Cada dia que amanheço refaço minha mala.
Parto para mais um dia, consciente que num deles, farei aquela misteriosa viagem para fora deste planeta, para muitos, uma escola de almas. A vida é breve e o tempo que me é dado, quase nada significa se comparado à eternidade. Preciso circular com fluidez e dinamismo, aproveitando ao máximo as oportunidades que surgem.
Consequentemente, preciso estar leve.
Então, toda manhã, desfaço-me de tudo que seja supérfluo.
Não ocupo mala com sensações desagradáveis. Só carrego o que usei e me caiu bem, entretanto, não economizo em novidades, leves como plumas, sempre acompanhadas de muita alegria e grande curiosidade.
Recuso-me a transportar coisas que não irão servir a mim, nem aos outros.
Por isso, esvazio minha mala das mágoas que porventura senti, das lembranças que me fazem chorar, das culpas pelos erros cometidos. Se estou matriculada nesta escola é porque pouco sei, ou nada sei, como declarou um dia o célebre filósofo. Por outro lado, embora reconheça minha ignorância diante dos enigmas do universo, há em mim um princípio de sabedoria implantado. Nato. Não posso concluir esta jornada com a cabeça oca e mãos vazias.
Por conseguinte, a cada manhã faço escolhas, decidindo a qualidade do que levo comigo. Essas escolhas edificam meu conteúdo interior. É minha bagagem, que espero um dia, quando chegar a hora do enigmático embarque, estar leve o suficiente para não tê-la retida por excesso de peso.
Marleuza, lendo sua cronica sobre "aliviando a bagagem", pensei o quanto a ideia do eterno atormenta a todos. Retornei a minha juventude e recordei o quanto o inesperado, o inusitado, a aventura, a curiosidade, a insegurança, o vazio, tudo isso me facinava.
ResponderExcluirSempre muito cetico, por muitas vezes me perguntei o porque acumuar algo, nunca consegui fazer coleções nem de tampinhas.
Lendo sua crônica, percebo que ao fina sempre existe um grande vazio, por mais que preenchamos esse vazio com inumeras bugingangas ou lembranças de coisas que nem vivemos.
Melancolico? Tavez. Mas como disse o poetinha ao final é apenas você (eu) e "...por cima a lage embaixo a escuridão... é fogo irmão... é fogo irmão..."
Um abraço
João Antonio
a bagagem é importante, mas o melhor do que chegar é preparar para a viagem, e o caminho a ser percorrido e as possibilidades de viver novas coisas e novas descobertas. Sem o inusitado a vida tende a ser mera repetição da rotina muitas vezes inglória
ResponderExcluirADailton