diga quem consegue racionalizar num momento desses? Quando amamos, a pessoa escolhida é sempre perfeita!

E tem ainda um outro ponto interessante: Filhos, amigos, parentes de qualquer natureza não conseguem ocupar o vazio que a perda de um relacionamento provoca. É outra categoria de amor. Cobrar de alguém que amarga com a perda,  um comportamento equilibrado em relação aos entes queridos,  é empurrá-lo ainda mais para o fundo do poço, pois causa grande aflição  pensar que não conseguimos amar bem a quem deveríamos.

É claro que cada indivíduo reage à sua maneira. Mas conheço vários relatos de pessoas que se assemelham ao meu. Minha psicoterapeuta disse que esse comportamento, de certa forma doentio, pode ser comparado ao alcoolismo. Somos dependentes de todo afeto que cultivamos. Nas questões conjugais então é que a doença manifesta-se com toda força. Com relação ao álcool, quando nos tornamos dependentes,  sabemos ser necessário eliminá-lo definitivamente dos nossos hábitos. E em se tratando do amor, quem será capaz de evitar as recaídas?

"Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
A espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida." (Tom Jobim/Vinícius de Morais em Eu sei que vou te amar)

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